22- Demônios De Cauda Exposta - Parte II

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Tudo o que restava para chamar de cama era um solo úmido e escuro, sutilmente recoberto de folhas, essas em sua grande maioria se coloriam em tons amarronzados, secos e sem vida.

Ainda um pouco confuso e embargado pelo sono me sento, o lugar aonde estava era uma pequena clareira rodeada por grandes árvores de galhos retorcidos. O silêncio ali era absoluto.

-Olá.- digo buscando por alguém.- Tem alguém aí?

Não há nenhuma resposta imediata, apenas o mesmo silêncio de antes. Até que algo surge no vento, uma respiração, forte e ruidosa.

Procuro por sua origem, aquele som parecia não ter uma direção, vinha de todas as partes, cortava o ar como o frio do inverno, minha pele se arrepia.

-Olá?- insisto. Nesse ponto até mesmo a minha respiração já me deixava alerta, mesmo sem corrida ou companhia começava a me sentir a presa de um caçador invisível. Inquieto me levanto, apressado e cambaleante.

-Olá.- responde finalmente uma voz extremamente grave às minhas costas, viro abruptamente e lá está o predador.

-Heitor?- Questiono, o garoto se encontrava equilibrado em um galho poucos metros a frente, agachado vestindo apenas uma cueca preta.- Por que está vestido assim?

Ele baixa o olhar, analisa a situação e um tanto quanto indiferente volta sua atenção até mim.

-Não gostou? Posso tirá-la se não for do seu agrado.- diz deslizando os dedos até a barra da peça.

-Não, não...- respondo apressado.- está bom assim.

-Você é quem sabe.- diz mordendo o lado inferior, em seguida aperta o grande volume que havia por debaixo da peça.

Sinto meu rosto queimar, tento desvio o olhar mas acabo voltando, não tinha controle sobre aquilo.

-Você gosta? - questiona indiscreto com uma das sobrancelhas erguidas, fito o chão tímido.- Pra, vamos lá, quero ouvir dos seus lábios, olhando nos meus olhos.

Com todas as forças me obrigo a encará-lo, minha respiração tremulava. Porém antes de conseguir responder noto algo. Da cueca de Heitor pendia uma coisa enorme, tinha cerca de um metro e meio, cilindra que se mantinha uniforme na grossura até perto da ponta, aonde afinava e então acabava um formato arredondado que se apontava até chegar no fim.

-Heitor... - começo, tentando não ser indiscreto.- Você tem uma cauda?

O homem me encara sutilmente confuso, então se curva para frente até seus olhos finalmente captarem a estrutura, que passa a balançar serpenteante.

-Isso te incomoda?- indaga, em seguida salta do galho, pousa no chão e se recompõe ficando devidamente de pé, permaneço calado assistindo-o. - Te assusta?

Heitor começa a se aproximar lentamente, minhas mãos transpiravam enquanto meu cérebro parecia congelar. Quando está a poucos centímetros de mim ele pára.

-Não vai me responder?- questiona, sinto sua respiração fervendo em minha pele, exalava uma fragrância mentolada.

-Eu... Eu achei legal... Diferente.- gaguejo nervoso. - Eu gosto.

-Gosta é?- diz dando uma risada sacana, então sua cauda desliza ao redor da minha cintura e em uma fisgada me puxa para perto do corpo quente de Heitor.

-Sim, é quase uma pena que tudo não passe de um sonho.- afirmo brincando. Naquele ponto eu claramente já tinha noção disso, era tudo muito surreal para ser verdade.

-Espere um instante.- diz se afastando alguns centímetros e me encarando com estranhamento e preocupação. - Tudo isso pra você é um sonho?

-Bem, sim mas...- começo a me explicar.

-Não é possível!- ele aponta para o próprio peito.- Pra mim isso é um... Eu não consigo acreditar! Eu não posso...

Então antes que eu possa questionar o que estava acontecendo vejo Heitor desaparecer, transformando-se em pó e sendo levado pelo vento, me deixando sozinho na clareira.

Acordo sobressaltado enquanto um solitário e tímido raio de sol atravessava a janela e batia em meu rosto, aquele definitivamente havia sido um dos sonhos mais estranhos que já tivera, ainda sonolento deslizo a mão sobre o criado mudo buscando meu telefone, depois de encontrá-lo e me acostumar ao brilho da tela descubro estarem faltando sete minutos para o alarme tocar.

Por mais incoerente que pudesse parecer perder esses minutos de preguiça me levanto e sigo para a cozinha, havia algo na escola que me fazia querer chegar o mais rápido possível.

-Bom dia dorminhoco! - sou recepcionado por minha mãe que acabava de passar o café.

-Bom dia.- retribuo.

-A noite foi agitada, não é mesmo?- questiona ela sorrindo.

-O quê?- indago confuso.

-Isso mesmo, alguém essa noite conversou sozinho enquanto dormia.- diz ela, de início fico sem graça mas depois sinto meu coração pesar.

-O que a senhora ouviu?- questiono preocupado, ela ri.

-Nada na verdade, só ouvi que estava falando.

-Hum...- respondo, não podia dar uma reação muito exagerada, isso daria a entender que tinha motivos para me preocupar.

Depois disso tomo meu café sem muita conversa e subo apressado para o meu quarto, era de me arrumar pra ver o Heitor, digo, ir a escola.

Saio de casa na esperança de encontrar Abigail no caminho, algo que tragicamente não acontecera, sendo assim a minha única companhia fôra a esperança de encontrá-la.

Alguns minutos depois finalmente chego ao pátio da escola, a partir desse ponto meus olhos começam a varrer tudo ao meu redor, buscando por Heitor sem sucesso, passo pelo portão de entrada e sigo pela corredor, nesse momento sinto uma mão agarrando o colarinho do meu uniforme. Me viro assustado e dou de cara com Heitor.

-Ah, oi.- digo aliviado.

-Precisamos conversar.- diz ele sério sem mais delongas.- A sós.

-Sobre o quê? Aconteceu alguma coisa?- indago preocupado.

-Sobre o sonho que você teve essa noite, digo, nós tivemos.- diz me encarando, nos segundos seguintes ele parece analisar meu rosto, buscando pela confirmação de algo.

-Eita.- digo boquiaberto.

-Exatamente, eita.

Meu Demônio (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora