Capítulo 82

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Capítulo 82 — Jogador

— Fica calmo, caralho — Dom me pede pela milésima vez e eu passo a mão no rosto.

— Não me pede essa porra — bato na mesa da boca da Penha — Eu já tive paciência demais, paciência para um caralho, Dom. Minha mulher tomou a porra de um tiro, no mínimo eu vou meter a cara lá na Nova Holanda porque eu tô ligado que ele deve tá abrigando o arrombado — respiro fundo.

— Acharam o Maomé? — Dom pergunta pro Leão, me tirando do foco principal da conversa.

— Foi de ralo, Princesa e 2W quebraram ele — responde, passando a mão na barbicha loira.

Porra, não consigo descrever o meu desespero estando aqui, longe dela, sem saber como ela tá, sem poder fazer nada. Achava uma viadagem do caralho quando eu ouvia alguém falando essa parada, mas a verdade é que eu queria que o tiro tivesse sido em mim e não nela. 

— Minha tia chegou no hospital — Pikachu entra na sala — Mandou o papo de que ela tá na sala de cirurgia, tão tentando tirar a bala que ficou alojada, mas eles não tem notícia ainda.

— Manda o Dedé vazar de lá então — Dom avisa e sinto um aperto do caralho.

Que inferno fudido que eu tô vivendo.

— Quero todo mundo atrás do filho da puta — levanto da mesa — A favela tá na mão de vocês aí e tu — aponto pro Pikachu — me mantém informado.

Saio da boca e vou até a antiga casa da Lorena, com Fiel, Pretinho e Mtzinho me seguindo.

Entro pela sala e olho o sangue no chão da cozinha, imaginando que seja dela. Cruzo meu olhar com o do Pretinho e ele entende o papo de que não é pra me seguir.

Subo uma escada pro quarto, porque lembro de ter vindo aqui muitas vezes na infância. Era o único lugar que ela sentia segurança em deixar eu e o Sábio irmos, por causa do nosso pai.

Minha família morreu confiando nele.

Pego meu celular no bolso e ligo pra única pessoa no mundo que vai entender meu medo agora.

Laís: Aí, graças a Deus você me ligou — ouço a voz de choro da minha cunhada — Como ela tá?

Jogador: Não sei — falo baixo, sentindo umas fisgadas na cabeça.

Laís: Vai dar tudo certo, tô sentindo isso, sentindo que vai dar certo.

Jogador: Como você conseguiu?

Laís: Consegui o que? — pergunta confusa.

Jogador: Suportar perder o Sábio, po. Tu ainda tá aí — explico melhor.

Laís: Não tô, não. Quem tá aqui é outra pessoa, a Laís que precisa ser mãe e amiga, mas a Laís do Sábio não existe mais  — ouço ela fungar — Ninguém sobrevive a isso, Matheus, é impossível seguir sendo a mesma pessoa.

Jogador: Não quero viver isso — sento na cama do quarto que era da Lorena — Esse é o caralho do meu melhor jeito de ser, quando tô com ela, não dá mais pra ser de outro jeito.

Laís: Você não vai, ela é guerreira. Fora que nunca ia te deixar sem antes dar um esculacho por ter trancado ela em casa — ela alivia o tom de voz e ri.

Jogador: Tá sabendo já? — eu sinto meu peito aliviar por relembrar o jeitinho dela.

Laís: Cecília falou, Lorena saiu pelo basculante do banheiro e Kemily derrubou na bala a porta da casa delas pra Cecília conseguir sair. Sério, elas me dão medo — eu balanço a cabeça e sorrio, imaginando ela pulando o basculante, porque sou apaixonado em tudo o que ela faz.

Jogador: Muito teimosa, puta que pariu, não aguento isso não.

Laís: Se ela não fosse assim, você não ia se apaixonar — diz a verdade — Como você tá se sentindo?

Jogador: Com ódio — falo com sinceridade.

Laís: Não faz besteira, Matheus.

Jogador: Não vou, cuida de você, Dadai e do Lucas, por favor.

Laís: Pensa com calma, a gente também precisa de você.

Jogador: Relaxa, só vou tomar uma atitude quando ela tiver 100%. Meu foco é ela e vocês em primeiro lugar, não tem filha da puta nenhum pra tirar minha atenção de vocês.

Laís: Tá certo, fica bem. Nós amamos você, meu cunhado.

Jogador: Também amo vocês — Respiro fundo e desligo o celular.

Levanto da cama, guardando o celular, e reparo em cada detalhe daquele quarto antes de descer pelas escadas

Decidi na minha cabeça isso, só vou tomar atitude quando a Lorena tiver 100%. Não posso fazer nada que vá respingar na segurança dela longe de mim.

— Fiel  — chamo e ele aparece no pé da escada — Procura saber se tem alguém lá na comunidade que trabalhe nesse hospital aí.

Ele concorda e eu sigo até a sala.

—  Quero 4 turnos rondando lá perto do hospital até nós pensar numa forma melhor de proteger ela — digo pro Pretinho — É pra ficar na atividade de tudo, quem entra, quem sai, paciente, polícia, tudo.

— Já mandei uns pra lá, acompanhando a dona Solange.

— Show, mas eu quero eles alternando os turnos, tudo pra ser mais no sapatinho possível, sem chamar muita atenção pra ela — ando de um lado pra outro da sala — Qual foi o papo que o vizinho mandou quando deixou ela lá no hospital?

— Bala perdida, disse que era uma vizinha dele e que tomou um tiro quando tava chegando em casa no meio do confronto.

— Procura o coroa, vê se ele ou a família tão precisando de alguma parada, quero ajudar ele — digo pro Pretinho e depois viro pro Mtzinho — E tu separa uns vapor aí, faz uma fogueira e manda queimar tudo o que for do filha da puta, menos foto da Lorena criança e essas paradas que ela possa querer.

Minutos depois, falo com a Rapunzel no Whatsapp, ouço a porta da frente abrir e Pikachu entra na casa com a cara de quem tá tentando organizar as ideias, antes de me falar alguma coisa. Eu sinto minha mão gelar e toda o meu corpo ficar doente.

— Qual foi a merda que deu agora — tento me controlar e não pensar no pior.

— Dedé foi preso e os vermes já sabem quem é a Princesa.

Sonho dos crias [M]Onde histórias criam vida. Descubra agora