97- O Pós-Culto

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O bate e volta de Bernardo havia desmoralizado completamente o culto daquela noite, por mais que o pastor tentasse recompor a ordem era visível o fracasso, com o público completamente perdido restava apenas dar a reunião como encerrada.

Como de costume após o culto, algumas pessoas ficavam na igreja ou próximos da entrada, socializando com seus iguais em assuntos banais ou simplesmente fazendo sala. Não era nenhuma novidade que o pastor fosse a pessoa mais requisitada, o qual naquela noite parecia consternado e claramente irritado comigo, Abigail era minha amiga e obviamente a culpa de sua presença cairia sobre mim.

Rodeando meu pai como uma varejeira estava a missionária, parecia fragilizada pelo ocorrido, porém sabia que tudo não passava de teatro, alguns fiéis se aproximavam dela em respeito e pena, sentimentos que ela abocanhava para recuperar seu ego.

-O que acha que nos juntarmos à conversa?- sussurra Heitor em meu ouvido.- O seu pai não vai fazer um barraco na frente se todo mundo, melhor que conversem aqui, comigo.

Estava relutante porém não havia como refutar o ponto do garoto, tento soar casual enquanto me aproximo, os olhos do pastor tentam dizer algo indistinto, era um sentimento furioso e de má fé, porém impossibilitado decide mover sua atenção para Heitor.

-Você veio ao culto de novo, garoto, muito bem.- diz pondo a mão sobre o ombro do meu namorado, o qual se mostra incomodado mas logo disfarça. -Vejo que está traçando um caminho diferente da sua mãe.

A missionária imediatamente se intromete no círculo para encarar Heitor.

-Bem, o seu filho insistiu muito e acabei aceitando. -afirma com solenidade, obviamente tentava limpar minha situação.

-Todos são aceitos na casa do Senhor. -O pastor solta uma frase pronta com o vigor de quem acabara de criá-la.

-Todos?- solto em retaliação, sabia que aquilo não passava de uma mentira, as igrejas eram para todos aqueles que cabiam nas regras da igreja, apenas os pecados escolhidos eram dignos de salvação enquanto outros queimariam no inferno.

-Eu esperava que sim, porém algumas pessoas preferem viver em pecado.- diz friamente, os olhos do pastor encontram os de Damares em busca de confirmação. -E o castigo pelo pecado é a morte, vejam só a dupla que esteve aqui essa noite por exemplo, vocês acham que são tementes a Deus? Eu não consigo acreditar que um... Homem daqueles consiga falar em línguas.

A única coisa inacreditável ali era o fato do pastor realmente acreditar que tais "linguas" fossem reais. Heitor ao meu lado parecia não estar tão paciente quanto se dispusera no começo.

-O Gabriel comentou que você esteve em São Paulo no último fim de semana, viu os ataques que aconteceram por lá?- questiona escondendo as mãos nos bolsos, percebo que tentava esconder suas reações.

-Não existe pecado sem castigo. Aquelas pessoas sabiam disso.- diz em soslaio, não havia empatia ou culpa no que falava.

-Por que você é pastor se não acredita no perdão de Deus? -golpeia Heitor de forma menos neutra e mais venenosa, a fala direta parece acertar o pastor.

-Não existe perdão sem arrependimento.- rebate intransigente.

-E você se arrepende das coisas que fez?- pergunta com um ar soturno, por um momento perco o foco, não sabia aonde aquele conversa estava indo.

-Somente dos meus erros.- responde com os olhos brilhando de orgulho, Heitor ao ouvir aquilo acena com a cabeça e respira profundamente antes de mudar de assunto.

-O Gabriel comentou que está de castigo.- diz voltando a sua amenidade.

-Está mesmo!- exclama a missionária se metendo na conversa, sua voz fazia parecer que a mulher havia sido fumada por um Derby.

-Ele está sendo desrespeitoso, além disso tratou mal nossa convidada.- acusa meu pai voltando a me encarar com olhos furiosos.

-Ele me contou que ela estava no quarto dele mexendo em suas coisas, soa como...- começa Heitor deixando a frase no ar para que o pastor complete-a.

-Não me venha com invasão de privacidade, o Gabriel está debaixo do meu teto e enquanto estiver lá me deve todo o respeito que eu exigir.

-Invasão de privacidade?- Heitor parece confuso, claramente não era essa sua pauta mesmo que fosse a minha.- Soa como indisciplina, a missionária não devia estar no quarto do Gabriel porque esse não é o papel das mulheres, as mulheres da igreja devem ser submissas, não tem que ser curiosas ou invasivas.

A fala de Heitor faz o pastor exitar, seus olhos se movem do garoto para a mulher, a qual se encolhia diante do argumento.

-Senhor, não ouça esse garoto, eu só estava... Só estava...- começa ela a gaguejar, sem formular qualquer frase audível. -Essa é a obra do Maligno querendo me prejudicar.

-Ah sim, é claro que é.- diz meu namorado se curvando em sua direção. -A culpa é sempre dele, foi a curiosidade de Eva que trouxe a perdição pra raça humana, ela devia ter sido obediente e não foi, daí só restava colocar a culpa no Maligno, como você faz.

Heitor sabia ser convincente e manipulador mesmo sem usar seus poderes, obviamente usar contextos bíblicos contra meu pai também era uma boa opção, a ideia de uma mulher tendo lugar de fala ou poder de escolha era demais pra ele, ainda mais depois de sua experiência com Cassandra, por fim ele cede.

-Muito bem, o garoto está certo nesse ponto, mas isso não é motivo para o desrespeito e rebeldia do Gabriel, o castigo continua até ele aprender a ter modos.- diz ele se voltando em minha direção. -Você não precisa do perdão de Damares, como sou a homem da casa vai precisar do meu.

Assinto tentando não parecer empolgado, meu pai podia não ser fácil mas a missionária ainda era pior, lanço um olhar de soslaio para a mulher, infelizmente não podia lhe mostrar o dedo do meio mas ainda era um sinal de vitória. Damares se afasta irritada por perder parte de seu poder de influência.

Heitor me lança um olhar de aviso, era hora de distrair meu pai enquanto ele "conversava" com ela, sem mais delongas ele segue a figura queimada me deixando a sós com meu pai.

-Então...-começo soar o mais convicto possível, precisava segurar a atenção do meu pai. -O Heitor disso que gostou do culto, apesar de tudo.

-A Abigail estar aqui, você teve algo a ver com isso?- pergunta deixando toda a simpatia de lado, diante de mim estava o pastor frígido que lutara pra esconder antes.

-Eu contei o que a Damares fez comigo, mas não chamei ninguém.- digo sem expressar qualquer sentimento relevante.

Os olhos do homem se estreitam e motivo era claro, as coisas podiam estar ruins dentro de casa mas não deviam sair de lá, ninguém poderia saber. Era esse tipo de pensamento que havia me prendido tanto tempo em que nem ao menos olhar para outro garoto fosse uma opção. Depois de um longo silêncio ele suspira.

-Problemas de casa devem ser resolvidos em casa.- pontua de forma quase didática.

-A missionária é um problema que não é de casa, você trouxe ela de São Paulo e sabe muito bem que não concordo com isso, não reclamaria de uma hóspede se fosse alguém com um mínimo de respeito e educação social mas...- antes que eu possa continuar Heitor surge me interrompendo.

-Gabriel, podemos conversar rapidinho?- pergunta o garoto pálido, sua reação me preocupa, viro na direção de Damares para ver seu rosto demente, teria ele apagado toda sua existência por acidente? Era possível que aquilo tivesse acontecido numa tentativa de tirar o que havia de ruim nela, ou seja, tudo. Seguimos na direção da porta aonde poucos fiéis estavam, prontos para ir embora.

Quando estamos seguros paramos e ali encaro Heitor e seus olhar aturdido.

-O que foi? Algo deu errado? Ela te fez alguma coisa?- pergunto enquanto a agonia tomava conta de mim, o garoto engole em seco antes de falar.

-Gabriel, meus poderes não funcionaram na missionária.

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Olá meus amores, como vocês estão?
Demorei um pouquinho pra escrever e publicar esse capítulo porque os dias estão um pouco corridos e gostaria de contar pra vocês que muito em breve serei um gay com local, estarei me mudando pra minha casinha. ☺️

Meu Demônio (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora