32- Heitor E Seus Fragmentos

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Continuo mudo diante ao seu convite, ainda não havia digerido o acontecido, o motivo pelo qual a mãe de Heitor fôra tão ácida comigo, do que ela dizia proteger seu filho e até mesmo qual era a gravidade da situação, tudo ainda era um mistério pra mim.

-Vamos.- aceito finalmente, apanhando meu prato.- Heitor, me desculpe se minha presença aqui fez vocês brigarem, não foi minha intenção.

-Você não precisa se desculpar por nada, a culpa não foi sua, minha mãe sempre foi muito super protetora com relação a mim, mas ela passou dos limites agindo daquela forma com você, eu devia ter previsto que deixar vocês dois a sós não era uma boa idéia.

-Mas como você iria imaginar?- indago, o garoto estava tomando a culpa para si, ele abaixa o olhar.- Antes de conversar com você, sempre me pareceu alguém solitário, sua mãe não te deixa ter amigos?

Aquele pensamento me faz tremer, meus pais podiam até implicar com Abigail, mas a idéia de não poder ter nem sequer um amigo... era desumano.

-Eu, bem...- Heitor trava, então respira fundo antes de continuar.- Essa parte não é só culpa dela, com catorze anos eu prometi pra minha mãe que não repetiria o mesmo erro.

-Mas por quê? Aconteceu alguma coisa quando você tinha essa idade?- questiono, um longo silêncio segue minha pergunta.

-Aconteceu, mas não é algo que eu gosto de lembrar.- diz desconfortável, seu rosto se contorce mesmo tentando esconder.

-Está tudo bem, não precisa me contar agora, faça isso quando sentir que está pronto.- digo, mesmo curioso e preocupado com o que poderia vir a ser não queria forçar Heitor a fazer algo que não estava preparado, o garoto dá um leve sorriso de gratidão.

Voltamos a nossa refeição, ou melhor, começamos ela, Heitor enche seu prato como se não alimentasse a dias, fazemos nossa refeição em silêncio, o que de certa forma era estranho já que era habitual dele estar ao menos dizendo algo cômico, mesmo tentando fingir que estava tudo bem era possível ver a verdade.

-E aí? Ainda vai querer estudar hoje?- digo pondo meu prato de lado.

-Acho que não estou no clima, mas não precisa ir embora, podemos ficar apenas deitados conversando.- diz recolhendo os pratos e pondo sobre o criado mudo, então volta e toma seu lugar na cama, lhe acompanho me deitando em seu ao seu lado.

-Muito bonito isso, aí um belo dia minha mãe pergunta o que você aprendeu e não vai ter nada pra mostrar.- digo rindo.

-Como assim nada? Se ela me perguntar isso eu posso mostrar como sei colocar o filho dela pra mamar.- ri ele alto, mesmo sendo uma piada a idéia me faz estremecer.

-Minha mãe teria um ataque e meu pai me mataria.- digo passando o dedo pelo pescoço.- Ou melhor dizendo, nos mataria.

-Nossa, eles são bravos assim mesmo?- Questiona.

-Ah, por que a sua mãe é serenidade pura.

-Hoje ela passou dos limites, mas se fosse pra matar, ela só mataria um de nós.- afirma, então pisca um dos olhos.

-Ahaha, acabei de lembrar que eu tenho que ir.- digo começando a me levantar.

-Aonde você pensa que vai?- Heitor passa seu braço ao redor da minha cintura e me puxa de volta e roubando um beijo entre risadas. - Ela pode até tentar, mas eu vou te proteger, e não se preocupe em ficar sozinho com a minha mãe, eu a coloquei de castigo.

-Você o quê?!- indago surpreso.

-Pois é, ela fez o que não devia, passou muito além dos limites e sabe disso, eu deixei bem claro.

-Um filho colocando a mãe de castigo, só não parece mais absurdo por que te vi bravo, até eu fiquei com medo.- confesso um pouco sem jeito

-Ei, não precisa ter medo de mim, ok?- diz ele afagando meu cabelo. - Posso ter me exaltado, mas não com você, nunca vou descontar meu ódio em alguém inocente.

-Está bem, acho que foi uma coisa de momento mesmo, os seus olhos e tal.

-Meus olhos?- questiona ele confuso.

-Sim, eles mudaram de cor por um momento, ficaram vermelhos. - digo relembrando a cena.

-Estranho,- diz tenso, suas sobrancelhas se curvam preocupadas.- Deve tenha sido apenas impressão.

Diferente de antes Heitor diz aquilo desviando o olhar. Eu sabia o que havia visto, e pelo visto ele também, só não queria admitir, ao que parecia aquele assunto era uma ferida tão aberta para ele quanto o corte que tinha em seu rosto. O garoto abre a boca para dizer algo mas as palavras não saem, ele a fecha decepcionado, me aproximo e lhe dou um beijo longo e terno.

-Tudo bem.- digo. Heitor me lança um olhar agradecido e em seguida me puxa para mais perto de seu corpo.

-Amanhã você quer vir pra cá de novo?- indaga ele.

-Eu não sei se é uma boa idéia, acho que...- digo um pouco sem jeito.

-Por favor, o que aconteceu hoje não vai se repetir.- diz em tom de súplica.

-Como eu ia dizendo, acho que meus pais vão estranhar o fato de estar vindo pra cá todo dia.- termino meu argumento.

-Hum, precisamos de uma solução pra isso. Mas sobre amanhã, venha, quero te mostrar que aqui em casa podemos ser normais.- pede ele, suspiro, o Heitor cão bravo agora parecia um filhotinho carente pedindo por atenção, como eu poderia negar algo assim?

-Está bem, vou dar meu jeito, mas tem algumas coisas que preciso fazer.- digo lhe encarando, seus olhar era um misto de curiosidade e ansiedade.

-Amanhã vou almoçar em casa, assim não vou parecer tão envolvido com você, e além disso, vou precisar ir embora mais cedo hoje.

-Mais cedo quanto?- questiona desconfiado.

-Bem, agora.- digo, a afirmação faz um biquinho surgir nos lábios de Heitor.

-Por que ir embora mais cedo?- questiona inconformado.

-Isso só vai saber amanhã.- digo deslizando para fora da cama.

-Isso é tão injusto.- reclama ele.

-Não precisa ficar assim, eu prometo que vai valer a pena.- digo, então passo a língua rapidamente pelos lábios, o garoto salta para fora da cama.

-Nesse caso eu te levo até a porta.- afirma contente.

Voltando ao primeiro andar não vejo sinal da mãe de Heitor, o que confesso ser um alívio. Chegando na porta nos despedimos com um demorado último beijo (e uma apalpada em meu traseiro). Então tomo meu rumo para casa.

Havia acontecido muita coisa, mas não era nisso que pensava no momento, o futuro prometia muito mais.

Heitor havia dito uma coisa e era verdade, não estava para encarar um homem com a virilidade como a dele, mas eu sabia quem tinha tal conhecimento, apanho meu telefone e disco o meu número de socorro.

-O que manda meu lindo?- diz a voz da garota de forma despachada.

-Abigail, tem como me encontrar, tipo agora?- questiono, a urgência da pergunta faz ela se animar.

-Com toda certeza, no Tio Torra?- questiona sobre a localização.

-Claro.

-Mas sobre o que quer falar?- questiona curiosa. Observo as grandes casas do condomínio ao meu redor a procura de alguém que pudesse estar me escutando, porém não havia ninguém.

-Abigail, eu preciso dos seus conselhos de piranha.

Meu Demônio (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora