Capítulo 99

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Capítulo 99 — Lorena

— Caralho... — ouço o concha resmungar, em pé ao lado do Leão.

— Que foi? Tá com problema? — pergunto.

— Papo reto, tá parecendo um velho do caralho ai — o Loiro olha pra cima, fitando o moleque de cabelo com reflexo.

— Nada não, meus chefes — ele bloqueia o celular e guarda no bolso, nos olhando.

— Qual foi? Vai ter que mandar o papo agora — Leão ergue o queixo indagando.

— Mina que eu to pegando — ele coca a cabeça, cansado — cachorra dela, uma pitbull, deu cria aí agora tá sobrando um​​a filhote pra doar, tem dois meses, já desmamou e tem vacina, mas a bicha destroi a porra toda e ela quer que eu arrume alguém pra ficar.

— Cadê? — pergunto — Quero ver a foto dela.

Ele puxa o celular e me mostra um vídeo. Clico pra dar ​​play. A filmagem mostra uma área com uma máquina de lavar, os produtos da prateleira estão no chão, há muito jornal picado​, chinelos ruídos​ e pano rasgado.

— Caralho — Leão se surpreende — já deram o nome pra cachorra? Pode ser​ Granada, destruiu a porra toda — eu rio.

Já para mais da metade do vídeo, a menina mostra a carinha da meliante. Uma cachorrinha branquinha com poucas manchas marrons pelo corpo.

— Eu quero ela, vou ficar com a Granada — digo, apaixonada. Dou play de novo no vídeo — ela é linda demais.

Meu Deus, que neném linda.

— Tem certeza, minha mestra? tu viu aí, ela é bagunceira.

— Não tem problema, eu ensino, deve ter alguém na favela que entenda de adestramento e essas coisas. Vai lá buscar ela, traz tudo o que precisar — pego um dinheiro no cofre de baixo da mesa e dou pra ele.

Concha concorda e vira as costas, saindo da boca. Eu volto meu olhar pro Leão e encontro ele rindo.​​

— Tá rindo do que?

— De tu, do nada pegou um cachorro — ele continua rindo, passando a mão na barba loira.

— Aproveitando que tu tá aqui de bobeira... Lembro que quando eu fui na tua casa, fiquei chocada com o luxo — ele sorri, nunca vi alguém tão convencido —​ Tô pensando em construir uma pra mim aqui na favela, não dá mais pra ficar naquela casa.

— Entendo porra nenhuma disso. O bagulho é ter dinheiro na mão, tendo isso, não tem k.o, só pagar alguém pra fazer — ele dá de ombros.

— Duvido que tu não tenha opinado em nada — franzo a testa — Tudo lá é tão... Tão Leão — Tento me expressar.

— Sei lá como a mulher fez, só falei o que eu queria. Posso te passar o contato, mas se prepara pra perder uma prata. Não acaba nunca essa porra, aquela lá de cabo frio levou dois anos pra ficar pronta.

— Ah, mas valeu a pena, tu gosta de lá​.

— Gosto pra caralho. Porra, lá eu levo a vida que eu gosto de levar. Essa correria aqui não é pra mim não, botar a cara em confronto... Sou bom, óbvio,​ mas não é o jeito que gosto de viver.

— Em breve tu vai tá livre da gente. Tá doidinho pro Dedé ser solto e tu voltar pra lá, só esquece que lá não tem Rapunzel —cutuco ele.

— Eu levo ela pra lá, paro com um helicóptero naquele campo da fazendinha, jogo ela dentro e vou embora — ele faz mímicas com a mão e eu rio.

Sonho dos crias [M]Onde histórias criam vida. Descubra agora