109- Pensamentos Intrusivos

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O telefone chama uma vez, duas, três... Era uma demora incomum para Heitor, mas finalmente ele atende.

-Oi, Gabriel, me desculpe pela demora, ainda estou me acostumando com o novo tamanho dos meus dedos.- diz o garoto com um tom embaraçado.- Aconteceu alguma coisa?

-Bem...- começo um tanto constrangido, talvez fosse algo bobo, mas sabia que simplesmente chegar fosse uma má ideia.- Eu acabei perdendo a paciência e discuti com os meus pais, acho que não posso mais voltar pra casa e sei lá, queria saber se posso ir morar com vocês.

-Meu Deus, é claro que pode, aonde você está? Vou pedir pra minha mãe ir te buscar de carro.- pergunta apressado.

-Não precisa se preocupar com isso, só pede pra ela abrir a porta, já estou aqui na frente.- informo, minha frase gera uma comoção dentro da casa, Heitor grita com a mãe enquanto ele mesmo se movimenta escada abaixo, ao passo que é quase ele quem me recebe.

Cassandra imediatamente nota as bolsas que trazia comigo, as quais são pegas por Heitor assim que passo pela porta, o menino tinha um largo e animado sorriso no rosto, quase como o de uma criança que acabara de ver o Papai Noel.

-Mãe, o Gabriel vai morar com a gente!- afirma absolutamente extasiado com a ideia.

-Hum, percebi.- diz, menos sorridente e mais preocupada, provavelmente os sentimentos de Heitor não haviam lhe cegado ao ponto de não se preocupar.- Seus pais não vão reagir mal com relação a isso? - De repente uma expressão de assombro toma conta de seu rosto.- Meu querido, eles te expulsaram?

A reação de Cassandra parece válida e por mais que aquela opção fosse plausível tinha receio de contar a verdade, medo de parecer insensível por deixar meus pais pra trás, independente de tudo sempre imaginara o oposto acontecendo, suspiro reunindo coragem, ela merecia saber a verdade.

-Fui eu quem decidiu ir embora, não tinha como ficar mais lá depois de tudo o que eles fizeram, e não precisa se preocupar, ninguém virá atrás de mim depois do que disse.- digo friamente, Cassandra parece não se convencer completamente porque logo em seguida me abraça.

-Vai ficar tudo bem.- diz, com um tom acolhedor,- Você sempre terá espaço aqui... E um chuveiro também, está todo suado.

Aquele momento quase me faz chorar, porém é difícil manter-se sério quando um garoto vermelho de dois metros e meio está diante de você, saltitando enquanto seu rabo sacode alegremente.

-Ele pode dormir comigo?- pergunta o homem, da forma mais boba e travessa possível. Aquilo termina de vez o abraço, fazendo com que sua mãe lhe encare com estranheza e confusão.

-Meu filho, vocês já dormiam juntos antes mesmo de morarem juntos, que pergunta besta!- Diz descrente com o que acabara de ouvir, parece impossível mas Heitor fica corado ao ser repreendido.- Ele pode até tentar, mas primeiro teremos que ver a cama terá espaço suficiente pra vocês dois.

-Nós damos um jeito.- digo de modo otimista, me aproximando do homenzarrão.- Eu sou pequeno, caibo em qualquer lugar.

-Ah sim, você é pequeno e cabe em qualquer lugar, mas e ele, vai caber?- pergunta Cassandra em um tom sarcástico.

-Mãe!- berra Heitor atônito, ela ri enquanto tento entender o que está acontecendo, antes que eu dê por mim sinto as mãos do garoto passando por minhas costas e então sou erguido.

-Vamos lá pra cima, por favor.- diz já correndo na direção das escadas.

Heitor estava claramente mais forte do que antes, carrega a mim e as bolsas sem qualquer problema até seu quarto, aonde me devolve ao solo cuidadosamente.

Meu Demônio (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora