Capítulo 88 — Dedé
Apoio os braços pra fora da grade na tentativa de esticar o corpo e aliviar um pouco a dor na coluna que tô sentindo depois de ter dormido mal pra caralho. O centro de detenção provisória tá lotado, geral que tá aqui, como eu, aguarda julgamento. Por isso, a incerteza é a dona dessa porra de lugar.
As facções são divididas por alas pra nos manter vivos, mas viver não tem nada a ver com estar nessa parada aqui não. Aqui nós sobrevive.
Eu sempre pensei que cair nesse lugar só acontecia com os outros, que eu era esperto demais pra deixar uma parada dessas acontecer comigo, mas a cobrança chega, sempre chega.
— Coe, Dedé, vem completar a sueca aqui — um moleque que divide cela comigo pede, viro o rosto na direção deles e eu noto ele e mais três se preparando pra jogar.
— To suave hoje — volto a olhar pro corredor, prestando atenção nas outras celas.
Um dos que tava na rodinha reclama de eu não ter aceitado, mas os outros não dão força. Fofoca em cadeia tem mais peso que em salão de beleza e chegou no ouvido dos caras que eu tenho moral com o Dom e que o Jogador tá fazendo de tudo pra me tirar da cadeia, aí eles falam comigo cheio de não me toque. Eu nem sei se eles tão fazendo isso por mim mesmo, aqui tu se sente abandonado.
— Ai — chamo atenção do cara sentado na cama no canto direito da cela enquanto ando até ele e me abaixo — Tu consegue aquela parada pra mim ainda?
— Consigo, mano, deixa escurecer, os caras tão em cima hoje — se refere aos carcereiros e eu concordo, voltado pra grade.
Tem dias que eu to pensando se aceito um favor aqui dentro e ligo pra minha mãe. É uma merda ter rabo preso com alguém, porque ninguém vai te cobrar enquanto tu tá privado, vão te cobrar lá fora, onde tu tem mais condição, mas a saudade tá apertando.
— Tua advogada veio te ver — o agente me olha enquanto enfia a chave no cadeado que fecha a cela — bora.
Não respondo, ele coloca as algemas em mim e eu sigo ele pelo corredor da carceragem até uma sala onde a mulher, que eu já conversei outra vez, estava sentada.
— Bom dia, Denilson — ela me olha rapidamente enquanto organiza uns papéis dentro de uma pasta.
— Bom dia, doutora — respondo enquanto o agente me conduz até a mesa.
Quando eu sento, ele vira de costas e nos deixa sozinhos dentro da sala.
— Você tá me dando um trabalho — ela passa a mão pelo cabelo e sorri. Sou de ficar reparando o tempo todo em mulher não, mas essa é gata, filho.
— Não te perguntei daquela outra vez que nós conversou, mas quem te contratou foi minha mãe? — pergunto e ela nega com força, me fazendo rir, já sabendo quem tá pagando ela. É foda lidar com Dom, Jogador e Leão. Gosto dos caras pra caralho, mas eles três têm marra de donos do mundo — Eles são complicados mesmo, mas eu sou tranquilão, só quero que a senhora desenrole esse bagulho da visita logo, to com uma saudade da peste da comida da minha mãe.
— Denilson, sinceramente, a alimentação é o menor dos seus problemas agora. Eu tô de mãos atadas e eles me pressionando, não sei mais o que fazer com seu caso — diz séria.
A cara dela me preocupa mesmo, porque eu to ligado que os caras não iam agir na miséria contratando advogada ruim pra mim, se ela tá aqui é porque é boa e se ela não sabe mais o que fazer é que eu to fudido mesmo.
— Vou ficar pegado, né, doutora?
— Não vejo uma saída, dentro da lei — ela frisa essa parte — pra te absolver, vamos tentar trabalhar pela diminuição da sua pena, uma liberdade condicional, mas eu realmente acho que a sua situação tá difícil.
— A questão foi o porte? — pergunto, tentando fechar.
— Você reagiu a prisão, trocou tiro com a polícia.
— Era isso ou eu não tava nem aqui, os caras foram pra me quebrar, doutora.
— Por que você diz isso? — Ela estreita os olhos e cruza as pernas.
— Foram pra cima a mando do Capitão, os vermes que me prenderam, todos eles tão fechados com o velho — ela presta atenção em cada palavra — Eu tenho prova nenhuma dessa parada que to te falando, mas não era polícia comum fazendo seu trabalho não. E eu lembro bem, no passado — olho em direção da porta, pra me certificar que estamos sozinhos mesmo — Capitão tinha um esquema desse tipo e tudo faz mais sentido quando eu penso nas paradas que deram errado pro Alemão. Inclusive a carga deles que rodou.
— Então, você tá dizendo que te forjaram? — ela sorri e eu pego a visão. Nessa vida que nós leva, tu tem que ser bom entendedor, porque meia palavra já é muito. Não me forjaram, eu tava armado e reagi, mas se for comprovado que os policia que me prenderam tão na sacanagem, eu posso usar dessa narrativa pra sair do fechado.
— Os caras vieram pra cima de mim na maldade.
— Vou entrar com um pedido para adiar seu julgamento, consegue segurar mais um pouco aqui? Eu preciso de tempo pra formular sua defesa.
— Vai conseguir a visita da minha mãe? — pergunto, tô com saudade da velha, po. Fiquei um tempão fora, depois em cabo frio e agora essa.
— Já peguei os documentos dela, o processo está correndo. Fica tranquilo que em breve você estará comendo a comidinha da sua mamãe.
— E a outra lá? — Me preocupo em não citar o vulgo da Princesa, porque é a ela que tão querendo me associar.— Em que sentido? — ela guarda a pasta na bolsa e me olha.
— Saúde.
— Acordada, lúcida e bem — diz e eu solto o ar que estava preso desde que entrei nesse assunto. Essa história dela baleada tava bagunçando a minha mente, mas tava sem coragem de perguntar e receber uma notícia ruim.
O papo que tava correndo aqui na cadeia era de que ela tava mal e eu sem notícia nenhuma, só me lembrando da forma que eu deixei ela no hospital, com medo dos caras terem feito uma covardia e ela não ter sobrevivido ou estar em estado grave.
— Graças a Deus — me ajeito na cadeira.
— Denilson, é sério o que eu vou te falar agora — ela vira o rosto mais uma vez na minha direção e sustenta o olhar — Não diga pra ninguém sobre o que aconteceu naquele dia, ninguém, nem pareceiro, nem sua mãe quando ela vier te visitar. A verdade você só fala pra mim e quando eu te perguntar. você vai poder abrir a boca quando eu tiver com a sua defesa pronta, aí nós vamos sentar e combinar palavra por palavra.
— Sou fofoqueiro não, doutora, não sou de sair contando minha vida pros outros tem nem sentido.
— Tudo bem, se comporta, hoje meu tempo tá apertado, mas na próxima vez nós vamos ajustar melhor essa questão da sua versão.
— Tranquilo, consegue a visita da minha rainha aí, na moral, nunca te pedi nada, doutora Talita — ela ri e nega com a cabeça.
— Ela vai vir, Denilson, ela vai vir.
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Pov do dedé atendendo a pedidos. Curte aí, lindinhas! Boa semana, vou tentar postar todo dia ♥️
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Sonho dos crias [M]
Fiksi PenggemarE fé no pai, sei Que todo mal contra mim vai cair por terra Nós gosta da paz, mas não fugimos da guerra Paz, justiça e liberdade, fé nas crianças da favela Eu vivo a vida e amanhã não me interessa Lorena, vulgo Princesa, tá terminando a faculdade d...