Meu Demônio (Romance Gay)

96- Um Profeta Gay

Naquele dia não houve namorico no intervalo das aulas, bem, teve um Heitor sacana me encoxando durante a fila da merenda com um discrição que cada vez se tornava mais indiscreta, por fim nos sentamos em uma das mesas do refeitório, Abigail passa por nós mas não parece certa sobre se juntar a nós. Naquele dia a comida servida era macarronada, algo que parecia agradar o espírito italiano do garoto, eu estava com fome, logo qualquer coisa serviria.

A ideia de não poder ir até a casa de Heitor era dolorosa, porém me curvar à vontade da missionária para que me perdoasse era demais pra mim, naquele ponto já sabia que Heitor usaria seus poderes contra a mulher, o que significava que se tudo ocorresse bem teria um perdão em breve.

Quando as aulas terminam tomo um caminho lento e desinteressado até minha casa, tinha coisas assuntos a tratar naquele dia mas sabiam que eles só aconteceriam a noite, pensar em ter Abigail de volta me faz abrir um leve sorriso, o qual só diminui quando me lembro de Bernardo, a provável má influência dela, se é que ela precisava de uma. De qualquer forma acabo me animando um pouco, se aquele garoto já havia irritado a mim e Heitor, Damares provavelmente perderia o controle (Que controle?) se estivesse no mesmo cômodo que ele.

Bernardo era espalhafatoso e negligente, tudo o que eu sempre evitara sendo o filho do pastor, tinha um leve desejo de ligar para Abigail e pedir que ela trouxesse o garoto, porém meu orgulho e ego ferido não permitiam isso ainda. Havia feito as pazes com ela, mas era cedo demais para ele.

Ao chegar em casa encontro minha mãe na cozinha, a qual servia a missionária pondo a comida em seu prato como se fosse uma empregada, eu conhecia as leis da hospitalidade e aquilo ultrapassava muito os limites do aceitável.

-Filho, que bom que chegou, quer se juntar a nós?- pergunta a mulher tensa, em seu olhar havia a urgência de alguém que evitava conflitos e queria que as coisas se resolvessem logo, por um instante sinto pena dela, mas no instante seguinte vejo a missionária me lançar um sorriso malcriado, aquele era o sinal de que tudo o que fizesse a favor seria interpretado como um agrado proposital a Damares.

-Prefiro passar fome a passar mais um segundo na presença dessa aí.- digo sinalizando a presença indesejada, em seguida parto na direção das escadas, aonde minha mãe me alcança.

-Filho, espere!- pede ela, relutante paro e viro em sua direção.

-Você sabe muito bem que eu não vou voltar atrás, ela começou com isso invadindo meu espaço pessoal e desde então vem fazendo de tudo pra me irritar, vocês escolheram trazer ela e vão ter que escolher entre mim e ela se continuarem dando prioridade a tudo que essa mulherzinha diz e faz.- digo enquanto cruzo os braços para evitar expressões mais grosseiras.

-Meu querido, são as vontades de Deus,- começa, estou prestes a cortá-la quando dispara a falar.- Ela teve uma visão e decidiu em meio a todos que estavam presentes que precisava vir conosco, faz parte da missão dela.

-E que missão seria essa?-indago revirando os olhos. Talvez a missão fosse infernizar a minha vida, o que por Heitor faria a mulher conhecer o inferno muito em breve se não parasse.

-Meu querido, os caminhos de Deus são misteriosos. Só ela sabe, é uma pessoa muito especial, fala em línguas e tudo mais.

-Certo, então me deixe falar numa língua que você vai entender.- digo descendo um degrau para estar mais próximo de sua altura.- Se vocês continuarem fazendo as vontades dela, passando por cima de mim e mantendo esse circo eu vou embora, tudo o que vocês mais prezam estará perdido, não haverá família, não vai sobrar nada e vai ser tudo culpa de vocês e da missionária, não estou nem aí pra missão dela.

Ouvir aquilo faz lágrimas surgirem no rosto da minha mãe, por mais errado que aquilo parecesse sabia que era necessário se quisesse dar um basta naquela situação. Subo para o meu quarto aonde volto a me trancar, o pastor não estava em casa para intervir em qualquer discussão, devia estar na igreja nos preparativos no culto.