•°•°• Capítulo 01 •°•°•

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 Eu estava dormindo tranquilamente quando um barulho me acordou, me sentei na cama assustada, o relógio marcava 02:00. Olhei para o lado e não vi o Tom dormindo. Então me levantei e fui até o corredor. Vi a porta do banheiro entre aberta, então bati e chamei por ele, mas sem resposta, chamei mais uma vez e nada.
  Fiquei preocupada e decidi entrar mesmo assim.

— Tom?! — Lá estava ele, caído no chão. — Amor? Fala comigo!

  Sabine voltou para o quarto correndo, pegou seu celular e pediu ajuda. Em pouco tempo seu marido já estava sendo socorrido por paramédicos e em seguida foi levado ao hospital.

  Enquanto esperava, Sabine andava de um lado para outro esperando por boas notícias, a cada minuto sua angústia só aumentava, ela temia pelo pior, mas esperava de todo seu coração que não fosse nada. Horas se passaram até que, finalmente, uma notícia.

— Senhorita Cheng? — O Doutor se aproximou inexpressivo.

— Sim, eu mesma! Como está meu marido? — A preocupação era visível.

— Olha, não vou mentir, as notícias não são nada boas.

— Meu Deus, fala logo, Doutor.

— O senhor Dupain, ficou desacordado por bastante tempo, fizemos uma bateria de exames, nem todos os resultados estão prontos, mas as informações que temos, já é suficiente para um diagnóstico.

— E qual seria? — Nesse exato momento, ela sentiu seu coração bater tão forte e rápido, que parecia que ia pular para fora.

— Lamento em informar, que seu marido está com um tumor no cérebro, e já está bastante avançado.

— Impossível, é a primeira vez que ele se sente mal. — Ela não podia acreditar no que acabara de ouvir, era ridículo.

— Algumas pessoas não tem sintomas, é mais comum do que parece. Receio em dizer que, ele não terá muito tempo de vida, não posso dizer ao certo quanto tempo, mas aconselho que aproveitem o máximo que puder o tempo que tem juntos.

  Sabine sentou no sofá, abaixando a cabeça e colocando as mãos no rosto, as lágrimas escorriam por suas bochechas, as mãos tremiam e faltava ar nos pulmões, aquilo não podia ser verdade, ela não queria aceitar que era real.

— Eu realmente, sinto muito!
Se a senhora quiser, já pode ir vê-lo.

  Assentiu com a cabeça, se levantando e indo em direção ao quarto.
Avistou Tom, que estava sendo medicado por uma das enfermeiras, assim que ele a viu, abriu um sorriso fraco, estava tão pálido e cansado, muito abatido, nem parecia o mesmo.

— Olá, eu sou a Anna. Imagino que a essa altura, o Doutor já tenha explicado a situação.

— Já sim, acabamos de nos falar.

— Pois bem, ainda restam alguns resultados dos exames que foram pedidos, no entanto, não tem necessidade de iniciar o tratamento, por conta do estado avançado. Sendo assim, logo que os resultados saírem, vocês estão liberados para voltar para casa. Qualquer emergência, é só retornar ao hospital.

— Tudo bem. — Tudo bem? Não está nada bem.

— Vou deixá-los a sós. — A moça se virou, saindo pela porta.

— O destino é engraçado, não? — Tom disse em uma tentativa falha de quebrar o clima de tensão.

— Acho que "engraçado" não seria a palavra, eu diria, traiçoeiro. — Sabine se aproximou, sentando na cadeira que estava ao lado da cama, segurando a mão do marido e acariciando o dorso com seu polegar. — Sabe o que é mais triste?! Nós passamos a vida nos dedicando a padaria, para ter uma boa casa, uma vida confortável, uma família feliz.

— Nós fomos muito felizes meu amor.— Tom concluiu.

— Somos. — Sabine disse com um tom ríspido.

— Como?! — Ele a encarou confuso.

— Somos felizes, não fomos felizes. Não diga como se tivesse acabado. Sempre tem uma chance. — No fundo ela não sabia se realmente tinha alguma chance.

  Na manhã seguinte, os resultados dos exames já estavam prontos, então Tom foi liberado e pôde voltar para casa com a esposa.

  Chegando em casa, Sabine fez um chá e um lanche natural, para que seu marido pudesse se alimentar melhor, não que a comida do hospital não fosse boa, mas nem se comparava com a de casa.

— Como você se sente? — Se sentou ao lado dele, acariciando seus cabelos com delicadeza.

— Me sinto cansado, mas de resto, está tudo bem. — Sorriu para ela, beijando sua bochecha.
— Tem certeza que não precisa de ajuda na padaria?

— Tenho sim, você vai ficar aqui e repousar, como o médico recomendou. Aproveite para dormir um pouco. Caso se sinta mal, é só me chamar. — Ela beijou o topo da cabeça dele e desceu às escadas que dão acesso a padaria. 

  Os dias foram passando e Tom só piorava, estava cada vez mais fraco e doente. Começou com a falta de disposição, depois as tonturas, enjoos e por fim a perda de peso.

  Sabine no entanto, fazia de tudo para animar o marido e demonstrar o máximo de esperança, ela estava exausta e sobrecarregada. Com Tom doente, as dívidas começaram a aumentar e consequentemente o trabalho também, cuidar da casa, do marido e das contas sozinha, não era nada fácil.

— Finalmente fechamos, eu estou exausta. Como você se sente, meu amor? — Sabine se aproximou do marido.

— Querida, podemos conversar?

— Claro meu bem.

— Olha, eu não quero te chatear, mas essa conversa é necessária. — Sua voz quase não saia, estava fraca e baixa. — Bem, quando eu me for... — Foi interrompido pela mulher.

— Não vamos conversar sobre isso.

— Apenas me ouça, por favor! Quando eu me for, eu quero que você seja feliz, quero que se case novamente, que tenha uma família e que realize todos os sonhos que não pude realizar com você.

— Tom...

— Meu amor, você tem esse direito. Não quero que se prenda a mim, ou a minha condição. Me prometa que vai continuar vivendo, mesmo sem mim.

— Tudo bem, eu prometo. — Sabine se aproximou, beijando sua testa e em seguida beijando seus lábios de forma breve. — Vou tomar um banho, depois jantamos e dormimos. — Tom não se alimentava bem, tudo que comia voltava quase que instantaneamente.

(...)

— Bom dia, meu amor, dormiu bem? — Ela esticou a mão para acariciar os cabelos do marido. — Querido? Está tudo bem? — Novamente sem resposta.

  Sabine se sentou na cama olhando para Tom, que estava deitado de lado, com as costas viradas para ela.

— Tom?!

  Ela o puxou pelo ombro, o virando para ela, sua pele estava pálida e fria, seu rosto estava relaxado, quem olhasse pensaria que estava apenas dormindo, mas não, não dessa vez.

  Sabine entrou em desespero, não sabia o que fazer, não tinha mais o que fazer, sentiu seu mundo todo cair por terra, ela não podia continuar sem ele, eles haviam planejado toda uma vida juntos e agora... São apenas sonhos incompletos. Ela gritava seu nome, balançava o homem, mas sem resposta, já era tarde demais.
  Ele se foi, sem dor, apenas dormiu e se permitiu que todo o sofrimento acabasse.

  Por mais que ela soubesse que esse dia chegaria, nunca esteve realmente preparada. Naquele momento ela soube, que a conversa da noite passada, era realmente uma despedida.

O valor de um segredo.Onde histórias criam vida. Descubra agora