Capítulo 95

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Capítulo 95 — Lorena

Faz uma semana desde que fugi do hospital e vim pra Rocinha. A televisão não para de noticiar informações sobre a minha fuga, meu nome cresceu exponencialmente nesse meio tempo, muito mais do que quando fui presa. Esqueceram até mesmo de me relacionar com o Capitão.​

Tudo isso rendeu uma tentativa de invasão do BOPE na Penha, mas parece que a facção já estava esperando por isso e a contenção do morro foi reforçada.

Aqui o Coreano me dá toda a assitencia, uma enfermeira da UPA veio me ver duas vezes, mas eu to bem, sem problemas de saúde.

Na metade da semana, Dom veio conversar comigo, não rendi muito papo porque ele deu o aval pro Matheus me trancar em casa no dia da tomada da Penha e eu não quero forçar amizade com quem não confia em mim. Não tem porque dar uma confianca para que ela não seja recíproca.

Ele me passou a situação do morro, que tá sendo comandado pelo Leão e pela Rapunzel, além da situacao do Capitão e do Dedé.

Eu não sabia que o Denilson tinha sido preso, mas antes de me entregar um celular novo, o Coreano me contou. Conversei um pouco com a advogada pelo Whatsapp e gostei da linha de defesa que ela montou, to na expectativa e coloquei a minha ficha à disposição pra ela usar.

Fico apreensiva pelo meu amigo, mas sei que ele tem cabeca pra aguentar bem a cadeia até o julgamento,​ quem deixa meu coração apertado é a Tia Iracema e me mandou vários áudios chorando de medo do futuro do filho. Ele entrou pro crime pra sustentar a casa e ela se sente muito culpada por isso. Eu me sinto culpada também, por tudo, por ter ido e por ter falhado.

Pego o celular em cima da mesa da casa que tô ficando e me olho pelo reflexo da tela.

— Qual cabeleireira é famosa aqui? — pergunto ao Coreano, que veio me dar um recado do Dom.

Ele não tá falando nada diretamente comigo pra não gerar problema nenhum com grampo e whatsapp clonado.

— Geral fala que a Tamires braba — Ele apaga o baseado no cinzeiro na frente dele e me olha — Desceu duas ruas, aquele salão preto com dourado. Vem umas minas da pista pra fazer com ela.

— Será que você não me arruma um horário com ela hoje não? — Olho pra ele, colocando o celular bloqueado em cima da mesa de novo — Nunca te pedi nada.

— Pediu pra treinar meus soldados — ele abre uma gaveta e tirando um celular de lá.

— Isso é favor que eu vou fazer pra você, em agradecimento a hospedagem.

— Eu tinha é que te pagar pelo treinamento, papo reto — Coreano desbloqueia o celular, mexe rápido e depois coloca na orelha — Coe, Tamires. Coreano na voz, beleza? Po, te falar, será que tu não arruma um espaço na tua agenda pra atender uma prima minha, mas tem que ser aqui em casa, a mina não pode ir no salão não. — Presto atenção nele falando no celular — Show, valeu.

— Eu vou me arrepender de perguntar como tu tem o telefone da cabeleireira — digo, rindo, quando ele desliga.

— Ela é gata, gata pra caralho. De vez em quando nós dois se pega — me responde, antes que eu realmente pergunte — Vai chegar em quinze.

— Beleza, vou tomar banho, valeu.

— Jogador vai brotar aí mais tarde, vou tá na boca, qualquer parada, um dos dois me da um salve.

Eu tomo banho e a cabeleireira chega quando o Coreano não tá mais no meu barraco. Ela é uma fofa e realmente muito linda. O brilho do cabelo preto dela é coisa de outro mundo.

Sonho dos crias [M]Onde histórias criam vida. Descubra agora