93- A Missionária

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Acordo sobressaltado na manhã seguinte com o toque do despertador, minha primeira reação é correr a cama pelo colchão em busca de Heitor, nada. Ainda sonolento vasculho o recinto a sua procura, talvez ele estivesse no banheiro, porém logo encontro algo, sobre mesa de estudos há dos meus cadernos, aberto e marcado com uma letra forte, um bilhete.

"Caro Gabriel, mais conhecido como amor da minha vida, acordei mais cedo e fui pra casa, não queria correr o risco de te colocar em apuros (e também não poderia ir a escola sem minha mochila), nos veremos em breve.

Ps: Te amo!

Do seu namorado, Heitor"

No fim da carta há um emoji de diabinho, improvisado mas ainda assim um diabinho. Ler aquilo me faz sorrir, era difícil acreditar no quão amável aquele homenzarrão filho do Diabo poderia ser. Manter aquele bilhete poderia ser uma má ideia, alguém poderia vê-lo e o correto era jogá-lo fora, mas de qualquer forma era um risco que valia a pena, fecho o caderno e lhe enfio na mochila depois de guardar as roupas do fim de semana no armário.

Antes de ir para a escola faço uma rápida averiguação pela casa em busca de qualquer vestígio indevido da presença de Heitor para quando meus pais chegassem, ao me dar por satisfeito sigo meu caminho, a cidade em si parecia estar se recuperando rápido do impacto causado no atentado, era uma cidade distante e os alvos eram claros, a comunidade LGBT, e caso você não estivesse incluso ou se importasse com alguém poderia ignorar tudo facilmente.

Após uma longa e silenciosa caminhada chego ao pátio da escola, aonde permaneço para esperar por Heitor, bem, quase isso, poucos minutos depois sou surpreendido com a chegada de outra pessoa, Abigail. Bem, eu sei que não era uma surpresa, ela estudava na mesma escola que eu, porém naquela manhã a garota parecia não estar se importando com o estado frágil de nossa relação, ao me ver imediatamente corre para um abraço.

-Gabriel!- exclama exasperada, receber um abraço que não fosse o de Heitor era estranho, de alguma forma haviam sentimentos diferentes envolvidos, o abraço de Abigail era carregado de alívio e descontrole. Não era novidade pra mim o quanto a menina simpatizava e defendia a causa gay e como deveria estar sofrendo com o atentado assim como nós. -Eu fico tão feliz que esteja bem. Eu sei que errei, mas ainda me importo com vocês.

-Obrigado, obrigado por pensar em nós.- digo enquanto a mulher segura minhas mãos.

-Já estou abusando da sua paciência, mas por favor tenham cuidado, esse ataque não deve ser um caso isolado.- diz ela em tom de súplica, nesse momento sinto a mão de Heitor se colocar sobre meu ombro, o que faz a garota se dirigir a ele.- Por favor, se cuidem, você e o Gabriel.

-Se alguém mexer com o Gabriel vai conhecer meu pai pessoalmente.- diz ele em um tom sombrio e ríspido.

Abigail encara Heitor confusa por alguns instantes, o qual mordia o lábio percebendo que falara demais, a frase do garoto era confusa e aberta a interpretações se você não soubesse que seu pai era o Diabo e aquela era uma ameaça de morte. De qualquer forma o garota se dá por satisfeita, provavelmente deduzindo que estaria falando de um mafioso ou algo assim, por fim nos deixa a sós, o homem não parecia muito empolgado com a presença da menina, mas havia uma pequena parte dele que parecia feliz com a sua preocupação comigo.

Por fim adentramos na escola, os horários daquele dia foram alteradas, de modo que nas duas últimas aulas todos os alunos foram realocados até a quadra para uma palestra tratando da homofobia, reverberando o atentado do dia anterior, ao fim do dia a diretora reitera que nenhum ato discriminatório ou de cunho homofóbico será tolerado nas dependências da escola e que o acontecido não deveria ser utilizado como carta branca de qualquer espécie.

Meu Demônio (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora