Capítulo 27

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Capítulo 27 – Jogador
Cpx do Alemão, Rio de Janeiro

Paro a moto e Pikachu tá sentado na frente da boca. Eles me olham quando desço da moto e balanço a cabeça pra eles cumprimentando. Pikachu manda eles pra algum corre e eu ando em direção a ele, vendo os moleques saírem de moto.

— Tô querendo bater um papo contigo — ele diz sem olhar pra mim, pegando um pouco de erva que tava na mesa e bolando um baseado.

— Qual foi? — eu pergunto tirando meu fuzil das costas.

Apoio o fuzil na quina da mesa e sento na cadeira na frente dele.

— Já to ligado que tu não curte muito a Raquel — ele fala e eu balaço a cabeça — a mina não fez nada, mas não vou te pedir pra amar ela não. Só quero que tu respeite ela como minha fiel, tá ligado? Se tiver questão pra resolver com ela, resolve comigo — ele passa a língua na seda pra fechar o baseado.

Eu olho pra ele. Não tô surpreso, sabia que eu ia sair como errado.

— Pikachu, teu irmão sou eu. Nós não é de sangue, mas é de coração. Tu tá ligado que não sou de falsidade, sou do papo reto, então vou te dar o papo — eu me inclino pra frente, colocando meu indicador no peito dele — Em uma semana, tua fiel desrespeitou lei da favela, tentou peitar um soldado, se jogou em cima de mim e tá tentando fazer tua mente. Eu não vou querer saber se tu tá apaixonado, ela já tá avisada, se vacilar contigo, quem vai cobrar sou.

Eu me levanto da cadeira, pego meu fuzil e entro na boca. Não vou ficar pra ouvir a resposta dele não. Sou otário não, parada que mais defendo é minha família. Foda-se se não gostou,vou continuar defendendo. Piranha eu conheço de longe, na hora que eu ficar puto de verdade, boto ela pra se resolver com a minha glock. Bagulho que me deixa fora do sério é isso.

Sábio tá na sala sentado na mesa e me olha. Jogo o fuzil na mesa ainda puto.

— Pikachu vai se fuder ainda, anota o que eu to te dizendo — eu aponto pra fora da boca.

— Jogador, cachorro aprende. Ele vai aprender também quando tomar uma na cara pra ficar esperto. Nosso menor é emocionado.

— Sábio, essa mina tentou me dar. Tu tá ligado nisso? Tu não imagina o que ela faz com geral ai na rua. — eu digo abrindo os braços.

Sábio me olha sério sem dizer nada, apenas pensando. Não é atua que o vulgo dele é esse, ele observa pra caralho antes de agir.

— Laís pegou neurose nela também, disse que tava filmando no baile e ainda tentou crescer pro mtzinho — ele diz calmo — mas não adianta ser impulsivo, deixa de ser nervoso.

— Tomar no cu, po — eu pego um baseado no meu bolso e levo até a boca acendendo — acordei bem pra caralho, suavão e vem ele nessa.

Eu fico passando a noite de ontem na minha mente enquanto trago na intenção de me relaxar. Esse papo de Pikachu me pegou atravessado.

— Tava comendo quem? — ele pergunta me zoando e tentando me fazer descontrair.

Eu olho pra ele e não digo nada.

— Ih, tava comendo alguém mermo. — ele diz se endireitando na cadeira.

— Tô ficando com a princesa — eu olho pra ele estudando sua reação.

Eu tô muito curioso pra saber como ele vai reagir.

— Princesa? — ele arregala o olho e levanta da cadeira nervoso.

— Tu coloca uma mina gata pra caralho pra morar comigo, queria o que, caralho?

Ele coloca a mão cheia de anéis na boca e me sem acreditar.

— Jogador... Se liga na tua responsabilidade, Capitão manda te matar e vai tá na razão dele.

— Sou moleque não, Sábio — eu franzo a testa e passo o baseado pra ele — to agindo namoral com ela.

— Papo de futuro? — ele pergunta pegando o baseado

— Tá cedo pra caralho ainda, ela tá com medo disso atrapalhar ela no corre.

Ele concorda com a cabeça e eu sinto meu celular vibrar..Passo a mão na minha permuda e pego meu celular no bolso. Quatro mensagens do Leão.

— Leão me mandando mensagem — eu digo entrando no whatsapp.

Mensagem de voz de Leão: Aí, Jogador, aqui na minha tropa rato passa mal. Pegamo o moleque que passou a informação da carga pros alemão. Te mandar o vídeo aí, irmão. Nós é faixa, não tem vacilação minha com vocês nunca.

Eu levanto e vou pro lado do Sábio pra nós ver o vídeo junto.

Dou play no vídeo de um menor, devia ter 20 anos, todo ensanguentado. Dois soldados do Leão que reconheço do dia que fomos lá dão madeirada na costela dele enquanto o próprio Leãp grita perguntando quem tava comprando ele. O moleque chora muito diz que fez pelo dinheiro, que um tal de vulgo sombra fez a ponte, mas que ele não sabia pra quem era o serviço.

— Tu sabe de algum Sombra? — eu pergunto pro Sábio quando o vídeo acaba.

— Irmão do Fael da Nova Holanda — Sábio sorri me olhando.

Bingo.

Tá mordido pelo baque que levou.

— Vamo preparar outra invasão — eu sugiro

— Isso não vai resolver a porra do x9 que tá trabalhando aqui no morro.

Isso é verdade. Quando começa a crescer praga dentro da comunidade, tu tem que arrancar o mal pela raiz. Se a gente der um baque lá, vai ficar explanado, o x9 vai sair de cena por um tempo, mas vai continuar palmeando tudo.

— Vamo planejar outra carga, vamo ver se eles vão peitar de novo.

Sonho dos crias [M]Onde histórias criam vida. Descubra agora