Capítulo 94

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Capítulo 94 — Jogador

— Tem ninguém estressado aqui nã​o​, loirinha, mas tá geral querendo voltar pra casa, sai dessa porra, seja mulher, vamos acabar com isso — ouço um filho da puta dizer ao longe quando vou me aproximando pelas costas deles, usando a porra do apelido que eu dei a ela.

Sem esperar, parto pra cima, atirando. Vejo uma mulher entre os caras, ela quem conversava diretamente com a Lorena antes. Um deles vira na nossa direção, tentando conter o fogo que eu, Leão e Chocolate mandamos na direção deles, mas eu o derrubo.

— Dani — Não vejo de onde vem a voz, mas reconheceria em qualquer lugar do mundo — diz pra ele que eu não gosto que me chamem de loirinha, fico sensível.

Olho de relance pro Chocolate que ri, quebrando o clima do confronto, porque sabe que ela tá falando de mim, assim como eu também sei. Isso mexe com o coração do vagabundo.

— É o Jogador — um dos caras fala por cima do som dos tiro que estão cada vez mais próximos.

— Não fala o nome dele — Vejo o rosto da Lorena pela primeira vez em vinte dias, ela dá dois tiros certeiros e eu paro pra admirar ela.

Eu amo essa mulher com a porra da minha vida.

Ela olha pra mim também, a expressão dela muda e eu sei, pelo olhar dela, que vou precisar virar o mundo de cabeça pra baixo pra gente voltar ao ponto de antes.

Rapunzel  puxa o braço da Lorena, que parece contestar, mas segue a amiga.

Nós ganhamos a vantagem agora, deixando as três livres pra sairem pelos fundos do hospital.

Nas frações de segundos que seguem, um dos policiais percebe a movimentação delas e tenta virar para conter a fuga, mas eu empunho o fuzil novamente e explodo o crânio dele antes que elas estivessem em risco.

Sinto meu coração desacelerar e aproveito a pausa dos tiros pra olhar bem pra ela. De camisola de hospital e com aparência cansada, mas bem e linda, linda pra caralho. Quase não acredito que ela tá inteira depois do susto que eu levei, mesmo que a Kemilly tivesse atestado com os os olhos e garantido pra mim que a Lorena tava bem, ver com os meus próprios olhos é diferente.

Acompanho ela com os olhos até entrar no carro e o Pretinho dar a partida.

— Bora, caíram todos — Leão toma a frente, correndo pra fora.

Avisto um carro prata igual ao que a Lorena entrou e sigo até lá, ouvindo sirenes se aproximando.

Pitbull dá partida quando nós três entramos no carro.

— Dá bobeira não, meu Pit — Chocolate diz, abrindo a janela do passageiro.

— Sou de fuga, meu faixa — diz, sorrindo.

Esse moleque tem uma vocação pro crime e vontade de vencer que poucos tem.

Lembro que ele mesmo foi com a Lorena dar bote na Raquel naquela época.

— Vira a primeira à esquerda, vamo pra Penha — Mando e ele concorda com a cabeça, concentrado no trânsito.

As sirenes vão se aproximando e o Hugo aumenta um pouco a velocidade.

Chocolate coloca a cabeça pra fora do lado do passageiro e eu também abro a janela atrás do motorista.

— Leão, me fala a localização delas — peço antes de começar a atirar pra trás.

— Princesa pegou a Avenida Brasil e Rapunzel e Kekel se aproximando do alemão.

— Me avisa quando elas entrarem na favela — digo e ajeito o fuzil pro lado de fora.

Impossível estar numa perseguição e não lembrar de como foi ver a Princesa dando a maior aula de tiro que eu já vi.

Lembro de dividir a atenção entre ela e o trânsito pra não perder nenhum detalhe, acho que já tava na dela pra caralho.

Foco na viatura de sirene ligada vindo atrás da gente e miro no pneu, dou uma rajada e algum deles acerta.

Do hospital pra entrada da Penha são uns dois minutos. Quando nosso carro passa, a barreira se fecha e os policiais recuam, porque uma patamo não tem condição de entrar num complexo.

Desço do carro em frente à boca e busco o número do pretinho, ligo e ele me atende no segundo toque.

Pretinho: Na escuta, chefia.

Jogador: Tranquilo? — pergunto, olhando o movimento no morro que tá nas mãos do Leão.

Pretinho: Tamo na avenida Brasil, mas tá limpo.

Jogador: Deixa eu falar com ela aí — peço enquanto ando até a banca, jogando meu fuzil lá.

Lorena: Oi — ela diz e eu não consigo decifrar.

Jogador: Você tá bem? — é a primeira coisa que eu pergunto, porque é a que mais me importo.

Lorena: Tô bem — suspira antes de responder.

Jogador: Escuta — passo a mão na testa, limpando o suor que se formou — Você tá indo pra Rocinha, Pretinho tá te levando lá

Lorena: Matheus — ela tenta me interromper, mas eu não deixo.

Jogador: Não, Lorena, escuta. Tu vai pra Rocinha, até se recuperar. Tá cheio de verme na tua cola, inclusive teu pai. Tu ficou vinte dias desligada de tudo o que tá acontecendo, vai pra rocinha sim, os irmãos aí vão te dá assistência.

Lorena: Eu tenho um morro pra cuidar ou não tenho? — diz rígida.

Jogador: Tem, mas Leão tá a frente de tudo até tu voltar. Vir pra cá seria manjado pra caralho. Em breve eu e Dom vamo colar aí.

Lorena: Matheus, a gente precisa conversar— diz usando um tom totalmente diferente do anterior.

Jogador: Eu tô ligado, linda — respiro fundo — Tô ligado que temos que sentar e conversar, eu já sei. Só lembra que eu te amo, te amo para um caralho.

Lorena: Uhum — sinto ela se controlando pra não chorar e passo a mão na corrente no meu pescoço.

Jogador: Nós vamos resolver. Vou mandar um celular novo pra tu, tenta não ficar dando bola em ligação.

Lorena: Tá bom.

Jogador: Tchau.

Ela desliga e eu fico parado na frente da boca, olhando tudo em volta, tudo que pertence à ela. Medo do caralho de eu deixar de fazer parte disso.

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E aí, será que vão ficar bem? 🥲

Sonho dos crias [M]Onde histórias criam vida. Descubra agora