Capítulo 122

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Capítulo 122 - Lorena

"Quando acabar tua missão aqui, volta pra casa e toma o teu morro, nós vai te apoiar. A facção vai te dar todo o suporte que tu precisar."

"Eu gostei de tu, Princesa — diz apontando pra mim — Tu é uma mina disposição, tem futuro garantido enquanto eu for chefe. Teu pai tá te minando e tu não tá vendo. "

"Eu te falei que enquanto eu fosse líder dessa porra, tu ia ter lugar aqui e eu tenho palavra pra caralho, só tu não vacilar comigo"

As palavras do Dom pra mim martelam na minha mente enquanto tento absorver o que o Matheus acabou de me dizer. Dom estava na Vila Aliança.

— Por que isso não me surpreende? — volto a olhar pro meu marido enquanto sinto a raiva crescer no meu coraçãol.

— Deixa ele ir contra, loirinha — diz firme e sério — nós já passou por coisa pior, temos disposição suficiente pra mais essa. O azar vai ser dele.

— Só não consigo entender como a gente não viu essa porra acontecendo debaixo do nosso nariz a vida toda — ele engole a saliva e olha pra cima, enquanto eu digo — São vinte e cinco anos de mentira e quanto mais a gente procura, mais mentira aparece, porra.

— A gente foi ensinado a confiar nesses caras, amor. Não tinha como saber.

— Matheus — coloco o cabelo atrás da orelha tentando me acalmar pra não passar esse sentimento ruim pro meu bebê — É a porra do chefe da nossa facção curtindo baile em morro rival... Sabe quanta merda pode ter rolado por trás disso?

Eu disse que mais uma traição não me surpreende e é verdade. Eu to puta pra caralho porque foi o cara que abriu meus olhos pra minha capacidade e pra traição do Capitão, mas preciso ser honesta... Meu pai tentou me matar, essa facada de agora não me causa surpresa.

Mas, a gente tá numa posição de merda agora. Isso é fato. Não tem como saber quem tá fechado com a gente e quem não tá.

— Ele se aproveitou da gerência da facção e da proximidade que tem de nós... Pensou que fosse ser fácil, que a gente ia tá focado em bater no Capitão ao ponto de não se preocupar, mas agora ele tá fudido porque já tamo ligados na conduta dele. Estamos na vantagem.

— Estamos na vantagem — repeti e olhei de lado pra Kemily, Chocolate e Pretinho que eu nem tinha visto voltar da região dos lagos — e o nosso bonde é foda.

— É isso, po — Chocolate concordou.

— Como vai se desenrolar isso? — a voz baixa da Kemilly se voltou pra mim e pro Matheus — Eu sei que disposição daqui não vai faltar, mas eles querem as favelas de volta e a gente sabe que o Capitão com apoio do Dom vai vir grande.

— Os caras são forte, tem a experiência que nós tá correndo atrás pra conquistar, mas nós tem humildade — Jogador encostou no muro, olhou pra mim e depois pros três soldados — Acham que são os donos do mundo, mas na nossa vida, ninguém é invencível, principalmente quem não é de verdade. A ideia que eu dou pra vocês é essa... Precisa de disciplina, sangue, suor e pé no chão, mas impossível não é, po... Traíram nós e daqui a pouco tão se traindo aí. Não tem a nossa moral e nem o nosso respeito.

Pouso a mão na parte de baixo da barriga. A força que eu preciso tá dentro da minha barriga esperando que eu melhore o mundo pra ele chegar. E melhorar o mundo da Princesa e do Jogador é quebrar o Capitão, não deixar que ele faça mais nenhum bebê dessa família nascer órfão.

Não to sendo hipócrita, sei da vida que a gente leva. Eu escolhi tá aqui e sei que mesmo depois que o bebê nascer, nada vai impedir que eu ou o pai dele não volte de uma guerra ou que a gente não rode na mão de polícia. Mas a honra é inegociável e a família ainda é sagrada no mundo do tráfico. Bom, menos pro meu pai... Então que se foda ele.

(...)

Sento na mesa e tomo um gole da coca-cola no copo de canudo rosa, ouvindo o celular chamando o número que disquei.

— Alô — a voz sonolenta do outro lado da linha me causa um enjoo forte e eu preciso respirar fundo.

— Dom? — digo baixo próximo ao celular — Princesa aqui. Tá me ouvindo?

— Qual foi? Tranquilidade? — diz, parecendo estar acordando — Tá tudo suave com meu sobrinho?

— Escuta, preciso falar rápido, Jogador tá dormindo, não quero que ele acorde — Corto a conversa fiada dele, porque ouvir ele falar do meu neném é tudo o que eu preciso pra ficar desestabilizada e jurar esse filho da puta de morte — Eu tentei dormir, mas não consigo, só fico pensando no meu irmão lá com o Capitão. Esse cara é louco, Dom. Sei lá o que ele pode fazer com a criança.

Não queria usar o menino, mas isso que eu to fazendo é pro bem dele.

— Tem que ficar suave, Capitão é até maluco, mas não é burro — tenta me acalmar — Sabe que mexer com criança é a gota d'água, po.

— Ele me deu um ultimato, Dom.

— Como assim? — se faz de desentendido.

— Onde você tá? — dou o benefício da dúvida pra ele, alimentando a minúscula esperança de que essa traição seja um mero engano — Queria falar pessoalmente, tô com medo de ficar dando bobeira no celular. Tá onde, na sua base?

— Tô na minha minha base — o tom de voz dele muda um pouco — Hoje fiquei na função de dar uma atenção pra minha mulher e fiquei tentando arrumar uma solução pra questão aí, o dia inteiro, não saí da favela.

Filho da puta mentiroso.

—Princesa — ele me chama depois de cinco segundos — manda o papo que o vacilão te deu, nós vai dar um jeito.

— Pelo celular não posso falar — tento fazer minha voz de máximo desespero e o Matheus me dá um olhar de incentivo — O Jogador não queria contar porque o que o Capitão pediu é muito, ele tá fora de si, prefere morrer tentando — Jogo a dica pra ver se ele vai cair e confirmar exatamente o que o Capitão quer.

— Como que eu vou te ajudar se tu não falar? — ele diz num tom mais baixo, tentando me convencer — É as duas que ele quer? O que é teu e o que é do teu marido? — as palavras são em código, mas são suficientes pra eu entender e ele sabe disso

Matheus levanta da mesa quando o Dom confirma pra gente que tá sabendo exatamente como o Capitão tá agindo.

— É — chego mais perto do celular, como se realmente fosse um segredo — Ele quer as duas, não sei o que fazer. Tem uma criança na jogada, entende?

— Se liga, tu consegue sair, sem o Jogador ficar na tua cola? Tu tá grávida, não vai se arriscar também. 

— De tarde ele vai tá na Penha, eu posso dar um jeito de ir...

— Vou te passar o endereço de um apartamento meu lá na barra, me encontra às duas.

— Até lá o Capitão já vai ter cobrado a resposta — digo — ele deve entrar em contato agora de manhã.

—Caralho... — ouço ele suspirando do outro lado da linha — Faz o seguinte, vou sair daqui agora e tu mete o pé daí enquanto o Joador tá dormindo... Porra, Princesa, o seu marido vai me encher de tiro e me colocar no microondas por tá indo contra ele.

Levanto meu olhar do celular pro Matheus, que abre um sorriso de lado como quem diz " ainda bem que ele sabe"

— Com ele eu me resolvo depois, tô saindo agora e levando só dois moleques meu. Tem perigo?

— Tem não, me passa a placa do teu carro que eu vou colocar uma tropa minha na tua escolta a partir da avenida brasil — eu concordo e ele prossegue — Vem suave, Loirão.

Sonho dos crias [M]Onde histórias criam vida. Descubra agora