Não sabia se ficava triste pelo fracasso ou com raiva de mim por ter alimentado falsas esperanças.
-Posso me sentar?- questiona uma voz grave e masculina ao meu lado quebrando o silêncio ao meu redor.
-Claro.- respondo indiferente, lutando pra não dizer que o banco era público e que ele não precisava da minha permissão, definitivamente não estava em um bom dia. Pelo canto do olho vejo sua silhueta tomar o lugar ao meu lado, me inclino na direção da barraca de flores e encontro Abigail e seu novo pretendente rindo. O homem ao meu lado da um leve pigarrear.
-Então, quando me convidou para a festa, era isso que tinha em mente?- questiona, nesse momento percebo de quem se tratava e me viro em sua direção.
-Heitor! Ah... Oi, me desculpe, é... É que eu estava distraido, pensando em outra coisa.
-Tudo bem, acontece comigo também.
Heitor vestia um par de coturnos pretos, as calças jeans de costume e uma camisa social preta encoberta por um blazer da mesma cor, seu curativo na bochecha havia sido trocado naquela noite por uma fina tira de esparadrapo, seu olhos negros ganhavam uma profundidade inexplicável a noite, que contrastava com o brilho de seu sorriso, nunca havia visto seu sorriso tão aberto. Ele começa a estalar os dedos diante de mim.
-Cara, acho que você se distraiu de novo.
-Acho que sim, desculpa.- digo olhando para a frente enquanto a vergonha me fazia queimar, por menos experiente que fosse em assuntos de "paquera" ou o que fosse, aquilo havia sido ridículo.
-Então, o que vamos fazer?- questiona Heitor.
Aquela pergunta me atinge como um tiro, no fim eu não tinha idéia de como seguir aquela situação, esperava que Abigail estivesse conosco naquele momento para encaminhar tudo mas aparentemente ela já tinha sua noite sem nós.
-Hum, quer comer alguma coisa?- questiono, minhas mãos suavam.
-Eu já comi antes de vir pra cá.- responde um tanto desconfortável.
-Quer dar uma olhada nas flores?- ofereço.
-Dei uma olhada por cima nas flores, são bem bonitas, mas não estão no topo da minha lista de interesses.
-Sério?- indago, estava sendo difícil tentar me aproximar de Heitor e agora havia descoberto que ele nem ao menos queria estar ali.
-Não, espere aí.- diz percebendo a decepção em minha voz.- Me desculpe, acho que me entendeu errado, eu não estou odiando tudo isso, mas sou mais caseiro, estou mais acostumado com outras coisas.
-Tipo?- questiono, queria saber se estava sendo honesto ou simplesmente sendo educação.
-Bem, eu gosto de ler, às vezes desenho, assistir algas séries, passar um tempo no celular fazendo... Coisas.- ele pára sua lista bruscamente.
-Coisas, sei. Posso imaginar o que dá pra encontrar no seu histórico de navegação.- digo, imediatamente o vejo ruborizar e suar.- Calma cara, é só brincadeira, todo garoto faz isso, e além do mais você é bem mais bonito e tem uma vida sexual ativa, diferente de mim pra você é só um bônus.
Heitor fita o chão de uma forma estranha.
-Você não é feio. Eu até... Deixa pra lá.- diz depois de travar.
Ficamos alguns instantes naquela situação desconfortável, tocar no assunto pornografia havia sido um erro, mesmo que todos assistissem não era um algo confortável, precisava sair daquilo.
-Mas voltando ao que falou sobre leitura, estou com o livro que você deixou na quadra ontem.- informo.
-Verdade? Eu procurei por ele e não encontrei mesmo, o dia inteiro ansioso, achei que precisaria comprar outro.- responde aliviado.
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Meu Demônio (Romance Gay)
RomanceGabriel prometeu a si mesmo nunca se apaixonar, o que as pessoas diriam se descobrissem que o filho do pastor é gay? Apenas a idéia de prejudicar seu pai o fazia estremecer. O tímido rapaz passa seus dias focado, deixando sua vida de lado enquanto...