Capítulo 85 — Lorena
Me mexo na cama do hospital e sinto os pontos que tomei na cirurgia repuxarem. Há uns quatro dias acordei, sem lembrar de nada o que aconteceu depois do tiro, mas supus que tinha sido presa pela algema no pulso e a policial sentada do lado.
Sei, pelo meu conhecimento jurídico, que não vão facilitar a minha vida, então visita é uma coisa que eu não espero. Passo o dia perturbando os policiais que ficam de plantão na minha escolta pra tentar me distrair da dor e da confusão que a minha cabeça tá.
Quero focar na minha recuperação, que tá muito rápida, e depois vem o resto.
— Porra, que linda essa na tv, quem é? — falo baixo, prestando atenção na TV, que mostra a minha foto.
Fui transferida da enfermaria feminina para uma ala separada no hospital, acho que eles querem selecionar ainda mais o acesso a mim.
Imagino que não é permitido que eu esteja assistindo tv agora, ainda mais com a quantidade de matérias sobre mim, mas os dois policiais que estão aqui deixam ela ligada no mudo pra se distrair também.
— Linda mesmo, pena ter se envolido em tanta coisa ruim por causa de um namoradinho — o homem responde, enquanto a mulher me ignora.
Ela é muito sem graça.
Porra, treinei uma vida inteira sendo herdeira da Penha pra ele vir falar que me associei por causa de macho?
— Assim você me ofende, sabia? — digo e fecho os olhos pra segurar a dor que vem e vai, mesmo tomando remédio constantemente direto na veia — Preciso de homem pra nada não. Se não fosse pelo papel na reprodução, vocês entrariam em extinção.
A policial ri pela primeira vez de algo que eu falo e preciso de pouco pra saber que ela tá tão amargurada quando eu com o amor. Quase morri, mas não perdoo o que o Matheus fez comigo.
— O foda é que ele é lindo — digo quando aparece uma foto minha e do Matheus num baile, nem namoravamos ainda, mas estavamos os dois sentados no sofá do camarote conversando, ele com o braço tatuado esticado no encosto e sorrindo pra mim — Espero que a filha da puta que tirou essa foto esteja queimando no inferno — sussuro e ambos me olha — Que isso, gente, sou esse monstro não, que horror.
Raquel tirou essa foto, não tenho a menor dúvida e a suposição deles também tá totalmente certa, mas nã sou idiota o suficiente pra dizer isso.
— Tira do mudo aí, queria ouvir o que tão falando de mim — perturbo mais um pouco.
— Não pode — a mulher me responde.
— É pra ser certo? — levanto uma sobrancelha — Então desliga e expulsa ele daqui — aponto pro cara — era pra ser outra mulher com você e eu deveria estar recebendo visitas — encaro ela, que espreme os olhos ao me olhar — Eu sou advogada, se você tivesse ouvindo as notícias, saberia.
— Ela é muito abusada — a policial se dirige ao parceiro, enquanto levanta — Vou na cantina, quer alguma coisa pra comer? — ela pergunta pra ele.
— Traz só um café — recosta no sofázinho.
— Isso não pode também, era pra você esperar alguém pra te render — digo olhando pra algema — Se eu me solto dessa algema, seu parceiro fica vendido.
Ela me olha com raivinha e eu seguro a risada, eu acabei de tomar um tiro do meu próprio pai, cara feia pra mim é fome, vai precisar, no mínimo, enfiar o dedo dentro da minha ferida pra me intimidar.
Divido a atenção entre ela saindo do quarto e ele olhando pra bunda dela. Nojento.
—- Você é casado? — pergunto, mesmo sabendo que falar de família é dar um passo pra uma zona proibida.
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Sonho dos crias [M]
Fiksi PenggemarE fé no pai, sei Que todo mal contra mim vai cair por terra Nós gosta da paz, mas não fugimos da guerra Paz, justiça e liberdade, fé nas crianças da favela Eu vivo a vida e amanhã não me interessa Lorena, vulgo Princesa, tá terminando a faculdade d...