111- Tentativa de Barganha

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Dividir a cama com o novo Heitor era uma tarefa mais difícil do que pensava, com seu tamanho atual restava a ele deitar-se encolhido na diagonal, com seu corpo ajeitado me ajeito por detrás dele, entre seu corpo e a cabeceira, não era cem por cento confortável mas estava feliz por estar ali.

As coisas pareciam entre mim e Heitor pareciam não estar tão bem, aquela conversa sobre vampiros não havia ajudado mas sabia que não era só isso, tento dizer algo antes de dormirmos mas é inútil, por fim ele dá o assunto por encerrado com um indiferente "Boa noite".

O que havia feito de errado? O que estava deixando passar? Nada, tinha acolhido Heitor sem nem exitar, via o garoto como se nada tivesse mudado e ainda assim tinha-o ali, triste. Não haviam dúvidas sobre meu erro com meu comentário sobre vampiros, mas ainda assim, não pensara em Heitor preso porque ele não estaria se a escolha fosse minha.

Meu sono naquela noite é inquieto, demoro muito mais para adormecer depois de Heitor já tê-lo feito, fecho os olhos e quando abro novamente estou voando. Ao meu lado um pássaro negro bate as asas furiosamente pelo céu e acima do mar, o vento era forte e sussurrava em meus ouvidos acusações horríveis: Criatura perversa, covarde, traidor... À quem aquelas palavras se direcionavam, à mim ou ao pássaro? O que um animal teria feito pra receber tal culpa? As vozes vinham de trás, de onde o pássaro fugia, me viro e encontro uma grande estrutura de madeira, estranha e disforme boiando.

Então à nossa frente outra voz surge, ela era áspera e masculina, de tom manipulador.

-Que culpa um pássaro liberto tem por voar? Criam expectativas em quem nunca teve culpa de nada, a expectativa é sua, não dele. Você tem direito de sentir-se tão magoado assim quando alguém mostra sua natureza? Pássaros voam, mas e você, está voando?- a voz logo em seguida desaparece e com ela minha capacidade de seguir o pássaro também, ele segue sua jornada e eu caio no mar.

Acordo sobressaltado, me debatendo na água até perceber que estou na cama de Heitor, busco por seu corpo sem sucesso, me ergo para encontrá-lo sentado no chão, recostado sobre a cama, minha agitação faz com que seus olhos se voltem da janela até mim.

-Teve um pesadelo?- pergunta enquanto seus olhos brilham na escuridão do quarto, assinto.

-Você também?- indago, não via outro motivo para tê-lo acordado àquela hora.

-Não, só estou sem sono mesmo. Você deveria dormir, amanhã tem aula.- afirma ele, cuidadoso.

-Eu posso ficar em casa se quiser, podemos fazer algo, assistir um filme...- me ofereço prontamente, já havia passado mais de dez dias sem ir à escola, um dia a mais não faria diferença, para todos as aspectos ainda estava me recuperando das queimaduras.

-Não, você precisa ir pra escola, se começar a sua vida normal, por mim, vou ficar chateado e triste, não é o que quero.

-Mas Heitor, é só um dia.- protesto, o garoto obviamente não estava bem e queria estar aí, lhe apoiando.

-Gabriel, tem todo o tempo do mundo pra me ter aqui, nem sair eu posso, então tenta dormir mais um pouco, ainda são três da manhã, a Abigail também precisa do seu apoio. - argumenta ele, penso em retrucar mas seria inútil, tudo só deixaria-o pior.

-Pelo menos vem aqui.- peço, indicando o espaço vazio do colchão ao meu lado, o garoto parece relutar mas acaba cedendo, a cama continuava pequena para nós dois, porém assim que ele se deita tenho uma ideia, com cuidado subo me esgueirando até deitar sobre seu corpo, usando seu peitoral de travesseiro.- Agora sim, bem melhor.

Naquela posição tudo parecia perfeito, espaço suficiente para nós dois, sem ninguém encolhido e o melhor, garantia que o garoto não fugiria novamente.

Meu Demônio (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora