Capítulo 58

3.5K 283 42
                                    

Capítulo 58 — Jogador

Tô puto pra caralho de ter que vir pra boca. Essa sala é o Sábio todinho, mas não dá pra fugir das responsabilidades para sempre. Olho em volta e sinto um aperto grande no peito, a saudade já tá batendo forte e que falta vou sentir do meu irmão daqui pra frente.

Apoio os cotovelos na mesa e levo as mãos no rosto, sentindo as lágrimas descerem. Respiro fundo e seco o molhado quando ouço a voz do Pikachu no corredor.

— Cabeça conseguiu terminar de restaurar as mensagens do celular do BW — ele entra e me diz, fazendo um toque de mão comigo

— E aí, qual o papo?

— Mano eu vasculhei tudo, tá ligado? — ele senta na outra cadeira — Única parada que achei foi uma conversa com um tal de Moisés, o cara mandou uma foto sua, da Princesa e do Rodrigues num baile.

— Dava pra ver a foto do cara?

— Dava — ele concorda — nunca vi esse menor na vida, mas pela conversa, parecia que ele tava seguindo a princesa, tá ligado? Porque o cara mandou o papo de que ela chegou numa McLaren e que tu tava esperando na porta do baile.

— Tô ligado nesse dia, foi quando anunciaram a gravidez da Laís, depois eu encontrei o Rodrigues no estacionamento — Passo a mão no rosto.

Os flashes daquele dia passam na minha mente, foi pouco tempo depois que ela chegou aqui no Alemão. Eu tava hipnotizado na postura dela. Planejei tudo pra ver ela toda perfeita descendo do meu carro, nunca tinha ficado tão rendido por nenhuma mulher daquele jeito. No fundo, eu já tava ciente de que ela é a mulher da minha vida e que se foda se parecer loucura, o que nós vivemos num mês, nenhum casal vive em um ano.

— Só não consegui fechar na minha mente o sentido dele ter tido só essa conversa pelo telefone pessoal dele.

— Porque essa não tem a ver com a traição, po. Isso era ciúmes dele — jogo a cabeça pra trás, com ódio no meu corpo, sentindo meu rosto esquentar — Como eu queria ressuscitar esse arrombado, só pra eu mesmo estourar a cara dele.

— O BW era pirado na Lorena? — ele arregala um pouco os olhos.

— Eles ficaram.

Porra, eu sinto um ódio absurdo só de pensar nesse arrombado tocando na minha mulher, falar isso em voz alta então...

— Ela pipocou ele pra te salvar, tá com moral, ein, filha da puta — Pikachu fala pra quebrar o clima de merda e eu rio.

— Minha mulher, porra. Tinha nem o que pensar  — Jogo um papelzinho nele — Hoje vou reorganizar o morro, tu não é mais gerente, é o sub.

— Po, mano. Eu tô ligado que andei de vacilação, vou entender pra caralho se tu confiar essa responsabilidade a outro — ele volta a ficar sério e diz

— Irmão, tu caiu nessa porque tu é um moleque puro. Teu coração é bom e eu preciso de quem feche de verdade comigo, tô ligado que tu já aprendeu a lição.

— Aprendi da pior forma.

— Não importa, a vida é assim, as porradas fazem a gente crescer. Hoje foi na dor, amanhã vai precisar doer menos pra tu se ligar qual é o caminho — digo e ele concorda — Bora definir qual vai ser da nossa gestão.

(...)

— Mandou me chamar, Jogador? — Cecília entra, jogando as trancinhas pra trás.

— Mandaram o papo de que teu vulgo é Mercenária agora, papo reto? — Pikachu pergunta de sacanagem e eu rio, vendo a cara que a garota faz.

Sonho dos crias [M]Onde histórias criam vida. Descubra agora