Capítulo 5

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Capitulo 5 - Pov Princesa
Complexo da Penha, Rio de Janeiro Quinta, 16:00

— Bora almoçar comigo lá em casa — chamo ceci

— Vô nada, são quatro horas da tarde, já almocei e pros meus pais me virem saindo de lá no meio do dia é um peido!

— Cecília, do jeito que tem fofoqueiro nesse morro, não vai demorar muito pra eles saberem. Você é uma mulher adulta, conta essa merda logo.

— Tu quer que eu mate meus pais do coração — ela cruza os braços igual uma criança.

— Tá bom, amiga! — eu rio — Vou lá em casa trocar de roupa e almoçar.

Saio da boca e vou subindo o morro em direção da casa que eu moro com meu pai. Cumprimento algumas pessoas que falam comigo e sinto finalmente a sensação de pertencer a algum lugar depois de uma manhã caótica apresentando meu TCC na faculdade.

Quando chego falo com os meninos que estão na minha porta. Não preciso nem dizer como é a segurança da casa do Capitão mesmo quando não estamos, né? 

Subo até o meu quarto, tomo um banho gostoso e já coloco minha roupa pra ir na academia.

Desço até a cozinha e vejo que a Dona Maria, cozinheira do meu pai, fez arroz de brócolis com salmão. Faço um prato e como na mesa da sala, olhando no meu computador mensagens que recebi sobre alguns negócios que nós temos além do tráfico.

Meia hora depois eu já tinha lavado minha louça e estava planejando a rota da carga que vai chegar amanhã, essa vai ser a minha última função aqui antes de ir pro alemão.

Meu rádio toca em cima da mesa.

Dedé: Na escuta, princesa?
Princesa: Fala
Dedé: Bw tá aqui na porta querendo entrar.
Princesa: manda ele entrar.

Poucos segundos depois a porta da sala é aberta e entra o BW puto na sala.

— Que foi? — pergunto olhando pra ele com a testa franzida.

— Tu já pegou o dedé? — ele pergunta na lata e eu franzo o cenho.

— Tá maluco? Da onde tu tirou isso?

— Porra, toda vez que eu tento chegar perto de tu, ele me afasta — ele tira o boné e coloca na  mesa — fica agindo como se eu fosse te matar, ta ligado?

— Ele é o chefe da minha segurança, Breno.

— Ele ta é confundindo as paradas, se liga

Eu levanto uma sobrancelha e digo voltando minha atenção pro computador:

— Acho que não é ele quem tá confundindo as coisas.

Sinto ele me abraçando por trás e cheirando meu pescoço.

Eu e o BW ficamos há um tempo, mas eu não tenho pretensão nenhuma de ter algo sério e já deixei isso claro diversas vezes. Nessa vida que levamos um relacionamento fixo seria atraso pros dois. Fora que não vejo sentido em ficar romanticamente com alguém que sinto apenas amizade e tesão.

— Fiquei sabendo que tu vai ficar um tempo lá no alemão. — ele muda de assunto deixando beijinhos no meu pescoço e mandíbula.

— É, vai ser bom pra aprender de perto com a gestão do Sábio

— O foda vai ser aturar o jogador — ele endireitaa postura.

— Ainda tá putinho com o corte que ele te deu na reunião que tu acompanhou meu pai? — eu sorrio olhando pra ele com cara de deboche.

É fato que eu tenho pensado como vai ser minha convivência com o pessoal lá do Alemão, tem anos que não vejo ninguém, mas essa fala do BW sobre o Jogador se deve somente a fofoca que se espalhou sobre o esculacho que o Breno levou numa reunião ai.

— Caralho, Princesa, hoje tu tá só dando porrada. — ele me olha de cara fechada e eu rio.

— Foi mal, bebê, não quis ser grossinha — digo levantando

Chego perto do BW e ele passa a mão pela minha cintura. Eu fico na ponta do pé, jogando meus braços envolta do pescoço dele e ele aproveita pra me beijar.

Depois de um tempo nos amassos, eu paro o beijo com selinho e sinto a mão dele entre meu cabelo.

— Daqui a pouco eu preciso voltar pro corre, mas acho que tenho um tempinho pra gente lá no meu quarto — digo com um sorrisinho no rosto

Ele concorda e me segue pela escada.

(...)
Depois que o BW foi embora, terminei de planejar a chegada da carga passando pros moleques que vão executar a missão e saio pra ir pra academia.  Fecho a porta de casa e vejo o Dedé do outro lado da rua com um baseado em mãos e fuzil na bandoleira. Ele me vê e atravessa a rua.

— Acabei de vir lá da boca — ele diz, chegando perto de mim — Patrão me chamou pra conversar.

Vamos conversando andando em direção a academia.

— Mandou tu ser minha babá lá no alemão? — eu olho pra ele rindo

— Quem dera, po — ele abaixa a cabeça negando — Vai me mandar pro Paraguai enquanto tu tiver no alemão.

— Paraguai? — eu paro de andar

— Ele quer mudar uns fornecedores de armas e drogas, mandou o papo que tem que ser alguém de confiança, por isso me escolheu. — Voltamos a andar

— Denilson, meu pai tem os mesmos fornecedores desde os anos 90.

— Essa gerência aí já não é comigo, Princesa — ele se defende — Manda quem pode, obedece quem tem mãe e não quer levar um tiro de fuzil na testa.

Depois que meu pai me disse sobre passar o comando que eu to entendendo melhor as atitudes dele. Ele sempre fez tudo pensando em mim e agora continua sendo assim, quer que eu esteja pronta pra favela e que a favela esteja pronta pra mim. E eu sou grata demais por ele.

— Falando em mãe, já falou com ela que vai viajar?

—- Falei nada, depois daquela hora que falei contigo no radinho, fui direto na boca e voltei pra cá.

—- BW entrou lá em casa todo putinho contigo — eu rio enquanto viramos a esquina já na rua da academia

— Cês tão dando muita confiança pra esse filha da puta, o dia que eu tocar nele vai ser pra arregaçar. — ele diz fechando a cara

— Ele sabe muito bem o lugar dele, ta se fazendo de sonso.

Me despeço do Dedé na porta da academia e entro pra fazer minha série.

Sonho dos crias [M]Onde histórias criam vida. Descubra agora