69- Sintonia Perfeita

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O barulho do despertador que me do rouba o direito de dormir, porém estar acordado não significava estar disposto a enfrentar mais um dia, depois de me espreguiçar na cama por alguns instantes sigo para o banheiro me arrastando.

No espelho um reflexo de olhos sonolentos e inchados me encara, depois de lavar o rosto e escovar os dentes desço para a cozinha, ali minha mãe me recebe sorridente.

-Bom dia, querido.- saúda ela.

-Bom dia.- digo dando um bocejo em seguida.

-Parece diferente,- observa a mulher curiosa enquanto esfrego os olhos.- Aconteceu alguma coisa?

-Não, eu só... Odeio segundas-feiras.- afirmo apanhando uma torrada.

-Mas por quê? É um dia que Deus fez como qualquer outro.- argumenta.

-Hum.- resmungo enchendo meu copo de café. Imagino um homem entre as nuvens com seu divino copo de café encarando o mundo e dizendo "Porcaria de segunda-feira", tal pensamento me faz sorrir.

Depois de tomar o café da manhã subo para arrumar pra escola, ou melhor, pro Heitor. Sabia que voltaria pra casa antes de ir até a sua mas algo me fazia desejar estar apresentável mesmo na escola. Mas a questão principal era: como parecer bem para alguém que prometera te subjulgar duas vezes seguidas na cama? Pela quantidade de leite que Heitor costumava gozar talvez devesse usar uma camisa da Parmalat.

Frustrado depois de alguns minutos buscando por  me visto com roupas normais de escola, porém prometo caprichar mais a tarde, precisava no mínimo parecer alguém que estava saindo para lanchar com seu amigo.

Antes mesmo de sair de casa já sabia que aquele seria um dia diferente, Abigail não me acompanharia no trajeto, tenho essa certeza ao virar a esquina e não encontrá-la no local de sempre. Sigo meu caminho solitário, toda a cidade ao meu redor parecia tão relutante em começar a uma nova semana quanto eu, percebia isso nos alunos que assim como eu seguiam para a escola ou nos funcionários que abriam lojas um tanto rabugentos. Tudo ali parecia desanimado porém havia paz, bem, pelo menos era isso o que eu pensava.

-Gabriel, me espera!- chama uma voz masculina atrás de mim, receoso me viro, correndo em minha direção está vindo Jonas, o garoto que meu pai tentara fazer meu amigo, dentro de mim um breve momento de desespero invade minha mente, ignorar seria inútil já que estávamos a poucos passos e logo seria alcançado, correr dele era uma opção mas soaria suspeito, frustrado suspiro e tento manter a calma enquanto o rapaz se aproxima.-Que sorte te encontrar por aqui, não é? São os caminhos de Deus.

-Hum...- digo lhe encarando por alguns segundos, seu cabelo era cortado rente a cabeça, se vestia com roupas e sapatos sociais, porém não é aquilo que me incomoda, nas entrelinhas de seu rosto percebo seu sorriso forçado. Ele não estava ali para ser amigável, só havia encontrado um momento para se aproximar, sinto um gosto ácido e amargo na boca.- Sim, é realmente muita coincidência me encontrar no caminho da escola, caminho esse que faço todos os dias. Se não te conhecesse diria que está me seguindo por ordens do meu pai.

O garoto imediatamente fica vermelho, desviando o olhar confirmando minhas suspeitas, irritado aperto o passo para chegar o mais rápido possível aí meu destino, mesmo desmascarado Jonas me segue em silêncio.

Quando penso estar a salvo quando a poucos metros da escola o garoto volta a abrir a boca.

-Tem alguma coisa pra fazer hoje a tarde?- indaga desajeitado.

-Tenho.- respondo seco.

-Hum, se não tivesse ou melhor, quando não tiver, gostaria de se juntar ao coral da igreja ou a banda quem sabe? Sabe tocar alguma coisa?- questiona me recrutando, porém sua última pergunta cai como uma granada em minha mente.

Gargalhando tento correr porém sou seguido por Jonas, se eu sabia tocar alguma coisa? Sim, sabia. Porém não era um instrumento e definitivamente não achava uma boa idéia fazer aquilo na diante da igreja. Chego ao estacionamento e ali tento me recompor, ele se põe ao meu lado com sua mão sobre meu ombro.

-O que foi? Você está bem?- questiona sério, tento falar algo mas volto a cair na risada, o que faz o rapaz rir junto.

-O que você pensa está fazendo com o meu...- vocifera uma voz extremamente grave e exaltada atrás de nós, me viro assustado para dar de cara com um Heitor furioso que encarava Jonas com um olhar mortal, o rapaz amedrontado larga meu ombro, lanço um olhar preocupado para Heitor pedindo para que ele não dissesse mais do que devia.-...amigo?!

-Se acalme varão, só estava conversando com...- Jonas começa a se explicar.

-Varão é o que tenho entre as pernas.- afirma Heitor grosso, em seguida ele aponta o dedo na cara do garoto.- E acho melhor manter distância do Gabriel para a sua própria segurança, não gosto de pessoas que ficam incomodando meus amigos. Agora dê o fora daqui.

Jonas sai dali correndo, sorrio aliviado para Heitor.

-Ainda bem, achei que ia me chamar de namorado na frente dele.- confesso, porém assim que estamos a sós o garoto me encara irritado por detrás de seus braços cruzados.

-Mas que porra foi essa? Por que estava de risadinha com ele?- indaga, por alguns instantes fico preocupado mas logo percebo o que está acontecendo ali, alguns estava com ciúmes.

-Não precisa ficar assim, bobo, eu estava ignorando ele mas então me convidou pra banda da igreja.- Heitor permanece carrancudo enquanto me explico.- E perguntou se eu tocava alguma coisa.

-E toca?- ingada erguendo uma das sobrancelhas sem entender ao que me referia.

-Sim toco, no chuveiro.- digo fazendo um sútil movimento de vai e vêm com a mão, mesmo se corroendo de ciúmes vejo o garoto morder seu lábio inferior.- Mas eu não podia dizer isso pra ele e acabei caindo na risada e foi aí que você chegou, não sei se foi na hora errada ou na certa, tá aí todo cheio de ciúmes mas acabou me salvou daquele garoto.

-Ainda não entendi por que ele se aproximou de você.- observa duvidoso.

-É coisa do meu pai, querendo me aproximar do "caminho certo" com esses amigos da igreja.- afirmo fazendo aspas com os dedos.

-Mas que droga isso, se esse tal Jonas se aproximar de novo vou quebrar ele na porrada.- afirma Heitor irritado apertando seus punhos.

-Ei, calma cara, na verdade estou até pensando na possibilidade de entrar na banda.- digo brincando, Heitor me encara boquiaberto.- Pois é,  acho que uma flauta grande dessas seja uma boa opção para mim.

Minha mão esbarra no volume de Heitor de uma forma quase inocente, lhe lanço um olhar safado que logo em seguida é retribuído.

-Se for assim posso te dar uma aulas particulares.- afirma deixando seu ciúme bobo de lado.

-Eu adoraria, mas vou logo avisando, não sei de nada então vai ter que me ensinar tudo desde o começo.- digo em um tom inocente.

-Ah sim, vai ser um prazer, vou te mostrar aonde pôr os dedos e também como usar a boca, vai ser difícil mas te garanto que no final vai sentir a música entrando em você, com força.- afirma Heitor indiscreto.

-Nossa, isso sim é um varão de verdade.- digo, então rimos juntos, sabia que nunca iríamos aprender nenhum instrumento de verdade, mas para ser sincero aquilo não importava, Heitor e eu já tínhamos uma sintonia para o música perfeita, nosso amor.

Meu Demônio (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora