Capítulo 55

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Capítulo 55 — Jogador

Fiel: Aí patrão — pego o rádio — Princesa acabou de sair da favela com o Hugo.

Jogador: Vê qual é o papo com Pikachu

Eu to ligado que os dois tão unha e carne agora. Jogo o rádio em cima do sofá de novo e volto a prestar atenção no Luquinhas jogando no ps5 que ganhou de natal.

— Tu sabe que uma hora vocês vão ter que se ver e conversar — Cecília diz do outro sofá.

Tenho ficado muito aqui com ela, Tia Simone, Lorena e Cecília também dão uma moral quando eu não consigo estar. Só não quero que ela passe por isso sozinha.

— Tá muito recente ainda.

— Recente? Tu não aprendeu que essa vida que vocês levam é curta ainda não? — Laís levanta do sofá e aponta pra mim — Vou te falar a mesma coisa que eu falei pra ela. Eu enterrei o amor da minha vida e tá doendo demais, então vocês não me irritem perdendo tempo, se afastando e fugindo do que sentem. Tu não confia nela, é isso?

— Não é isso — balanço a cabeça.

— Então não me irrita, por favor — Vira as costas e vai em direção à escada.

Passo a mão no rosto e suspiro. Tá difícil pra caralho passar por isso sem ela, não consigo nem olhar a porra do perfume que ela gosta no meu armário. Tô perdidão. Não consigo estar presente pra ela, nem pra minha família e nem pro morro. Porra, a facada que nós tomamos tá doendo demais, por ser quem foi.

Só que eu cheguei na porra de um momento que eu não posso confiar nem na minha sombra. De toda a facção, a última pessoa que eu imaginava que poderia nos trair era o Capitão. Cara me viu nasceu, foi durante anos o maior parceiro do meu pai, me batizou e me deu a porra de uma facada mesmo assim. Eu não posso mais agir na inocência de antes, mesmo que eu ache que não tenha chance alguma do que eu vivi com a Lorena ser só ilusão.  

— Tio — Lucas pausa o fifa e olha pra mim — minha mãe disse que meu pai foi morar no céu, mas por que ele escolheu ir e não ficar mais com a gente?

— Essas paradas nós não escolhe, menor. Se teu pai pudesse escolher, tu acha que ele não tava aqui jogando vídeo game contigo? — ele concorda e larga o controle.

— Isso quer dizer que ele morreu, né? — ele fala baixo e eu respiro fundo — Pode falar a verdade, tio. Eu sou forte, sei que as pessoas morrem. Minha mãe fica com essa história de papai do céu, mas eu não sou mais criancinha.

— Tu tá certo —eu concordo com a cabeça, não vou ficar mentindo pro moleque, se ele já sabe a verdade, não tenho mais o que inventar — Mas comigo tu não precisa querer ser forte, às vezes eu sou fraco também, tá ligado? Nós se mostra forte pros outros, mas entre a gente, não tem problema se sentir fraco

— Meu pai não vai voltar nunca mais se ele morreu — ele franze a testa.

— Não, ele não vai, mas eu acredito mesmo que ele tá com Deus, tua mãe não tá mentindo. Lá com ele vai tá teu avô Nanau e tua avó Daiane também.

— Vô sentir saudade dele, tio — pega o controle do PS5 de novo.

— Também vou, menor.

Lucas volta a jogar e quem fica fudido da mente sou eu. Caralho, meu irmão não vai voltar. Nunca mais, tá ligado?

(...)

Vejo o Lucas fazer um gol no vídeo game quando batem na porta da casa da Laís.

— Entra — grito e olho pra trás.

Sonho dos crias [M]Onde histórias criam vida. Descubra agora