FIM.

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Capítulo 131 – Lorena

flashback on:

—  trinta e sete, trinta e oito, trinta e nove... — ouço o Matheus contar de longe enquanto procuro um lugar pra me esconder.

Eu subo correndo a viela do lado da casa dos tios nanau e Daiane, despistando o Maurício e o Matheus, e vejo uma moça sentada na frente de casa embalando um bebezinho nos braços.

Paro de correr, olhando a mãe cantar baixinho pro neném e sorrir, passando a mão no rostinho dele.

— Oi — a moça diz quando me vê por perto — Tá aqui sozinha? — ela franze a testa.

— To me escondendo dos meus amigos, estamos brincando de pique-esconde — cheguei mais perto e vi o rostinho do neném, dormindo quietinho no colo da moça.

— Por que você parou? Aqui eles vão te achar, não vai não?

— Não sei, te vi aqui com o neném... — não soube explicar porquê parei, mas ela sorriu.

— Quer ser mãe quando crescer? — ela perguntou, ajeitando o neném quietinho no colo, e eu dei de ombros — quando eu era pequena, adorava ficar olhando as mães e os bebês...

— Acho que não...

— Você é muito novinha ainda, tem um tempão pra decidir, se não quiser, tudo bem...

— Eu não ia saber cuidar... Meu pai sempre diz que cuidar de criança é difícil e eu não tenho mãe pra me ensinar.

— Sinto muito... Mas não fica triste por isso não, quando você for uma mulher, vai entender que alguns ciclos a gente tem que quebrar. Se você quiser ser uma boa mãe um dia, você vai ser, independente de quem errou antes de você — ela disse séria e eu concordei com a cabeça.

— Esse neném é seu?

— Sim — ela respondeu e olhou pro neném — eu também não tinha certeza se seria uma boa mãe antes, mas depois que nasce é diferente...

Eu tentei me aproximar deles e perguntar se era menino ou menino, mas senti uma mão no meu braço.

— Te peguei — Matheus me assustou e virei meu rosto pra ele — Por que não se escondeu? — me olhou sem entender.

— Parei pra conversar com a moça — apontei pra ela e ele sorriu.

— Oi, Sulamita.

— Tudo bem, Matheus? — ela perguntou e ele concordou — Diz pra sua mãe que eu mandei oi.

— Pode deixar — ele assentiu com a cabeça e virou pra mim — Bora, nessa hora o Maurício já tá longe.

Flashback off.

Ao mesmo tempo que a minha mente não raciocinava, as lembranças se movimentavam na minha cabeça como se pudessem me dar força pra trazer meu filho ou a minha filha ao mundo.

— Respira fundo e vai no seu tempo — ouço a voz da minha Doula, enquanto estou de olhos fechados, suportando a dor.

A água morna alivia a pressão que começa no meio das minhas costas e vai até a minha barriga.

Jogo a cabeça pra trás, encostando no ombro do Matheus que segura o meu corpo dentro da piscina de plástico e me faz um carinho leve no meu cabelo e na barriga.

Já foram oito horas de trabalho de trabalho de parto e eu tô esgotada, já não sei mais onde vou arrumar força pra essa criança vir ao mundo.

— Vamos, meu neném... — tento me conectar com meu filho — Mamãe tá cansada, vem logo.

Sonho dos crias [M]Onde histórias criam vida. Descubra agora