Capítulo 127 - Kemilly

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Capítulo 127 — Kemilly

Corro por uns cinco minutos até conseguir ver de longe o Diego trocando tiro com dois caras atrás de um carro na estrada do Itararé.

Ele olha pra trás, me procurando, em poucos segundinhos, como se sentisse que eu tava ali. Da merma forma que eu senti que ele viria correndo pra cá quando escutei o papo da Princesa no radinho.

Só tinha uma forma de acabar com essa graça rápido: desarmando o explosivo.

Eu sabia que o que trouxe ele até aqui foi a perseguição dele quando eu tava em treinamento, porque de tanto me perturbar, tava presente no dia que a Princesa tava falou sobre explosivos comigo e com a Rapunzel.

A verdade é que nosso amor é meio maluquinho, mas nós dois pensamos igual quando o assunto é o corre.

— Sustenta aqui, vida — ele grita e eu corro, abaixada pra lata de lixo que ele usa como escudo — eu vou meter a cara por ali na direita, tenho que entrar na porra do carro pra mandar o maluco desligar o bagulho.

— Meu Deus, Diego...

Coloco meu corpo bem na reta da lixeira e apoio o fuzil na tampa, minha sorte é que eu sou pequena e o trambolho me protege quase que inteira.

Sento o dedo no gatilho, porque não posso dar respiro pra eles notarem a aproximação do Chocolate. É um tiro de fuzil que eu preciso acertar em cada um pra deixar eles fudidos, mas a lógica inversa vale também. Se me acertarem, nós dois viramos camisa de saudade eterna.

Que não inventem de suspender baile se eu morrer.

Perco o Diego de vista, mas mantenho na missão que ele me deu e foco em descarregar a bala do meu pente com precisão. Não dá pra negar de quem eu sou cria.

Respiro fundo e me concentro nos dois caras do outro lado, eles tão na vantagem numérica contra mim, mas meu armamento é muito mais pica, então que se foda eles.

Atinjo o primeiro no braço. Amputação na certa. O segundo é mais resistente, parece ser mais experiente, porque atira num espaço de tempo bem maior de tempo e bate na parede perto da lixeira.

Arrisco e dou alguns passos pra frente, ultrapassando a lixeira e me apoio no muro de chapisco. Daqui a visão é bem melhor, então quando ele coloca o pé pra fora da proteção, eu não dou tempo dele pensar e atiro, atingindo a cabeça.

Corro mais uma vez atrás do Diego, tomando cuidado pra ver se mais nenhum filho da puta vai sair do buraco de onde essas baratinhas vieram.

— Bora, caralho — ele grita com alguém e eu procuro de onde vem o som.

Vejo o corpo dele invadindo um carro, no banco do passageiro tem um cara com um computador na mão, ele mexe e algo, antes de olhar de volta pro Chocolate. Em poucos segundos, vejo a tensão diminuir na linguagem corporal do meu namorado.

Busco proteger a retaguarda dele, mas o cara que atirei na cabeça já tá mais do que morto e o do braço tá bem perto de morrer.

Diego arranca o computador da frente do cara e joga no banco de trás do carro antes de bater com o rosto do filho da puta no volante e arrastar ele pra fora do carro.

— Tá desarmada essa porra? — pergunta alto, puxando a camisa dele.

— Tá desativado já, chefia — eu olho em volta, protegendo nós dois de alguém chegar por trás — Tô te mandando papo de homem, não vai estourar mais não.

— Presta atenção — ouço o Chocolate levantar o vagabundo, apoiando na porta do carro — Tu vai correr na direção oposta da favela e não vai olhar pra trás, se olhar de novo pra cá, eu vou esquecer da parada que eu te disse e vou estourar a tua cabeça. Já ouviu falar que na tropa do Jogador não tem dois papo, né? — o moleque concorda com a cabeça — Tu tá ligado então como é, mete o pé daqui.

Sonho dos crias [M]Onde histórias criam vida. Descubra agora