Capítulo 56 — Lorena
Solto o cabelo da Raquel, quando ouço ela falar que tá grávida do Capitão e poucos segundos depois, o Pikachu, que não tinha falado uma palavra até agora, passa por mim e segura ela pelos ombros.
— Tu deu pra mim durante quase dois meses — ele sacode o corpo dela — e vem dizer que tá grávida do filho da puta do Capitão? Essa criança pode ser minha, sua piranha.
— Não é seu! — ela grita e chora — Esse filho é herdeiro da Penha. Eu e o Capitão vamos casar e viver juntos, criando nosso filho.
O Pikachu larga ela e passa a mão na cabeça, completamente chocado. Eu tento imaginar meu pai com essa garota e me dá um nojo absurdo, menina muito mais nova que eu, já era novinha pro Pikachu, saindo da adolescência. Toda iludida, achando que o Capitão vai dar o mundo pra ela.
— Presta atenção no que eu vou te falar — fico cara a cara com ela — Eu vou matar você e aquele fodido que me colocou no mundo, independente de qualquer coisa, nenhum dos dois vai viver. Agora é a tua chance de escolher como vai querer passar seus últimos dias de vida. Eu vou sair dessa porra desse barraco e voltar amanhã de manhã, você tem até lá pra decidir se vai bancar essa historinha de gravidez — digo e aperto com força o rosto dela, fazendo ela chorar — Eu não sou otária, Raquel, de princesa eu tenho só o vulgo. Se você mentir pra mim e não tiver grávida porra nenhuma, eu faço questão de fazer tu sofrer o inferno na terra e presenciar o tiro que eu vou dar na testa daquele traidor. Agora, se tu tiver grávida, vai ganhar os meses que precisa pra criança nascer e na hora que ele tiver nesse mundo, tu pode ter certeza que você não vai nem encostar nele antes de ir pra vala.
— Não — ela nega com a cabeça — Tu não vai aguentar viver com a culpa de ter tirado isso de uma criança.
— Tirado o que? Um pai desleal e uma mãe desequilibrada? Eu tô fazendo um favor por mundo e pra essa criança.
Viro de costas pra ela, respiro fundo e passo o braço pelo Pikachu, arrastando ele pra fora.
— Será que essa porra de filho é meu? — ele passa a mão no rosto e diz quando chegamos do lado de fora.
— Calma, a gente não sabe nem se ela tá grávida — Ando até a moto do Jogador e encosto.
É uma sequência de merda sem parar. Maldito o dia que eu escolhi entrar pra essa vida. Se ela tiver grávida mesmo, vou manter minha palavra, nunca vou conseguir ficar tranquila tentando contra a vida de uma criança inocente, mas vivos pra fazer com o bebê o que meu pai tem feito comigo, não ficam.
O amor que eu sinto por ele não some de um dia pro outro, mas foi ele mesmo quem me ensinou que não dá pra deixar ninguém crescer pra cima da gente, então não tem dois papos. Vou fazer valer toda a educação filha da puta que ele me deu. Se ele, que me colocou no mundo e me criou, não tem vergonha de ficar enviando áudio dizendo que vai me cobrar, eu também não vou ter de plantar uma bala na testa dele.
Matheus sai do barraco, pega um baseado no bolso e acende, dando um dois.
— Ai, 2W — chama e o menino chega perto dele — quero cinco fazendo a segurança desse barraco, essa filha da puta pode nem sonhar em sair daqui. Manda alguém trazer uma parada pra ela comer mais tarde.
— Beleza, patrão.
— Atividade — ele anda até o Pikachu e eu acompanho cada movimento do corpo dele com o meu olhar — Tá suave, meu mano? — oferece o baseado.
— To tranquilo — Pikachu responde e pega — Vou passar a noite lá na minha tia, dar uma atenção pra coroa.
— Faz isso, po. Tamo junto
Ele levanta o olhar pra mim e passa a língua pelo lábio. Meu coração acelera quando ele vem andando e para na minha frente.
— Será que tem como a gente conversar? — pergunto baixo.
— Bora lá em casa — diz sério e eu concordo.
Vou pro meu carro, o banco de trás tá cheio de sangue, mesmo assim eu dirijo seguindo a moto do Matheus pelas ruas. Já tá de noite, os moradores tão começando a sair mais de casa depois de tudo, mas as coisas ainda não estão tão completas como quando eu cheguei aqui. Lembro de sentir a felicidade da comunidade comandada por eles, mesmo com todos os desafios de se morar numa favela, era um lugar com uma energia foda.
Vou prestando atenção em cada coisa no caminho pra evitar pensar no que ele vai me dizer.
Desço do carro e sigo atrás dele, entrando em casa. Ele coloca o fuzil em cima da mesa, depois a glock e a carteira, mas não diz nada.
— Fala comigo, Matheus — eu peço e ele apoia as duas mãos na mesa, abaixando a cabeça.
—- Tô aqui.
— Então fala comigo. Sou eu, porra. Não é meu pai. É a loira do Jogador. Eu caio na porra da bala e mato quem tiver na frente por você. Sei que tá doendo, tô tentando te respeitar, mas me ouve, uma vez.
— Fala que tu não sabia — ele vira pra mim e pede, segurando meu rosto — Eu não quero mais acreditar em ninguém e sair como otário, mas eu te amo, porra. É errado traficante amar? Porque te amo pra caralho e se tu falar que não sabia, olhando na porra dos meus olhos, eu vou acreditar. A morte do meu irmão vai continuar doendo pra caralho, mas eu não quero lidar com uma facada sua nas minhas costas.
— Eu não sabia, Matheus — eu choro — Você é importante pra mim, a Laís é importante pra mim, o luquinhas... Meu Deus, o Lucas e o bebê que ainda tá na barriga — digo sem conseguir enxergar mais nada na minha frente por causa das lágrimas — Não trairia vocês, por favor, acredita em mim. — falo e ele fica calado.
Não sei se choro pela morte do Sábio, pela traição do Capitão, pelo sentimento que me esmaga ou porque foi a primeira vez que o Matheus disse que me ama. Me sinto culpada mesmo sem ter um pingo de culpa de nada. Queria mudar o sangue que corre nas minhas veias, sinto nojo de mim, de quem me criou e do que eu sou. Eu nem sei quem eu sou.
— Olha — eu limpo as lágrimas e tento parar de chorar pra conseguir falar — Eu não vou forçar uma relação aqui, você tá sofrendo e eu também, não vamos causar mais dores um no outro. Se tu quiser ficar comigo, eu vou tá pouco me fudendo se é errado, nós vamos fazer ser o certo. — digo e dou um beijo na bochecha dele — Lembra? Tu me disse isso antes da gente ficar, que se eu quisesse, tu ia fazer com que fosse bom. Então eu te digo isso agora, se tu quiser, eu atropelo quem tiver na frente, porque eu te amo, mas eu vou te dar o espaço que tu precisa.
— Não, linda. —- ele passa a mão na minha bochecha, limpando minhas lágrimas — Não preciso de espaço, preciso de você. Eu confio em você, eu não duvidei — ele tira o olhar de mim e joga a cabeça pra trás — Só é difícil pra caralho.
— Eu sei — digo chorando e ele encosta nossas bocas.
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Sonho dos crias [M]
FanficE fé no pai, sei Que todo mal contra mim vai cair por terra Nós gosta da paz, mas não fugimos da guerra Paz, justiça e liberdade, fé nas crianças da favela Eu vivo a vida e amanhã não me interessa Lorena, vulgo Princesa, tá terminando a faculdade d...