Capítulo 80 — Jogador
Coloco meu celular no modo não perturbe pra não ouvir as ligações e mensagens da Lorena quando ela ouvir meu áudio.
Eu pensei muito nessa parada e tô ligado que ela vai ficar por conta do caralho comigo, mas eu não tenho mais como viver sem ela. Se eu tivesse sentado e conversado, ela não ia aceitar, ia bancar que queria vir e foda-se o resultado, só que quando eu planto uma neurose na mente, eu não erro. Ela aqui não ia dar bom.
Meu peito ficou pesado pra caralho nos últimos dias e depois dos papos que ela me deu, eu sei que ela ia travar se visse o Capitão cara a cara. Ele é o filho da puta que eu mais odeio no mundo, mas é o pai da mulher que eu amo pra caralho, não quero a imagem do jeito que tô pra deixar ele hoje na mente dela.
— Chocolate tá esperando teu aval pra nós entrar, Patrão — Pretinho fala comigo.
— Coe, cara, dá tempo ainda dela vir — Pikachu tenta chamar a minha atenção no banco de trás, mas eu nego.
— Não, vamo entrar agora — passo a bandoleira da M16 — Dá ok no bonde que tá na trilha. Quando estourar lá, nós parte daqui.
Respiro fundo umas três vezes e a Lorena não sai da mente, não quero entrar no confronto desconcentrado, mas o problema que eu arrumei com ela tá martelando aqui na cabeça. Vai me arrebentar, sem dó nenhum.
Alguns minutos depois, nosso comboio de blindado entra na principal estourando os moleques da barreira deles.
A entrada da comunidade tá meio vazia, nós travamos alguns tiros, mas o pau tá quebrando mesmo é lá perto do mato, onde a guerra começou. Nos últimos meses, muitos crias daqui procuraram a facção por não concordar com as atitudes do Capitão e tão hoje ajudando a tomar a favela de volta pro nosso comando.
— Tamo no miolo já, atividade — digo pros moleques que tão comigo, depois de meia hora de trocação com os caras.
Encosto no muro da lateral do beco que dá pra boca principal da Penha, respirando antes de entrar de meter a cara no confronto de novo.
Pretinho coloco a mão no meu ombro e me mostra mensagem do Tictac avisando que a Lorena conseguiu sair do Alemão.
— Caralho, vai tomar no cu, vinte homens e ninguém viu essa porra? — olho pra ele, puto pra caralho.
— Tu escolheu a mulher mais correria do rio de janeiro, reclama não — Pikachu diz colocando a mão no meu peito e eu bufo, já prevendo a merda que vai ser quando ela chegar aqui — Vamo terminar o que nós começou.
Tento colocar minha cabeça no lugar e me manter firme na missão, mesmo na vontade de recuar e ir atrás dela.
— Localiza ela aí — digo pro Pretinho — vai me passando a visão.
Faço sinal pra eles e nós parte pra cima dos seguranças da boca. Dá pra ver que a qualidade deles é mais fraca que a nossa, nosso armamento é mais pesado e eu só trouxe os selecionados pra essa missão. Pikachu toma um de raspão na perna, mas cai um por um do lado deles e uma parte do nosso bonde toma a boca principal.
— Aí, Patrão, ela chegou na Penha já, tá na companhia do 2W— Pretinho diz pra mim e eu passo a mão da testa, pra limpar o suor, porque o sol já tá castigando — Qual a ordem agora?
— Botar o resto desses rato pra correr e caçar o filho da puta do Capitão — digo com seriedade.
Acho um rádio em cima da mesa da boca deles, quanto os moleques fazem a segurança da porta.
Jogador: Cadê tu, padrinho? Me chamou de moleque, não foi? Tô aqui dentro da tua boca, po, vim bater de frente contigo, quero ver se tu é homem pra brotar aqui e me peitar — uso da mesma covardia que o BW usou comigo.
Capitão: Sou burro não seu moleque, o que tu tem de vida, eu tenho de correria. Tu não é ninguém, filho da puta — ouço a voz dele pelo rádio, alguns segundos depois, misturada com os tiros no fundo.
Jogador: Sou o Jogador, po, tu colocou meu vulgo, mas não me conhece. Teu inferno tá só começando, vem bater de frente comigo se for homem, seu fudido.
Coloco o rádio na cintura e olho pro Pikachu.
— Os moleques tão trocando com a segurança dele lá na rua da casa dele — Pretinho fala comigo — 2W reconheceu um dos filhos da puta.
— 2W? — Pergunto, sentindo minhas mãos suarem — Puta que pariu.
Se o 2W reconheceu a segurança do velho e a Lorena tava com ele, essas horas ela tá cara a cara com o Capitão.
Tento correr morro a cima, mas bato de frente com inimigo no meio do caminho. Minha cabeça tá latejando pra caralho, aperto o fuzil e tento dar os tiros certos pra conseguir chegar até ela o mais rápido possível.
Quando finalmente chego na rua da casa dela, já não ouço um único tiro, se passaram muitos minutos. Um gol antigo passa voado perto de nós e usamos o muro de escudo, pensando ser envolvido da tropa do Capitão.
Corro até o portão que lembro ser da casa que eu frequentava na infância e vejo que os meus já estão lá dentro.
Um cara, que eu reconheço como o Leão pelo cabelo loiro saindo da camisa enrolada no rosto, caminha até mim, me olhando firme, tentando não demonstrar nervosismo.
Olho pro lado e vejo o 2W me olhando também, enquanto estanca com a blusa um ferimento na perna.
— Cadê a minha mulher? — pergunto encarando o Leão e sentindo um nó se formar na minha garganta.
— Preciso da tua tranquilidade, meu faixa. Princesa foi baleada, Dedé e um vizinho colocaram ela dentro do carro e levaram pro hospital agora, acabaram de sair — ele diz sem firula e meu mundo para, me fazendo largar o fuzil.
— Onde foi o tiro? — Pergunto e ele balança a cabeça — Manda o papo reto, Leão.
— Barriga — ele aponta pra uma área pouco abaixo do peito — ela tava sem colete, mas foi de pistola.
— Quem atirou? — engulo em seco.
— Capitão — 2W responde — Ou nós socorria a Patroa ou ia atrás do filho da puta.
Óbvio que esse filho da puta pensou exatamente isso quando apontou uma arma pra própria filha e atirou.
Não consigo decifrar a dor no meu peito, porque é mistura de um medo do caralho, uma sensação de culpa e impotência.
— Pra onde levaram ela?
— Getúlio Vargas, mas tu não pode ir, irmão — ele segura meu braço quando me viro e o Pikachu entra na minha frente.
— Não posso o caralho, minha mulher tomou um tiro, porra — falo, puxando meu braço.
— Tu vai complicar a situação dela no hospital com essa sua mente fervendo, Jogador, polícia tá te caçando igual bicho, vocês dois tão na boca de geral — Pikachu argumenta comigo — Quer que ela saia presa de lá, caralho?
— Irmão, é a minha loira — coloco a mão no rosto pra limpar a porra do choro que cai — Minha loira não, caralho, Deus não pode fazer isso comigo.
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Sonho dos crias [M]
FanfictionE fé no pai, sei Que todo mal contra mim vai cair por terra Nós gosta da paz, mas não fugimos da guerra Paz, justiça e liberdade, fé nas crianças da favela Eu vivo a vida e amanhã não me interessa Lorena, vulgo Princesa, tá terminando a faculdade d...