Capítulo 123

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Capítulo 123 – Jogador

Aperto o volante e estalo o pescoço, jogando a cabeça pra um lado e depois para o outro enquanto presto atenção no movimento da rua à minha frente.

— Tá tudo no esquema já — ouço pretinho do meu lado e balanço a cabeça concordando.

Dirijo o carro da Lorena por mais uns duzentos metros antes de pegar a alça para a Avenida Brasil. Olho o retrovisor, procurando o carro com o bonde que o Dom mandou, quando um Fiat Argo prata insufilmado pisca duas vezes pra mim.

— Os cara aí — digo pro Pretinho e pro Fiel que tão no carro comigo.

Graças a Deus, fiquei concentrado no trânsito e no carro atrás de mim por mais uns vinte e cinco minutos até chegar no endereço que o Dom passou. O prédio é baixo, daqueles mais próximos à praia e parece que só tem dois apartamentos por andar.

O Argo prata para atrás de nós e eu desço do carro, olho pra vizinhança quieta e reconheço mais dois seguranças do Dom do outro lado da rua.

— Vou subir sozinho — olho a tela de bloqueio do meu celular, vendo uma foto da minha mão na barriga da Lorena, antes de guardar no meu bolso junto da carteira.

Ninguém vai me fazer de otário quando o assunto é a proteção da minha família. To ligado nos riscos que tô correndo, tanto por ter vindo até aqui no lugar dela, quanto por deixar a Lorena na favela sem mim, mas essa é a realidade que nós precisamos enfrentar pra acabar com essa putaria.

— Manda o papo pro teu chefe que eu to subindo — viro pra um moleque do Dom, que desceu do carro deles e veio andando até mim.

— O papo era que a tua mulher que ia tá aqui — ele me encarou e eu ergui o olhar, travando o maxilar — O Patrão tá esperando ela.

— Mas quem tá aqui sou eu, tem k.o nenhum.

Não leva nem cinco minutos pra eles avisarem pro Dom que eu to subindo no lugar da Lorena e o cara que me recebeu abre o portão e aponto pro elevador, antes de sair andando na minha frente.

Assim que a porta do apartamento abre, vejo o filho da puta sentado no sofá, segurando um copo de Whiskey, mesmo sendo sete horas da manhã. A perna dele balança devagar e eu sei que ele tá tentando não demonstra o quanto tá nervoso com a minha presença.

— Achei que tu tivesse dormindo — apoia o copo na mesinha de centro na frente dele e eu vou até o sofá do outro lado — Foi o que chegou pra mim.

— Tu achou que eu ia deixar minha mulher grávida sair de casa sozinha logo hoje? — sento devagar e relaxo o corpo — tu tá me dando pouco crédito, Dom. Achei que tu me conhecesse melhor...

— Te conheço pra caralho, até falei pra ela que tu ia querer me estourar por fechar com ela — ele riu.

— Era pra tá te mostrando a minha disciplina mesmo — cruzo os braços, sem tirar os olhos da maneira desconfortável como ele tá agindo.

— Não esquece que eu já fechei contigo nas costas dela —largou a cabeça no encosto do sofá e me olhou.

Esse papo dele me deixa puto porque já era sinal de que esse arrombado não era confiável. Tudo nessa porra, as coisas menores e maiore, tudo é sinal.

— Te falar — inclino meu corpo pra frente, tiro a arma da cintura e jogo na mesinha da frente. Dom olha pra Glock e depois pra mim, enrugando a testa — Tu acha que eu sou um bom dono de morro?

— Tá maluco? Que caralho de pergunta é essa?

— Ué, tô te fazendo alguma pergunta difícil de responder? — estreito os olhos — Sou bom ou não sou?

Sonho dos crias [M]Onde histórias criam vida. Descubra agora