Capítulo 70 — Lorena
TRÊS MESES DEPOIS
— Vamo colocar ela pra dar plantão na segurança da Laís e do Luquinhas então — Chocolate insiste pela milésima vez, enquanto eu ando até a casa da Lais.
— O chefe da segurança é você e Pretinho, decide com ele — respondo cansada enquanto ajeito a bandoleira do fuzil, pra nao machucar meu ombro.
— Segundo o chefe, Kemily é responsabilidade sua, ele mandou esse papo dois meses atrás quando aceitou essa historinha dela entrar pro movimento.
— E eu já falei que, para mim, o lugar dela é na barreira — Tento colocar um ponto final nesse debate chato pra caralho.
Kemilly foi insistente no pedido dela, eu e Jogador avaliamos cada atitude dessa garota antes de aceitar que trabalhasse com gente. Conversei com ela mais de uma vez, ele conversou também, visitou a casa dela e fez por ela o que não faríamos por quase ninguém aqui dentro.
Ela fez uma escolha, igual a todos os outros, e prometeu lealdade e disposição. Não tinha mais o que fazer pra tirar essa decisão da cabeça daquela garota.
Na realidade, o movimento só ganha com mais uma mulher bem treinada, porque tem situação que, para agir com inteligência, é muito mais fácil colocar uma mulher na pista, só vê as vezes que eu já meti a cara pra resolver pendência na rua. A questão é que eu não tenho saído mais do morro, por causa de tudo que ainda tá em aberto nessa história do Capitão, e foi pensando nisso que decidimos dar a chance que ela queria.
Fiquei dois meses trabalhando todo dia com a Kemily e com a Cecília, deixei as duas no ponto certo, mas o que falta agora são coisas que só a vivência ensina. Por isso, preciso que ela bote a cara também.
— Barreira é muito de frente, ela tá ganhando experiência ainda, tô tentando chegar num consenso contigo, Patroa — ele bate na mesma tecla e eu solto o ar pelo nariz.
— Chocolate, não tem porra de consenso nenhum enquanto você não assumir essa menina — paro de andar e olho pra ele — Teu consenso tem que ser com ela e não comigo, cara. Fica querendo proteger ela a todo custo, mas tá mais do que ligado que essa foi a vida que ela escolheu. Quer tirar ela da contenção do morro e colocar a culpa em mim porque sabe que ela vai ficar putassa contigo — volto a andar e ele vem atrás de mim — Banque suas escolhas.
— Tu tá estressada hoje, ein, irmã? — Ele vem andando atrás de mim, de mansinho, e eu rio.
Ele só entende quando eu explodo.
— Estressada? — pergunto olhando pra ele de rabo de olho — Tem uma semana que tu tá enchendo meu saco com isso.
— Porra, e você não me ajuda — ele diz e faz um joinha pra um cara do outro lado da rua.
— Homem feito desse e com medo de uma menina de dezoito anos. Inacreditável — Nego com a cabeça, atravessando a última esquina antes da casa da Laís — Toma vergonha na cara e assume essa garota, conversa com ela ou então toma a atitude que tu quer e foda-se, mas eu não vou entrar nesse teu jogo não.
— Ô mulher ruim, puta que pariu — ele fala baixo e eu rio — Não sei como meu patrão atura não, viu?
— É que ele não é frouxo igual você — digo quando chego no portão da Lais
— Ele te obedece — ele ri — Falando nisso, cade tua contenção? Ele não quer tu andando sozinha por aí não.
— Eu preciso de segurança pra andar de casa até aqui? — Levanto a sobrancelha direita — Bom dia — falo pros dois meninos que estao na porta — To entrando, tá? Ela já sabe que eu vim.
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Sonho dos crias [M]
FanficE fé no pai, sei Que todo mal contra mim vai cair por terra Nós gosta da paz, mas não fugimos da guerra Paz, justiça e liberdade, fé nas crianças da favela Eu vivo a vida e amanhã não me interessa Lorena, vulgo Princesa, tá terminando a faculdade d...