A adrenalina do momento começava a desaparecer e a cada minuto que se passava se tornava mais difícil assimilar tudo que havia acontecido.
Logo depois de todo o ocorrido saímos do banheiro e seguimos na direção da nossa sala, os alunos agora começavam a chegar aos poucos, meus olhos buscam por Jonas ainda receoso com a idéia de que ele pudesse contar algo ao meu pai, porém quando lhe vejo o garoto em uma das mesas do refeitório lendo algo em um dos livros escolares, seu olhar tinha uma feição vazia, não sentia raiva ou repúdio, apenas indiferença a tudo que se passava ao seu redor.
Assim que chegamos na sala Heitor toma a cadeira a frente da minha. Por longos instantes o silêncio domina, os olhos do garoto tinham dificuldade em me encarar e quando faziam expunham a vergonha que ele sentia, por mais que tentasse fazer parecer que estava tudo bem.
-Heitor, não precisa ficar assim, está tudo bem.- afirmo tentando lhe confortar, tento pôr minha mão sobre a sua porém ele recua.
-Não!- exclama ele nervoso, então encara o chão, tristonho .- É tudo culpa minha.
-Não, você nos salvou, se o Jonas tivesse dito algo pro meu pai...- tento argumentar mas ele me corta.
-Pare de me defender! Eu sei o que fiz, se não tivesse te arrastado até o banheiro nada disso teria acontecido, eu não teria que...-Heitor que antes exibia sua raiva engasga, seus olhos por debaixo das grossas sobrancelhas se enchiam de água.- Eu não teria que ser essa aberração.
O menino a minha frente cobre o rosto com as mãos, por alguns segundos me atenho, não queria dizer qualquer coisa apenas por dizer.
-Heitor.-chamo buscando por sua mão, ele tenta fugir mais uma vez porém insisto, agarrando-a, em seguida cruzo meus dedos com os deles, isso faz o garoto me encarar.
-Você não sabe como é.- afirma amargurado.
-Eu não vou tentar ser clichê ou diplomático e dizer que te entendo, seria mentira, por mais que eu imagine só você sabe como é isso. Olhar alguém machucado não me faz sentir a dor da ferida.- começo, Heitor então baixa o olhar mais uma vez.
-Eu não quero mais ser assim, e a minha ferida nunca vai melhorar, não importa o quanto eu tente,vou ser sempre o filho do Diabo.- afirma inconsolável, nesse momento percebo algo.
-Não.- digo segurando sua mão com mais força.- Você nunca será o filho do Diabo enquanto estiver comigo. O Diabo que se dane, o Heitor que eu conheço é inteligente, honesto, amoroso, sexy demais, safado... O cara mais mais incrível que já conheci. Você gosta de títulos? Pois estou te dando um novo pra você. A partir de agora você é namorado do Gabriel e só isso. Seu pai é ruim? Olha o meu!
Heitor abre um sorriso leve porém genuíno.
-E tem mais,- continuo meu sermão.- Eu não ligo que você tenha poderes, mas tudo tem limite.
-Qual?- ingada ele recuando, solto sua mão e aponto o dedo em sua cara.
-Nunca! Nunca venha transar comigo fantasiado de Super-Homem! -exijo, Heitor finalmente volto a exibir seu grande sorriso.-Todo mundo sabe que o Batman é bem mais sexy.
-Mas se eu tenho "poderes" por que vou me fantasiar como um cara que não tem poder nenhum?- indaga curioso.
-Ah, isso eu não sei, mas de qualquer forma você faz o tipo.- afirmo, Heitor pondera a afirmação.-O badboy gostoso.
-Ah é? Que tal um pouco de bat-leite?-indaga voltando a sua comum personalidade.
-Adoraria.- afirmo, então rimos, nesse momento o sinal toca e Heitor se levanta secando os olhos.
-Até depois, nos vemos depois da aula na minha bat-caverna?-oferece o garoto com um tom de súplica.
-Hum, não sei, tenho que mostrar as fotos pro meu pai, se ele não surtar apareço por lá.
*********
As aulas daquele dia passaram rápido, talvez pelo fato de não ter prestado atenção em um segundo sequer, por algumas vezes observava Jonas buscando por algum sinal de que ele pudesse se lembrar de algo mas no fim acaba ficando claro, ele realmente nem lembrava de nossa existência.
Assim que o sinal anuncia o final da última aula partimos rumo a saída, já no portão paramos aonde nos separávamos, ali Heitor pára e suspira.
- Mostre as fotos, mas tenha cuidado, se vir que seu pai perder o controle pode me chamar e faço com ele o mesmo que fiz o Jonas.- afirma ele, apenas assinto e então ele parte.
Por alguns instantes permaneço parado observando o garoto partir, sabia que Heitor odiava os poderes que tinha, porém acabara de dizer que poderia usá-los deliberadamente se precisasse fazer isso para me proteger.
Com aquele pensamento tomo o último fôlego que precisava, era hora de mostrar as fotos para o pastor.
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Meu Demônio (Romance Gay)
RomanceGabriel prometeu a si mesmo nunca se apaixonar, o que as pessoas diriam se descobrissem que o filho do pastor é gay? Apenas a idéia de prejudicar seu pai o fazia estremecer. O tímido rapaz passa seus dias focado, deixando sua vida de lado enquanto...