Capítulo 124

1.9K 148 11
                                    

Capítulo 124 - Lorena

Quase oito horas da manhã, eu abro a porta de casa e olho do outro lado da rua, vendo que Concha e Pitbull assumiram posto na segurança da casa depois da troca de plantão.
Os dois percebem que eu saí no portão e atravessam a tua vindo na minha direção, carregando cada um o fuzil nas costas.

— Bom dia, Rainha — Concha apoiou no portão e eu sorri pra eles — Chocolate foi dar uma descansada, porque o homem tá viradão já, aí colocou nós aqui na tua disposição.

— Tranquilo — eu respiro fundo e jogo os braços pra cima, tentando aliviar o peso da barriga.

— Tá precisando de alguma coisa? — Pit me analisa naquela carinha séria dele e eu nego com a cabeça antes de deixar meus braços caírem ao lado do corpo.

— To bem, a barriga tá começando a pesar pra caralho — meus filhos do tráfico sorriem enquanto eu passo a mão na minha pele exposta, sentindo meu neném — Pretinho deu algum sinal de vida?

Pergunto porque se viram pretinho, era sinal que Jogador estava de volta, sem me avisar. Duvido muito que nessa altura do campeonato ele não me deixaria informada de cada passo, mas sei também que ele se preocupa que eu tenha um pouco de descanso pelo bem do nosso filho.

— Não vi não, chefona — ele diz e eu respiro fundo.

Sinto aquela pressão atrás do olho que não me abandona desde que chegamos do Baile de aniversário do Dom e encontrei a Soraya desesperada em busca do filho dela. E a sensação é mil vezes pior agora que eu sei que o Matheus tá na pista batendo de frente com quem fez um milhão de covardias com a gente e com a nossa família.

Apoio meu braço na porta de casa quando mais dos sentimentos ruins me invadem. É como se eu sentisse todo o medo de Soraya em mim e ainda precisasse me manter concentrada para tomar boas decisões. Toda decisão que tomei no último ano foi de vida ou morte e cada dia que passa essa urgência aumenta. Não temeria tanto se fosse apenas pela minha vida, mas tem muita gente que depende de mim e o exemplo que quero dar pro meu bebê começa aqui.

Como se adivinhasse meus pensamentos, olho pela rua, um pouco depois da segurança que controla o acesso que dá pra casa, vejo Soraya vindo na minha direção. Seguida por Rita, quem eu pedi ajuda para amparar a mãe do meu irmão, porque eu sabia, que entre todas as pessoas, aquela que me pariu e comeu o pão que o diabo amassou pelas mãos do Capitão, entenderia.

— Quer que mande o papo pra elas voltar depois? — Pit perguntou e eu neguei.

— Ela precisa de respostas, eu vou dar o que eu tiver.

Sigo meu olhar para a morena, seus cabelos não têm mais o mesmo brilho de quando nos encontramos pela primeira vez, estão presos num coque no topo da cabeça e as olheiras mostram como a alma dessa mãe está quase fora do corpo. Ela sustenta o olhar pra mim também e não precisa dizer nada pra que eu saiba que todas as expectativas do seu coração estão depositadas em mim.

— Lorena — Rita chamou minha atenção — Desculpa vir aqui. Eu disse a ela que você diria se tivesse alguma novidade.

— Não tem problema, fica tranquila... Vamo entrar vou passar uma café pra vocês

Estico meu braço e busco a mão de Soraya, guiando ela pra dentro de casa.

Sigo pra cozinha, colocando a água pra ferver enquanto dobro o filtro de papel para colocá-lo no passador.

— Me fala alguma coisa, por favor — Soraya pede, encostada no balcão da cozinha — qualquer coisa que possa me dar um pingo de esperança de que vão encontrar meu filho bem.

Sonho dos crias [M]Onde histórias criam vida. Descubra agora