Capítulo 40 – Pov
Foi impossível dormir essa noite. Cheguei em casa ontem, tomei um banho e fui deitar, mas só fiquei rolando de um lado pro outro. Tentei comer alguma coisa porque o Matheus me obrigou, mas nada me descia. Só ficava revivendo as cenas do dia de ontem e como a fragilidade e vulnerabilidade daquela menininha me afetou em tantos âmbitos.
Resolvo levantar da cama, são sete horas da manhã agora e eu preciso ir na cerimônia de entrega da minha carteira da OAB às 11h. Eu fiz a prova enquanto ainda estava nos últimos períodos da faculdade, fui aprovada também antes de me formar, então já pude dar entrada no pedido da carteira, mas vou aproveitar pra passar na faculdade e pegar meu diploma.
Optei por não participar das cerimônias de formatura, dei um jeito de colar grau no mesmo dia que apresentei meu tcc. Pra mim não faria sentido. Quem estaria lá pra me aplaudir? No máximo a Cecília, nem meu pai, que fazia a maior questão do mundo que eu fizesse essa faculdade.
Vou no meu armário separar a única roupa de advogada que eu trouxe pra cá, calça e blazer pretos e blusa social branca, o clássico. O resto do meu guarda-roupa aqui no alemão se resume a short jeans, cropped e vestidinho.
Depois de tomar banho e me maquiar, desci toda pronta pra tomar café. Olho da metade da escada pra sala e vejo Mateus jogado no sofá mexendo no celular, provavelmente resolvendo alguma coisa. Os bandidos desse morro tudo acordam cedo, Sábia dá mole pra ninguém não. Faço barulho pra descer a escada de salto e ele desvia a atenção do celular pra mim.
— Caralho — joga o celular no sofá — Vai aonde assim? Toda perfeita, linda de advogada.
— Faculdade e OAB — ando até ele — Vou pegar minha carteira de Advogada hoje.
— Porra, vou me entregar pra polícia pra tu ir lá me tirar da cadeia — ele me puxa pra sentar de ladinho no colo dele.
— Lindo — passo a mão no rosto dele — com a quantidade de artigo que tu tem nas costas, eu teria que escrever uma nova constituição pra te tirar da cadeia. — digo rindo.
— Vai valer a pena se tu aparecer toda gostosa assim no tribunal. — me dá um selinho passando a mão na minha cintura por cima do blazer.
— Já tomou café?
— Não, bora lá. Vou fazer um ovinho pra nós. — diz e eu sorrio.
Ele dentro dessa casa comigo parece outra pessoa. Eu me sinto tão confortável por ter liberdade com ele aqui.
Ando até a cozinha e coloco uma água pra ferver, só um cafézinho fresco pra me salvar da noite que tive hoje.
— Amanhã tu podia pegar um vapor do treinamento pra andar na tua segurança, né? — pergunto como quem não quer nada
.
— Amanhã vai ser foda, vai chegar uma carga — ele coloca uma frigideira no fogão — escolhe uns dois pra andar com nós no baile sábado.— Falando em baile — dou um sorriso e viro pra ele — e o Pikachu?
Eu tinha até me esquecido ele tá sumido, deve ter tomado uma trava bizarra.
— Sábio mandou ele pegar uns dias de folga, pra ver se pensa direito nas paradas que anda fazendo. — diz enquanto mexe os ovos
Tomo café bem rapidinho com ele e subo pra escovar os dentes e retocar a maquiagem antes de sair. No meu quarto, termino de guardar minhas coisas na bolsa que está apoiada na cama.
— Chocolate tá aí fora pra ir contigo pra pista — Jogador passa os braços na minha cintura, me abraça por trás e dá um cheirinho no meu pescoço.
Eu fico com o coração molinho quando ele faz isso, é uma intimidade que eu só tenho com ele.
— Melhor não, prédio da OAB é lá no centro, acho arriscado ele ficar o tempo todo da cerimônia dentro do carro —digo virando de frente pra ele — Deixa o Chocolate quieto.
— Certeza?
— Confia em mim não, porra? — Levanto uma sobrancelha e ele ri.
— Confio mais em tu do que em mim
Dou um último beijo nele e vou até a garagem pegar meu carro. Entro nele, sentindo um cheirinho de carro limpo que me trás uma paz, tiro a minha arma da bolsa e coloco num compartimento embaixo do banco.
Enquanto termino de me ajeitar pra partir, olho as horas no relógio, oito horas, então vai dar tempo de passar na faculdade voando pra pegar meu diploma. O portão da garagem é aberto, subo meu olhar e percebo Chocolate e outro soldado. Dou partida no carrro, imbicando pra sair na rua, olho pros dois lados antes de sair totalmente com o carro.
Abaixo o vidro parando ao lado dos dois, Chocolate vem até o carro e apoia na janela.
— Tá de mal comigo, irmã? — ele pergunta sério.
— Para de graça.
— To só palmeando suas atitudes nessa amizade — ele aponta pra mim — me colocando como nada, não quer minha companhia, nem minha segurança, vai achando que tá passando batida — leva a mão até a barbicha e coça.
Eu encosto a testa no volante e rio do drama da criatura porque eu não quero que ele vá comigo na pista hoje.
— Sábado tu tá de folga, sentimental? — ergo a cabeça e olho pra ele.
— To mermo, dias de glória, né?
— Então nós vamos beber — pego meu óculos de sol no porta luvas — Vai ficar na segurança do Jogador hoje? — pergunto e ele concorda com a cabeça.
— Pode deixar que não vou deixar nenhuma oferecida chegar perto do teu homem não — ele diz baixo pro outro soldado não ouvir e eu abaixo a cabeça pra enxergar ele por cima do óculos
Tomo um leve susto, acho que o que tá rolando entre eu e o Jogador tá ficando meio explanado, mas ajo com naturalidade.
— Tenho homem nenhum, chocolate — tenho soar inocente
— Po, que bom, então eu posso passar a visão pro chefe que a Daniele aqui da rua de baixo tá querendo ficar no porte dele — fala apontando pra descida da ladeira.
— Quem é essa Daniele? — pergunto e Chocolate cai na gargalhada.
Merda. Fui juvenil.
— Tô te falando que não tá passando batida.
— Tchau, Chocolate – Coloco minhas mãos no volante — Tô cheia de coisa pra fazer hoje, sem tempo de ficar jogando conversa fora.
Ligo o carro e saio, deixando ele plantado na calçada e rindo enquanto joga o fuzil das costas pra frente do corpo.
Eu e Jogador nunca colocamos um rótulo no que tá acontecendo entre a gente e seria uma puta inocência minha pensar que o Sub do complexo, todo lindo e gosto do jeito que ele é, não teria uma porrada de mulher na cola.
Mas quem é Daniele?
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Sonho dos crias [M]
FanfictionE fé no pai, sei Que todo mal contra mim vai cair por terra Nós gosta da paz, mas não fugimos da guerra Paz, justiça e liberdade, fé nas crianças da favela Eu vivo a vida e amanhã não me interessa Lorena, vulgo Princesa, tá terminando a faculdade d...