Capítulo 33

3.9K 316 11
                                    

Minimaratona 22/05

Capítulo 33 — Jogador
Cpx do Alemão, Rio de Janeiro

— Nem te vi ontem — falo pra Lorena que tá sentada na espreguiçadeira no quintal.

— Fiquei até tarde na casa da Laís, cheguei morta e fui dormir, você ainda não tava em casa — ela fecha o livro que tava lendo e olha pra mim de baixo.

— Pretinho falou que um cara esbarrou na Laís — eu sento na ponta da espreguiçadeira — Sábio ficou louco lá.

— O momento em si não foi nada demais — ela pega um baseado e o isqueiro do lado — mas eu acho que ele queria olhar pro rosto dela.

— Ele prestou atenção no Lucas? — ela nega com a cabeça acendendo o baseado e dando um trago.

— Só pediu desculpas e seguiu, mas a passagem tava livre, não tem sentido, entende? — ela dá outro trago e solta a fumaça pra cima — Tanto que Laís voltou a olhar as roupas como se nada tivesse acontecido, eu e Pretinhos que ficamos alerta.

— Tinha mais ninguém na loja? — Ela me oferece o baseado e eu pego.

— Duas mães e as vendedoras — ela tira o livro do colo e coloca no chão — Segurei o Lucas e o Pretinho foi olhar a movimentação no corredor, mas não tinha nada — coça o cantinho da boca e sobe mais um pouco na espreguiçadeira abrindo as pernas pra eu deitar.

— Sábio vai trancar ela em casa agora — digo deitando nela.

— Eu fiquei pensando nisso, a chance de não ser nada é grande, mas arriscar não dá.

— ainda mais com ela grávida — ela concorda e pega o baseado de volta da minha mão.

Nós ficamos ali conversando e fumando um até escurecer e ela levantar porque uma menina ia vir aqui fazer a unha dela. A Lorena é uma mina maneira, eu e ela temos modos de agir muito diferentes, mas dividimos muitas ideias sobre o tráfico e a vida.

Eu entro logo depois, vejo ela e a manicure conversando sobre esmaltes e sigo pro meu quarto dormir um pouco antes do baile mais tarde. Lorena é completa pra caralho, ela cala a boca de geral que cria estereótipos sobre as mulheres no crime. Lá fora a gente falou de modelos de arma e aqui dentro ela fala de esmalte na mesma facilidade.

(...)

Sinto uma mão me balançar e abro os olhos.

— Vai acordar pro baile não? — Lorena pergunta e eu olho pra ela.
Ela já tá toda arrumada pro baile com um vestidinho verde claro todo aberto , a cintura dela tá exposta mostrando as tatuagens que ela tem. Acho que ela pegou sol hoje mais cedo, porque a marquinha dela tá bem forte, se destacando na pele bronzeada que brilha.

— Como que não levanto com uma visão dessa? — digo puxando ela pela perna — morri e to no paraíso — ela joga a cabeça pra trás e gargalha.

Percebi que essa é uma mania que ela tem quando eu falo alguma bobeira.

— Vim pegar aquele perfume seu que eu gosto. — ela diz enquanto eu sento na cama.

— Tu se amarra no cheiro do pai, né? — eu levanto e ela me encara levantando as duas sobrancelhas — É um que parece um Troféu, tá ali no armário, pega lá.

Vou pro banheiro, tomo um banho e saio com a toalha enrolada.

Ela ainda tá no quarto, sentada na cama, com a perna cruzada digitando no celular. Toda perfeita, o vestidinho verde fica mais curto ainda quando ela senta.

Ando até o armário, visto cueca, calça e começo a colocar minhas correntes e anéis, mas ouço meu radinho apitar.

Chocolate: Na escuta, Jogador?
Jogador: Manda
Chocolate: os moleques acharam o celular lá que tu mandou, no lixo
Jogador: Manda levar lá na casa do Cabeça, menor da informática, vê se ele descobre mais alguma parada

Sonho dos crias [M]Onde histórias criam vida. Descubra agora