Sonho dos crias [M]

Capítulo 17

Capítulo 17 — Pov Jogador
Cpx do Alemão, Rio de Janeiro
Segunda, 18h

— Eu tava batendo um papo com a Princesa no almoço e ela disse que uma amiga dela que toma conta do dinheiro lá na Penha. — eu digo sentado na mesa enquanto fazemos o balancete do baile de sábado. — Aí ela disse que a mina pode vir aqui passar a visão de como ela faz.

— Mas aí ela teria uma noção das nossas paradas? — Sábio pergunta desconfiado.

— Não po, é que lá é tudo no computador e os caralhos aí ela ensina pra nós e leva um pagamento.

— Porra, agiliza essa meta aí! — Pikachu diz — Essa parada tá apertando minha mente, eu parei na sexta série.

Nós rimos.

Minha mãe sabia muito bem o destino que os filhos teriam, mas enquanto tava viva fazia questão de que nós fossemos pra escola, então eu e o Sábio honramos a vontade dela mesmo depois de morta e fizemos tudo, mas isso aí é raro entre a rapaziada do movimento. A maioria entrou ainda cedo como fogueteiro e foi crescendo sem acesso à educação.

— Semana que vem vamo precisar ir buscar uma carga lá em cabo frio, temos que planejar o transporte, o foda de pegar a ViaLagos é a PRF. — Sábio diz.

— Ou vai um bonde muito pesado e sai fazendo um estrago ou vai disfarçado, no talento. — Pikachu balança a cabeça pensando.

— Sábio tá muito visado, tu não pode sair do morro não, nem inventa. — eu aponto pra ele — Nessa meta aí vou eu.

— Tem que ter cuidado, po. Nós não sabe se ainda tem x9 aqui, como ficou a parada lá do polícia? — Pikachu pergunta.

— O corrupto deve brotar aí no baile sábado, ele sempre vem, vai me passar a visão.

— Por essas paradas aí que não queria envolver um bondão nessa carga, é pouca coisa, vai vir tudo nos bancos do carro, mas é cara pra caralho. Quanto menos gente souber, melhor.  — ele diz encostando na cadeira — Vai ter que ser no talento, mas nós somos a cara do crime, se bater em Blitz fudeu.

— Manda a Princesa — sugere Pikachu.

— Não vou colocar ela sozinha nessa, não é bola redonda. Se der merda o Capitão corta minha cabeça.

— Eu vou com ela, po. Não acha que passa batido? — Pergunto

— Vai parecer um casal indo pra viagem romântica pra cabo frio — Pikachu ri e eu mando um dedo do meio pra ele.

(...)

Às 21h entro em casa largando minhas coisas em cima da mesa de jantar. Noto a casa toda apagada, o menor que faz a segurança da casa avisou que a Princesa ainda não chegou.

Hoje o dia foi longo pra caralho, parece que vivi uns 3 dias nessa segunda-feira. Vou até a cozinha e faço um prato com a comida que a tia do Pikachu fez, ela dá uma moral pra mim na arrumação da casa e comida.

Sento no sofá e coloco em qualquer partida de futebol que esteja passando. Fico ali jantando e vendo o jogo.

Essa semana vai ser cheia de dias assim, só pica atrás de pica, mas é justamente por isso que o morro tá crescendo tanto. A rapaziada de fora do movimento acha que minha vida de sub é só mandar e curtir, mas a parte mental do comando é cansativa pra caralho.

Sábio diz que o meu defeito é querer fazer tudo ao invés de mandar que façam, mas quando eu não tenho certeza de que a parada vai sair exatamente como eu quero, vou lá e faço eu mesmo. Por isso eu fortaleço pra caralho os meus mais chegados, tipo o Pretinho, sabem como eu gosto das paradas e não negociam com o fracasso, agem de acordo com a minha conduta.

Pode falar que eu sou impulsivo, mas to sempre vendo lá na frente. Tanto que nem pensei duas vezes antes de matar o Mendonça, se a polícia vir, nós bate de frente, isso é o de menos.

Quando acabo de jantar,  vou até a cozinha e coloco o prato e copo na pia ouvindo a porta da sala abrir. Viro pra trás e vejo através da bancada a Lorena entrando na sala e falando no celular.

Eu tomo um susto de primeira quando percebo que ela tá loira. Loira pra caralho. Muito loira.

Eu saio em direção a sala, paro no portal da cozinha cruzando os braços e ela me olha e sorri. Não consigo nem prestar atenção no que ela fala no telefone, porque ela loira é um crime. O cabelo novo realça a pele bronzeada dela, sem neurose, ela é uma das mulheres mais lindas que eu já vi na minha vida. 

Vai tomar no cu, é muita covardia eu morar com ela. Deus tá me testando.

— Tá bom, Cecília. Sábado tu me conta com mais detalhes — ela diz no telefone — Também te amo, beijos.

Ela desliga o celular e olha pra mim de novo, joga a cabeça pro lado fazendo o cabelo balançar.

— Vai ficar me olhando com essa cara? — ela me pergunta com uma sobrancelha arqueada.

— Tá gata pra caralho assim loira — eu respondo ainda encostado e de braço cruzado.

— Gostou? — ela pergunta vindo na minha direção e jogando o cabelo pro lado com aquela cara que ela faz.

Bandida.

— Você assim tá no top imagens mais lindas que eu já vi na vida — eu digo olhando nos olhos dela que ri e desvia o olhar.

— Deixa de ser descarado, Jogador — Ela diz ainda com carinha de riso.

— Tua beleza e postura que não facilitam com a minha vida — eu digo chegando bem perto dela, sentindo sua respiração.

— Será que eu vou me fuder muito se eu ceder um pouquinho a essa química que a gente tem? — ela morde o lábio inferior e diz me olhando com cara de dúvida.

Isso quer dizer que ela tá na mesma linha de pensamento que eu. Sabe que tem uma atração rolando mas tem medo disso atrapalhar as paradas dela. Pra mim é muito mais fácil.

— To ligado no teu receio — passo a mão no cabelo dela colocando atrás da orelha — Se tu quiser, eu vou fazer com que seja suave pra tu, loirinha — digo colocando minha mão por dentro do cabelo e cheirando o pescoço dela.

Me afasto e subo as escadas em direção ao meu quarto.

É certo que quero ela pra caralho, mas não quero dúvida da parte dela. Se ela não tiver certeza, não vai rolar. A convivência ficaria uma merda com ela retraída.

Entro no chuveiro tomando banho gelado pensando numa certa loira aí. Ela tá linda pra caralho, esse sorvete com a Laís resultou em mais tesão reprimido nessa porra.

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nota da autora:
capítulo pra anx_claraz , obrigada pelo apoio 🫶🏼🫶🏼🫶🏼