Capítulo 51

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Capítulo 51 – Lorena

Largo o carro na barricada, a gente tá entrando no complexo pela fazendinha e a única informação que temos é que os inimigos estão vindo pela serra da misericórdia. Todos os comércios do morro já estão fechados, mas as ruas aqui de baixo estão calmas.

Tiro o salto e o blazer que to usando, jogo no meio fio, vai ser melhor descalça.

— Tem a localização do Sábio de do Jogador? — pergunto pra um dos meus na barreira, o complexo é gigante, não sei nem por onde começar a agir.

— Concha viu o Jogador na Matinha, lá o pau tá quebrando, tamo nas ordens do Chocolate.

— Mantém assim — Pikachu me entrega um colete e eu visto.

Depois que falei com a Cecília no telefone, vi várias mensagens do Matheus, aí percebi que tinha dado alguma merda. Pikachu conseguiu falar com o Chocolate, os outros tinham ido pro confronto e ele tava fazendo a comunicação com morros aliados e a segurança da casa do Sábio. Trouxeram armamento e uma moto pra gente aqui na altura da Avenida Itaóca.

Fiel tá aqui na barreira, ouvindo as informações pelo rádio e eu presto atenção.

"Coe, cadê o cuzão do Jogador? Ele é brabão atrás do radinho, gosta de esculachar os outros, quero ver ele aqui na alvorada pra bater de frente comigo, porra"

Meu coração treme quando eu reconheço a voz, a qualidade do som é uma merda, mas eu reconheço.

— BW — falo ainda atônita e o Pikachu olha pra mim sem entender — A voz é igual a do BW.

" Aí, rapaziada. O BW da penha pulou, avisa pra geral que o BW pulou o muro. Tá junto com alemão da cidade alta. Manda o papo pro Capitão, avisa o Dom, é pra geral ficar na atividade", dessa vez quem fala é o Pretinho.

Caralho, o Denilson sempre teve certo de que uma hora ou outra o BW ia meter a faca nas costas do meu pai. Ele pegou um ódio surreal do Matheus. Minha mente tava voando, criando mil possibilidades e conexões.

— Filho da puta — Pikachu xinga e sobe na moto com o fuzil nas costas.

— Toca pra Alvorada, Jogador vai atrás dele, com certeza — digo subindo na garupa.

No caminho, eu baleei uns três inimigos. Pikachu subiu a comunidade a mil, na principal da Alvorada não dava mais pra continuar de moto, a trocação tava muito intensa e a gente ia acabar caindo.

Pikachu entra numa viela de casas e eu vou atrás, passando por dentro, até chegar no ponto onde tava a maior concentração de tiros. Sinto minha respiração pesar, a sensação é de que meu coração tá batendo nas mãos e eu aperto mais o punho do fuzil. Fecho os olhos pra recuperar o fôlego e me concentro. O barulho de tiro tá muito alto, mas, mesmo sem entender, consigo ouvir a voz do Jogador.

Se eu passar pela esquina, vou ser metralhada,

— Eu vou atirar e tu passa — Pikachu fala.

E assim ele faz, devolve os tiros na direção dos inimigos, protegendo minha retaguarda. Por dois segundos eles param de atirar e eu consigo passar, vejo dois dos nossos chegarem pra dar apoio ao Pikachu, então sigo por mais uma quadra, na direção de onde eu sinto que o Matheus tá.

Eu me escondo atrás do muro de um barraco, olho pro lado esquerdo e a trocação tá rolando na principal, ainda apoiada na parede, movo o rosto pra ver o que acontece também na viela à minha direita, antes de prosseguir. Vejo que o Jogador tá rendido, com as mãos pra cima, mas discutindo com o BW. Meu coração acelera e eu miro no BW, espero um segundo e ouço mais vozes.

Sonho dos crias [M]Onde histórias criam vida. Descubra agora