Capítulo 126

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Capítulo 126 - Jogador

Sinto o suor nas minhas mãos enquanto seguro o ferro da moto, Fiel tá no toque subindo o morro em direção a minha casa. Meu coração parece não bater desde o momento em que eu soube que esse filho da puta tava na minha favela negociando cara a cara com os dois amores da minha vida.

Minha mulher e meu filho precisam pra caralho de mim agora. O medo tá me sufocando, porque não sei o que vou encontrar quando atravessar a porta da minha casa, mas não posso deixar essa porra me dominar.

Tenho a visão dos meus seguranças espalhados pelo redor da casa, de prontidão para atirar e do Mtzinho na esquina, segurando o menorzinho de cabelinho de índio nos braços, quando já estamos na ladeira da minha rua.

Caralho, a criança tá bem.

Desço correndo da moto e corro em direção da porta de casa, onde Pit tá encostado na porta, segurando um fuzil. O olhar dele segue até mim e ele balança a cabeça em negativa, me mostrando que a situação não tá no nosso controle.

— Não dá pra entrar agora, chefão — diz, quase num sussurro.

— Os dois tão lá dentro sozinho? Onde caralho tá o Chocolate? —olho ao redor e empurro ele colocando a mão na maçaneta, mas Hugo me peita e me afasta.

— Patrão, com todo respeito — olha no fundo dos meus olhos — Não tô em posição de te peitar nunca, mas tem a porra de uma bomba amarrada na barriga da tua mulher e esse filho da puta tá com o poder nas mãos. Se eu pudesse, já tinha entrado e metido bala, mas agora não dá, confia em mim.

Dou dois passos pra trás e finalmente sinto meu coração. Batendo pra caralho, descontroladamente. Sinto um frio percorrendo toda a minha espinha, mandando um arrepio pras minhas pernas e braços. Olho pra porta e pro soldado de novo.

— Chocolate acabou de partir daqui com um bonde pra encontrar os fudidos que tão no controle dessa porra, o filho da puta deixou escapar que tem um carro ao redor. Nós já tá esquematizado, assim que desarmar, nós vai entrar — ele continua.

Passo a mão no rosto e busco ar.

— Tem gente nossa no quintal?

— Não, princesa mandou evacuar a porra toda. Foi o combinado dos dois, sem armas e sem ninguém. Chocolate revistou o cuzão e eu mandei seis dos nossos tentarem entrar pela rua de trás.

— Não dá, meu pai criou essa casa pra ser um caralho de uma fortaleza — levo as mãos até o cabelo, organizando os pensamentos na minha cabeça.

— Rita e Soraya tão presas no andar de cima, patrão — ele chega mais perto de mim e diz baixo.

Caralho, eu me divido na esperança de que a Rita ou Soraya possam fazer alguma coisa, mas no receio fudido de que elas façam uma merda.

Me proibo de sentir qualquer coisa agora. Não vou sentir nem medo. Tudo em mim tem que tá concentrado em manter eles vivos.

— Manda chamar o cabeça, ele deve entender dessas porra, se tiver algum sinal pra bloquear, sei lá, qualquer porra — digo pro Pit e volto a encarar a porta da minha casa.

Por mim, eu já tava lá dentro, se soubesse que podia cair na bala dela pra ela ficar bem, mas esse diabo é articulado e sabe que qualquer um aqui daria a vida por ela.

O que esse filho da puta quer, eu já sei. São os dois complexos e que a gente tire a nossa tropa do meio do caminho dele. Eu tiro.

Se esse for o preço pra eu ter a minha mulher e meu filho bem, fica até barato pra mim. Todo mundo sabe que eu nunca quis ser dono de morro. Tudo o que eu sempre quis foi construir família, ter uma parceria igual meus pais tiveram e criar filhos com base na lealdade que eu carrego.

Sonho dos crias [M]Onde histórias criam vida. Descubra agora