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S/N chegou ao ginásio para mais um dia de treino no Dentil Praia Clube, com o habitual sorriso no rosto, pronta para encarar os desafios. Enquanto as meninas se preparavam, ela avistou Maiara Basso alongando no canto da quadra. Era impossível não sentir aquele frio na barriga toda vez que se aproximava dela. Apesar das inúmeras recusas, S/N não conseguia evitar as pequenas investidas — era como uma faísca de esperança que insistia em brilhar.
Chegando perto de Maiara, S/N inclinou-se ligeiramente e murmurou em seu ouvido, com um tom brincalhão:
— E aí, será que tenho chance hoje?Maiara suspirou, visivelmente impaciente, mas manteve a calma:
— S/N, pelo amor de Deus, se toca que eu sou hétero.A resposta ríspida pegou S/N de surpresa, mas Maiara não parou por aí:
— Sério, se eu continuar te negando assim o tempo todo, as pessoas vão começar a achar que sou homofóbica.S/N sentiu o chão faltar por um segundo. Baixando o tom, respondeu com um fio de voz:
— Desculpa, Maiara... Eu não queria te incomodar. Você sabe que eu gosto de você...Maiara, sem muita paciência, completou:
— Mas eu não gosto de você desse jeito, S/N. Entende isso de uma vez.A troca chamou a atenção das outras jogadoras, que agora olhavam em direção a S/N, algumas sussurrando entre si. Sentindo-se completamente exposta, S/N deu meia-volta e caminhou para o lado oposto da quadra, tentando esconder o rosto corado de vergonha. Foi direto para onde Carol Gattaz estava, buscando refúgio.
Carol, sempre atenta, percebeu o desconforto de S/N e, com um olhar acolhedor, puxou conversa:
— Ei, Montibeller... Não deixa isso te abalar. Nunca esqueça quem você é por causa do que alguém te disse, tá bom?S/N respirou fundo, tentando segurar as lágrimas que ameaçavam cair. Carol continuou, desta vez com um sorriso encorajador:
— Use sua irmã Rosamaria como exemplo. Lembra como criticavam ela? E olha onde ela está agora: no Japão, mostrando que é uma das melhores jogadoras do mundo. Isso é força, S/N. E você tem isso também.As palavras de Carol soaram como um abraço. S/N ergueu o olhar, inspirada pela lembrança de sua irmã, Rosamaria. Desde pequena, a oposta tinha sido sua maior inspiração para seguir no vôlei. Era ela quem S/N sempre quis imitar, tanto nos ataques potentes quanto na determinação inabalável.
S/N sorriu para Carol, ainda tímida, mas genuinamente grata:
— Obrigada, Carol... Acho que eu precisava ouvir isso.Carol bagunçou o cabelo de S/N de leve e brincou:
— Vai lá e mostra o que é ser uma Montibeller. Mas, por favor, guarda essas cantadas para alguém que te dê bola, tá?As duas riram, e S/N sentiu o peso no peito diminuir um pouco. Ela sabia que ainda tinha um longo caminho pela frente, tanto no vôlei quanto na vida pessoal, mas as palavras de Carol a lembraram de que ela não estava sozinha. Inspirada por sua irmã e apoiada pelas amigas, S/N decidiu focar no que realmente importava: continuar crescendo como jogadora e como pessoa.
Ela voltou para o treino com a cabeça erguida, determinada a transformar cada tropeço em um degrau rumo ao seu sonho.
Com o treino em andamento, as jogadoras do Dentil Praia Clube se preparavam para uma das partes mais esperadas da sessão: o mancheto. Era uma disputa saudável, mas ninguém se iludia; todas queriam ganhar. Divididas em dois times, a regra era simples: manter a bola em jogo o maior tempo possível e fazer o outro lado cometer o erro.
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