20- Sem Conversa

5K 645 320
                                    

A presença de Abigail parece fazer o assunto morrer, enquanto começa o almoço minha mãe prepara um saco de gelo para tentar amenizar as manchas em meu pescoço.

Fico sentado no sofá enquanto meu pai sobe até o quarto para organizar algumas coisas, com uma das mãos segurava a compressa e com a outra o celular, conversando com Abigail. Depois de alguns minutos lhe agradecendo enquanto a ouço se vangloriando de seus talentos, ela pára e dispara a mensagem.

"Sabe de uma coisa, eu gosto do que está fazendo me elogiando, mas se um dia rolar alguma coisa mais séria entre vocês dois eu quero assistir, hein?"

"Mais séria? Tipo sexo?" Questiono confuso.

"Pode ser, eu poderia até pedir pra ser madrinha do casamento mas isso já é certeza, né?"

"Se realmente acontecer, sim, mas quanto ao sexo, não sei se seria uma boa idéia..." Argumento.

"Kkk, eu consigo ver você ruborizado daqui de casa, mas quanto ao sexo, pode ter certeza de que um dia vou te assistir, te salvei de tomar no cu agora, pra te assistir tomando no futuro... Com um grande balde de pipoca"

"Você está brincando, né?" Aquilo só podia ser uma piada de Abigail.

"Veja como quiser, mas saiba que se um dia eu tiver a oportunidade de assistir, eu irei, principalmente com a chance de ver o Heitor (vulgo gostosão da porra) pelado, se não quiser isso, acho melhor trancar bem a porta do quarto" Adverte ela.

"Kkk, está bem, vou me lembrar" afirmo, por incrível que parecesse vindo de Abigail eu não podia duvidar.

Quando minha mãe avisa que o almoço está pronto me despeço de Abigail prometendo voltar mais tarde.

Deixo a bolsa de gelo de lado, faço o prato e me sento a mesa, do lado oposto minha mãe come de forma silenciosa, algo incomum já que costumava perguntar sobre os ocorridos, manter contato, por alguns instantes me questiono se ela desconfiava da história de Abigail, mas logo percebo que era algo dela, meu pai nem ao menos havia descido para o almoço.

-Então...- começo, pigarreio apressado. -Como foi no seminário?

-Tudo bem, nada demais, nada com o que você tenha que se preocupar.- responde tensa, aparentemente não era um assunto que ela queria levar adiante, então não insisto.

Depois de almoçar prometo lavar a louça mais tarde e subo para o meu quarto, enquanto caminho pelo corredor algo chama minha atenção, a porta dos quarto dos meus pais está fechada, possivelmente trancada, algo que não era muito comum da parte deles, mesmo não sendo algo com muita importância aquilo me deixa curioso, o que faria meu pai se isolar daquele jeito? O seminário parecia não ter feito tão bem assim para nenhum dos dois, se bem que já havia visto meu pai agir de formas estranhas algumas vezes, geralmente quando o assunto era tratar de questões bíblicas de forma mais branda, coisas que ele considerava uma fraqueza da igreja mediante o pecado, como a aceitação de homossexuais, de qualquer forma, eram sinais como esses que acabavam me fazendo adiar o dia de me assumir para eles.

Quando chego em meu quarto caio sobre a cama, aquela manhã já havia sido demasiado movimentada para os meus padrões, apanho meu celular no bolso para voltar a conversar com Abigail, mas ao ligar a tela vejo algo que faz meu peito acelerar, uma mensagem de um número desconhecido, entrecortada pela tela de bloqueio, "Oi sou eu, Heitor, está..." Clico na conversa apressado, quase como se ele pudesse desaparecer se não fizesse.

"...podendo conversar?" Completa a frase.

"Estou sim, acabei de almoçar e subi para o quarto" informo.

"Bacana, eu ainda estou almoçando" diz em seguida manda uma foto de um grande prato de comida, com uma parte já devorada, mas no geral o que mais se destacava era um enorme bife na parte superior.

"Olha só, fome de leão, hein? Mas pensando bem faz sentido, um grande prato para um grande homem" digo brincando.

"Kkk, você acha?" Questiona completando com um emoji risonho.

"Acho sim, por que tipo, qual a sua altura? Devem ser quase uns dois metros" argumento.

"1,96" responde.

"Viu? Eu tenho 1,77, como disse, você é grande" Mesmo não sendo baixo sabia que havia uma grande diferença entre nós.

"Kkk Sabe o que mais é grande?" Responde, seguido logo depois por um emoji sorrindo de lado. Fico atônito, não sabia o que responder, já havia visto seu volume antes mas não queria assumir o fato de que estava de olho em sua intimidade.

"Não" respondo quase trocando as letras, então o vejo escrevendo, alguns breves minutos se passam até a mensagem ser enviada, fico me perguntando o porquê de tanta escrita.

"Olá Gabriel, tudo bem querido? Aqui é a mãe do Heitor, me desculpe incomodar a conversa de vocês, mas o meu filho está de castigo no momento e não pode mexer no celular, está bem? Se quiserem conversar podem fazer isso amanhã, pessoalmente, beijos"

E com isso o status de online de Heitor desaparece. Largo o celular e encaro o teto do quarto, naquele momento não me importava a rigidez da mãe de Heitor ou o fato de ficar sem falar com ele, tudo o que conseguia pensar era nela, naquele exato momento lendo a última mensagem enviada por seu filho. Abro um involuntário sorriso, estava rindo, mas era pelo nervosismo.


Meu Demônio (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora