Capítulo 102 — Laís
As primeiras contrações começaram no início da noite, a médica pediu pra eu aguardar mais um pouco em casa e partir pro hospital quando elas estivessem com intervalos menores que cinco minutos.
Eu preparei tudo, liguei pra Tia Sol e Iracema, que vieram pra cá, me ajudar... Avisei só pra elas porque é um momento feliz, mas que me traz muito sentimento difícil de lidar e eu quero me sentir livre pra expressar tudo.
Não quero trazer preocupação pra cabeça da Lorena e do Matheus agora, quando estivermos saindo pro hospital, os seguranças vão avisar.
Minha relação com os meus pais deixou de ser boa depois que eu passei a viver com o Maurício. Não posso reclamar da minha mãe como avó pro Lucas, mas ela sempre escolhe palavras que me machucam demais quando se refere a minha vida.
A parte boa do nosso casamento só quem viveu foi eu e ele. Só quem pode honrar isso é um de nós dois e como ele não tá aqui pra nos defender, eu não vou deixar ninguém ousar falar que ele não foi um bom marido pra mim ou um bom pai pros meus filhos, porque ele lutou até o último segundo pela família dele. Agora é a minha vez de lutar.
Sinto a dor começando nas minhas costas e indo até o centro da minha barriga. Meu corpo fica arrepiado pela intensidade da contração muito maior do que as outras vezes.
— Ai, filha — fecho os olhos e controlo a respiração.
Sinto a mãozinha do Lucas passando em cima da minha e jogo a cabeça pra trás, procurando algum alívio, seja pro coração, seja pra barriga.
— Tá doendo muito, mãe? — ele pergunta e eu concordo, sentindo a lágrima descer.
— Tá doendo, mas vai passar, filho — Tento transmitir confiança pra ele, mas eu mesma não vejo a hora de estar com a Daiane nos meus braços.
O Lucas é um menino especial, tão bonzinho comigo, amoroso e cuidadoso. Amadureceu tão rápido que, sem ele, seria muito difícil estar aqui na ausência do Maurício.
Queria meu marido segurando a minha mão, imaginando comigo o momento que a nossa filha viria ao mundo. Ele já fantasiava como ela seria, cada pequeno detalhe. Queria que a menininha tão sonhada se parecesse fisicamente comigo, que se chamasse Daiane e que fosse a mistura de força e gentileza que a mãe dele foi aqui na terra.
— Mais uma contração? — Tia Sol me pergunta.
— Essa foi mais forte, mas a bolsa ainda não estourou — abro os olhos e olho para ela.
— Lucas, pede pro Hugo tirar o carro da garagem — ela coloca a mão nas minhas costas enquanto fala com meu filho — A sua bolsa e a bolsa da neném já estão lá?
— Aham, bebe conforto também — sorrio pra ela, que me olha atenta.
— Jesus Cristo tá no controle, filha. Fica tranquila que eu orei e jejuei pelo seu parto.
— Obrigada pelo seu carinho, tia. É muito importante pra mim — beijo a mão dela, aproveitando o intervalo de calmaria antes que outra contração chegue.
Ela me ajuda a levantar da cama e caminhar até a sala, onde tia Iracema está fazendo suas rezas também. Eu tenho sorte de ter as duas, cada uma do seu jeitinho pra me amparar.
— Vem cá, filho — chamo o Lucas com a mão e ele vem, todo adultinho — Mamãe vai lá, tá bom? Te amo muito muito muito. Não preciso nem dizer pra você respeitar a Tia Iracema.
— Te amo, mãe. To tão nervoso que minha irmã vai nascer, que to com vontade de ir no banheiro.— ele passa a mão na barriga e eu rio.
— Boa hora, minha filha — Tia Iracema também me abraça, de lado — Vai dar tudo certo. Você é uma guerreira e minha mãe Oxum vai te guiar.
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Sonho dos crias [M]
FanficE fé no pai, sei Que todo mal contra mim vai cair por terra Nós gosta da paz, mas não fugimos da guerra Paz, justiça e liberdade, fé nas crianças da favela Eu vivo a vida e amanhã não me interessa Lorena, vulgo Princesa, tá terminando a faculdade d...