Depois de duas semanas, Tania ainda passava as noites molhando as bochechas com lágrimas e os pés com grama úmida, mas voltara a falar mais de uma palavra por vez, e aceitava os beijos suaves que Gilbert deixava em sua pele e os abraços apertados que Anne oferecia; começara a levar pequenos doces para Muriel pelas manhãs, antes do início das aulas, e a participar ativamente de suas tarefas. Não deixaria a dor controla-la.
Naquele pequeno período de depressão, ela deixara de notar algumas coisas: o colapso de Anne a respeito de sua pobre raposa, que estava sendo caçada, e como aquela preocupação a levara a causar um pequeno incêndio (que a Stacy não viu porque estava no banho) que queimara a redação que a professora lhe mandara fazer sobre os perigos da fofoca por causa daquele fatídico primeiro dia; não se encontrara com Cole nas últimas semanas, e não acompanhara a ele e à irmã em sua pequena excursão ao penhasco em busca de inspiração; não percebera a tensão entre Bert e Bash, que se dava ao fato de o Blythe estar tentando entrar mais cedo na faculdade, atrapalhando o plano deles de cuidarem da fazenda juntos até que Sebastian pudesse fazê-lo sozinho; o garoto nem pensava na fazenda, tinha coisas mais importantes na cabeça, e aquilo fora um tema de atrito; Nia também não dera atenção à clara intensificação unilateral da rivalidade acadêmica entre a irmã e o namorado: enquanto Gilbert sabia sua vocação e se dera bem logo de cara com a nova professora, Anne não fazia ideia do que queria ser e tivera que lutar pela afeição de Muriel. Acredito que essas tenham sido as coisas mais importantes que Tania deixou passar.
Bem, no primeiro dia de aula, os pais do alunos já haviam chegado à conclusão de que a srta. Stacy não era uma professora ideal, mas foi só na quinta-feira da segunda semana de aula dela que decidiram fazer alguma coisa a respeito; a senhora Rachel, acompanhada da pobre e constrangida Marilla, foi até a casa da loira para expressar suas preocupações. Então, na sexta, a Cuthbert decidiu assistir à aula para entender a razão de tamanho estardalhaço.
- Muito bem, classe, vamos começar - sorriu para os alunos sentados em círculo no centro da sala - Gilbert - chamou discretamente o garoto que estudava, alheio, em um canto, e guardou os livros para se sentar junto dos colegas.
...
- A ciência muda o mundo para melhor - a professora explicou, quando estavam todos reunidos em torno de uma mesa - alguém sabe o que é a eletricidade?
- É luz - respondeu Nan orgulhosamente.
- Sim, e?
- Uma forma de energia - disse Bert.
- O fluxo de cargas - acrescentou Nia.
- A eletricidade é, sim, uma forma de energia - falou Muriel, utilizando a resposta mais direta e completa - se já viram uma tempestade, com raios luminosos despencando do céu, aquilo é eletricidade - explicou, montando uma engenhoca com fios, pregos e batatas - algo muito poderoso. Um raio é um pico intenso e repentino de eletricidade entre o céu e o solo. Correntes elétricas vivem dentro dos átomos, partículas minúsculas que compõem toda e qualquer matéria; são tão pequenos que precisamos de bilhões e bilhões deles para fazer algo útil como um prego - ergueu o prego que segurava no momento, enquanto todos os alunos sorriam, interessados - todos os objetos que ocupam espaço tem massa e são chamados de matéria. Tudo ao nosso redor é feito de matéria, bolo de chocolate é matéria, essas paredes e a escola são matéria, vocês são matéria - alguns alunos arregalaram os olhos - e hoje, sem uma fonte de energia padrão como as grandes cidades têm, criaremos a nossa própria corrente elétrica, afim de iluminar uma lâmpada - ergueu a citada lâmpada - quantos de vocês já viram uma dessas? - as irmãs Cuthbert, Gilbert, Diana, Percy e alguns outros alunos levantaram as mãos - bom, com uma lâmpada como esta, cientistas encontraram uma forma de enviar correntes elétricas (átomos carregados de energia) para um reservatório cheio de gás, outro tipo de átomo, e quando os dois tipos de átomo se encontraram - todos observavam atentamente seu trabalho na engenhoca - eles trocam suas energias e produzem... - girou a lâmpada, enfiando-a em uma das batatas.
- Luz! - alguns alunos exclamaram juntos, e todos bateram palmas quando a lâmpada se acendeu.
Então, atrapalhando a alegria, várias mães entraram na sala, lideradas por Rachel Lynde.
- Ah, olá! Chegaram em uma ótima hora, estávamos iluminando o dia. Querem se juntar a nós? - diante da completa falta de movimento delas, srta. Stacy foi até lá, virando as costas para os alunos por um momento.
Moody, muito curioso, pegou uma das batatas e se perguntou:
- Será que tem gosto de chocolate? - antes de, entre os berros de "NÃO!" dos amigos, lamber um dos fios de cobre.
Com o susto causado pelo pequeno choque e pela gritaria dos alunos, ele acabou derrubando as batatas e quebrando a lâmpada, assustando grandemente as mães.
- Ninguém se meche! - ordenou Muriel, observando os cacos afiados no chão.
- Meu filho! Meu filho! - gritava a sra. Spurgeon.
- Por favor, se afastem. Obrigada. Vamos manter a calma. A lógica diz que não há cacos sob os seus pés e eu gostaria de manter assim. Vou buscar uma vassoura.
Nia não disse nada, mas sentia algumas gotinhas de sangue molharem sua meia-calça rasgada.
(Enquanto isso, o pobre Sebastian aprendia a cavalgar na marra, confiando apenas em seus instintos e no cavalo. Ele conseguiu ir até o Gueto visitar a adorada Mary.)
Enquanto algumas mães muito irritadas levavam seus filhos embora, outras mães igualmente irritadas davam uma bronca na pobre professora. O sermão ficava mais bruto e a sra. Lynde mais ofensiva a cada segundo, até os alunos não aguentarem mais.
- Com licença, a senhorita Stacy é uma professora dedicada e muito capaz - garantiu Gilbert.
- Quero ser igual a ela algum dia - acrescentou Anne em tom solene - ela é uma profissional inteligente, encantada por sua carreira e uma educadora inestimável. Apesar de seu romance trágico - não conseguiu evitar acrescentar. Muriel fez uma careta.
- Que bom que está reescrevendo a redação sobre fofoca - murmurou pelo canto da boca.
- Nós, as Mães Progressistas, lutamos para ter a primeira professora mulher. Por favor, não desperdice a oportunidade - disse por fim a senhora Andrews.
Com os narizes empinados, elas saíram.
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The Fairy Queen - Awae
Fiksi PenggemarTania ~ nome de origem russa que significa rainha das fadas. "Suponho que adoro minhas cicatrizes, porque elas permaneceram comigo por mais tempo do que a maioria das pessoas" - Nikita Gill Oc x Gilbert Blythe Fanfic baseada na série Anne with an e