Capítulo 54

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Capítulo 54 — Lorena

Dedé chegou hoje no rio, não pode nem ir buscar as próprias coisas na Penha, meu pai metia bala nele. Eu preferi que ele não viesse pra cá também, foi direto pra Cabo frio encontrar o Leão. Dom passou a ordem que os dois vão trabalhar juntos agora. A verdade é que o Leão é o principal fornecedor nosso, mas não faz parte da facção em si, mesmo que não possa fechar com inimigo pela fidelidade que tem à nós, então vai ser bom alguém nosso perto dele e o Dedé ganhou muita expertise nesse último mês lá no Paraguai. O foda é que ele tá na mira do Dom, qualquer passo fora, vão desconfiar. Eu acredito nele, mesmo que seja difícil de acreditar em qualquer um.

Ontem eu fiquei à tarde com a Laís, Cecília também foi pra lá, fizemos comida pra ela e companhia. Essas são as únicas formas que conheço de ajudar minha amiga. O Luquinhas eu acho que não entende que o pai não vai voltar, chora de vez em quando, Laís explica que o Sábio foi morar com Papai do Céu, mas ele não entende, na verdade, nem a gente entende.

Eu penso muito sobre o que a Laís e o Dom falaram sobre eu e o Matheus, nós precisamos conversar, mas eu tenho muito medo dele decidir que não consegue mais estar comigo. Sério, eu nunca me apaixonei na vida, então encontro o único cara no mundo que pode lidar comigo e simplesmente meu pai manda matar o irmão dele.

Levanto do sofá, ando até a cozinha, pego um copo no escorredor e um remédio pra dor de cabeça em cima da mesa. Encaixo o copo na base do filtro, pego uma água pra tomar o remédio e ouço o barulho da porta de casa abrir.

— Senta aí, cabeça — Pikachu diz.

Coloco o remédio na boca e engulo junto com a água, saindo da cozinha pra sala. Vejo um garoto um pouco mais novo que eu, abrindo um MacBook na mesa da minha sala e o Pikachu de pé ao lado dele.

— Cadê o celular do BW? — Pikachu me pergunta e eu ando até o móvel onde a televisão fica apoiada.

Depois que o Pretinho me trouxe aqui pra casa naquele dia, me trouxeram também o celular do BW pra ver se eu conseguia desbloquear. Foi mais fácil que tirar doce de criança, mas eu vasculhei pra caralho e não tinha nada de informação, li todas as conversar e vi todas as mídias, mas só tinha uma conversa aleatória com a Raquel.

— Quem é ele? — aponto pro menino.

— Cabeça, nosso hacker — Pikachu fala.

— Oi, eu sou a princesa — digo e entrego celular pra ele.

— Tô ligado — ele olha pra mim e depois volta a atenção ao computador.

— Tenta recuperar o histórico de mensagens aí, esse filho da puta deve ter apagado tudo — Pikachu fala.

— Não, tenta localizar a Raquel primeiro — paro atrás da cadeira que o Cabeça tá sentado e aponto pro celular — Tenta esse número que tá ai no Whatsapp, deve ser diferente do que o Pikachu tem.

— O que tu vai fazer? — Pikachu pergunta.

— Vou trazer ela de volta pra casa.

— Eu vou contigo.

— Não vai não. Eu como tua advogada não deixo tu sair dessa favela e perigar ser preso pela segunda vez em menos de uma semana. — digo sem olhar pra ele, prestando só atenção no trabalho que o Cabeça faz no computador.

— Qual foi? Preso por que? — ele pega no meu braço.

— Qual vai ser a reação quando tu vir a Raquel depois de ter sido preso e perder seu melhor amigo? — pergunto, encarando ele agora — Confia que não vai ser bom agir na emoção.

Sonho dos crias [M]Onde histórias criam vida. Descubra agora