A cafeteira Tio Torra não era exatamente um lugar muito cobiçado pelos adolescentes da cidade, na verdade ele praticamente ficava vazio na maioria do tempo, o renda principal estava na reserva do local para pequenos eventos, aniversários e coisas do tipo.
Sabia que naquele exato momento as pessoas comuns da minha idade estavam em alguma lanchonete ou na Starbucks, matando tempo ou fazendo sabe-se lá o quê.
Enfim, a cafeteria Tio Torra podia não ter renome, sua aparência não era moderna, clean, mas era um bom lugar de forma geral, tinha um estilo rústico, com móveis de madeira e bancos confortáveis, era um bom lugar para vir e passar algumas horas, sem pressa, lendo um livro com uma xícara de café à mão.
Por mais convidativo que isso parecesse sabia que esse não era meu caso, pelo menos não hoje, estava mais preocupado do que uma mula de carga com uma mala cheia de drogas passando por uma revista de aeroporto.
Meus olhos deslizavam entre o relógio do telefone e a porta de entrada, atrás do balcão o atendente parecia razoavelmente preocupado comigo. Minha perna saltitava nervosa debaixo da mesa.
Finalizo meu segundo copo de café, talvez tanta cafeína não fosse a melhor opção pra mim naquele momento, mas não tinha outra opção, precisava de uma distração enquanto esperava.
Haviam se passado apenas cinco minutos do horário marcado e minha mente começava a dizer que ela não viria.
Porém em um suspiro de alívio vejo a figura de uma garota adentrando pela porta da cafeteira, seu olhar corre pelo estabelecimento até me encontrar, levanto a mão nervoso, então ela vêm em minha direção. Seu corpo esguio serpenteava enquanto andava, seus cabelos longos e cacheados saltitavam, ela vestia um vestido curto e decotado vermelho e um par de saltos prateados.
-Oi Abigail.- digo me levanto e a cumprimentando com um abraço.
-E aí? A piranha chegou!- diz se anunciando, ao ouvir isso o atendente, surpreso com o jeito da garota se atrapalha e deixa uma bandeja cair no chão, nós o encaramos, seu rosto começa a ficar vermelho, vendo isso ela apenas abre um sorriso então lhe assopra um beijo. Logo em seguida se senta.
- Ainda bem que você veio, já estava ficando preocupado.- digo entrelaçando os dedos ao redor do copo.
-Gabriel meu anjo, posso demorar o tempo que for preciso, mas ficar gata assim não tem preço. Não se apressa a arte.- afirma.
-Está certa.- digo com um sorriso tímido, enquanto isso imagino o quanto devia estar parecendo miserável, vestindo um casaco listrado, calças jeans e um sapato casual, talvez fosse simples demais...
-Mas me fala, o que você precisa me contar tão urgentemente e está fazendo tanto segredo?- diz indo direto ao assunto.
-Então,- começo sem jeito.- eu sei que garanti e jurei pra você que isso nunca iria acontecer...
Um sorriso esperançoso começa a florescer no rosto de Abigail, haviam sido poucas palavras mas haviam sido suficientes pra que ela soubesse do que se tratava.
-Amado?- indaga incrédula.
- Eu... Eu estou apaixonado por um garoto.- solto aquela temida frase finalmente. A garota à minha frente vibra com a notícia.
-Ai que tudo! Quem é o felizardo? Me conte tudo!- ordena.
-Não tem muito o que falar, nem nos falamos ou tivemos algum contato, é só... Sei lá.- digo tentando encontrar palavras pra explicar tudo o que havia dentro de mim.
-Não enrola, Gabriel, é só falar, sabe que sou uma pessoa confiável.- diz ela.- Posso ser um pouco maluquinha às vezes, mas sou eu.
-É verdade.- digo. De todas as pessoas da minha vida ela era a única que sabia sobre mim, sobre quem eu realmente era.
-Aqui é parceria, caramba. Eu sei que as coisas podem ser um pouco mais difíceis pra você, sendo filho do pastor e tudo mais, as pessoas esperam muito de você e...- lembra ela.
-Você tem razão,- digo a interrompendo- eu não posso continuar com isso, nunca vai dar certo, aonde eu estava com a cabeça? Ignore tudo o que eu disse, está bem?
Abaixo a cabeça, encaro meu copo vazio e suspiro. Aonde eu estava com a cabeça? Aquilo não era certo, tinha muito mais em jogo do que uma paixão de um adolescente bobo, eu era o filho do pastor, o que as pessoas iriam pensar?
-Não! Não está bem. Olhe pra mim Gabriel.- ordena Abigail, eu a obedeço.- Preste muita atenção no que vou te falar, você não pode deixar de viver sua vida pelos outros. Você é mais do que o filho do pastor, ou do que a sua sexualidade, é maior do que a soma das suas partes e merece ser feliz assim como qualquer outro. Então, vai me contar ou não, quem é o rapaz?
Assinto com a cabeça. Depois das palavras de incentivo de Abigail eu estava pronto pra falar.
Mas neste momento a porta da cafeteira se abre e um garoto entra, meu coração dispara, fico imóvel enquanto minha corpo todo parecia entrar em curto circuito, sentia meu rosto queimar e minhas mãos transpirarem.
Abigail me encara com estranhamento por não responder, mas logo se vira e vê o rapaz que caminhava até o balcão, então volta a minha direção.
-Deixa pra lá, eu já sei de quem você estava falando.
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Meu Demônio (Romance Gay)
RomansaGabriel prometeu a si mesmo nunca se apaixonar, o que as pessoas diriam se descobrissem que o filho do pastor é gay? Apenas a idéia de prejudicar seu pai o fazia estremecer. O tímido rapaz passa seus dias focado, deixando sua vida de lado enquanto...