39- Oportunismo

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Chegando no primeiro andar Heitor me leva para a cozinha, aonde enche a chaleira de água e a põe para ferver. O cômodo era grande, no centro havia uma bancada rodeada de cadeiras altas, o garoto faz sinal para que eu me sente e sai a procura de pacotes de biscoito que ele encontra em um armário sobre a pia.

Depois de passar o café ele traz a garrafa e se junta a mim, nesse momento ouço um som vindo da sala, sabia o que ele significava, a mãe de Heitor havia chegado.

-Filho, você está aqui embaixo?- questiona ela tentando localizar o garoto ao meu lado.

-Estamos na cozinha.- responde ele já indicando presença, sabia que aquilo havia sido proposital.

-Certo,- diz ela, alguns minutos depois a mulher surge na porta com algumas sacolas no braço.- Estava na cidade fazendo algumas compras.

-Ok.- diz Heitor sério, cumprimento a senhora com um aceno de mão tímido, queria ser educado mas sabia de sua opinião quanto a mim, ela suspira e vem em nossa direção, pondo as bolsas sobre a bancada e começando a tirar suas compras de dentro delas.

-Então, eu comprei algumas coisas pra você, uma toalha, uma escova de dente, umas roupas também, elas devem servir, só para o caso de acabar sujando a sua.- diz ela, então empurra a pilha de coisas em minha direção.

-Espere aí, são pra mim?- questiono confuso, encaro ela e depois Heitor, ele observava com olhos estreitos.

-Sim, são.- diz insistindo para que eu apanhasse aquelas coisas, ainda incerto as segura, a toalha por baixo da pilha era macia.- Eu e o Heitor conversamos muito ontem a noite, ele deixou muitas coisas claras quanto a você, não se engane, estarei sempre de olho em você, é mais difícil conquistar minha aprovação do que imagina, mas se o meu filho realmente quer ficar com você a única coisa que tenho a fazer é tentar ajudar.

-Hum, obrigado pelas coisas.- digo sem jeito, porém a mulher não tinha seus olhos para mim, apenas para o seu filho, a aprovação que ela queria não era a minha, era a dele.

-Certo, o Gabriel vai dormir aqui em casa algum dia.- informa Heitor para ela que levanta uma das sobrancelhas, curiosa.

-E os pais dele sabem disso por acaso?- indaga finalmente voltando sua atenção a mim.

-Não senhora? Mas eu vou...- por alguns minutos travo, sabia que para a mulher a qual tentava conquistar a confiança admitir a verdade seria ruim, mas não havia o que fazer.- Vou inventar uma desculpa pra eles.

Ela me observa, sinto minhas bochechas ficando ruborizadas, então volta sua sua atenção a Heitor.

-Muito bem, se essa é a sua vontade vou dar um jeito.- diz a senhora, então se vira e sai do recinto.

-Eu não queria presentes, ela está me testando para descobrir se sou interesseiro?- indago, falando baixo.

-Hum, não. Acho que ela só está te trazendo para perto o suficiente, pra poder te examinar. Mas não precisa se preocupar, esse é o normal dela e tenho certeza de que vai acabar gostando de você.

-Tudo bem, então.

Depois de tomarmos café subimos novamente para o quarto de Heitor, ali ele cede um cantinho de seu guarda-roupa para que eu guarde meus novos pertences. Logo ao lado ele deposita o dildo depois de lavá-lo. Então finalmente nos deitamos em sua cama e passamos a hora seguinte conversando aleatoriedades, rindo e trocando carinhos.

O relógio marcava quatro e trinta e cinco da tarde quando finalmente me levanto, precisava voltar para casa. Visto minhas devidas roupas e me despedindo de Heitor parto.

Até mesmo para os padrões normais da minha cidade, aquela terça-feira parecia sem vida, poucas pessoas pareciam dispostas a sair de casa. Um frio mediano abraçava a tudo ao meu redor, enfim, o lugar parecia triste.

Enquanto isso minha mente tentava sem sucesso inventar uma desculpa qualquer que me justificasse passar uma noite na casa de Heitor, meus pensamentos pareciam tão cheios de neblina quanto o restante.

Frustrado chego ao meu destino, assim que adentro pela porta ouço meu pai na cozinha.

-Mulher, você precisa entender, ele já é um homem e tem todo direito de participar disso.- afirma ele para minha mãe.

-Ele ainda é muito novo, não quero tanta responsabilidade sobre a cabeça dele.- diz ela se opondo, minha respiração se acelera, eles estavam discutindo e aparentemente era sobre mim. O que fazer? Seguir ouvindo ou me anunciar, não sabia, ficando ali eles poderiam tomar aquela misteriosa decisão sem me consultar. Respiro fundo e sigo para a cozinha.

-Hum, oi. Eu voltei da casa do Heitor, tínhamos uma porção de tarefas.- começo a falar tentando fingir não ter escutado a qualquer coisa.

-Filho.- diz minha mãe vindo até mim.

-Estávamos aqui conversando sobre a filial da nossa igreja, sabe?- afirma ela. Por um instante o desespero toma conta de mim, lembro do que meu pai havia dito... Fazer parte disso, estariam mais pais pensando em fazer de mim um pastor. Nunca havia pensado na hipótese mas lhe vendo diante de mim era algo aterrorizante, recuo um passo.

-Ah, legal.- digo sem jeito, meu pai fecha a cara, se levanta e sai. Minha mãe parece tensa mesmo tentando são transparecer.

Não tinha um plano, nem sabia se era a hora certa, mas precisava me arriscar.

-Então, o Heitor me convidou pra dormir na casa dele, eu posso?



Meu Demônio (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora