110- Debate De Vampiros

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Poderia dizer que a fome de Heitor aumentou, mas isso era algo difícil de se determinar, afinal ele sempre comera como um gigante de dois metros e meio. A comida de Cassandra continuava tão boa quanto sempre e a mulher parecia feliz tendo seu filho novamente à mesa, em um breve comentário surgiu a informação de que o garoto não saía mais do quarto depois do incêndio na biblioteca, entendia sua realidade mesmo que de um ponto de vista diferente, havia me isolado no quarto pelo que outras pessoas haviam feito e ele por questões internas, as quais haviam se tornado externas sem sua permissão ou controle.

Algumas vezes observo Cassandra, tentando encontrar em seu olhar qualquer sinal de reprovação, indícios de uma acusação jamais feita, não demora muito para que seja eu fazendo perguntas mentais pra ela, desejando que uma resposta horrível que acabe com a minha ansiedade. "Eu sou fraco?", "Você sabe que eu sou fraco?", "Consegue enxergar que não vou dar conta do seu filho como você fez com o pai dele?" Depois de muito olhar ela finalmente decide agir, pondo a mão sobre meu ombro.

-Gabriel, está tudo bem.-diz em um tom suave e apaziguador. -Você é bem-vindo aqui em casa, é da nossa família agora.

A atitude da mulher é genuína, mas a única coisa que consigo fazer para retribuir é abrir um sorriso amarelo, me sinto um idiota deixando pensamentos intrusivos como aqueles tomarem conta quando devia estar sentindo muito mais, havia deixado minha antiga família pra trás, o que eu sentia? O que eu sentia? Tento acalmar minha mente e clarear meus pensamentos... O que você está sentindo, Gabriel? Nada, deixá-los não foi tão doloroso quanto deveria ser porque eu tinha motivos pra isso, porque a culpa não tinha sido minha. Não era cem por cento indiferente a eles, mas grande parte do que sentia antes havia virado fumaça, restava apenas uma espécie de gratidão genérica por terem me criado.

Sua afirmação faz com que meu pânico se dissipe e volte à refeição, estava acolhido ali e por sorte Cassandra não parecia se preocupar tanto com a vida sexual de seu genro. Depois do jantar me ofereço para lavar a louça, agora morava ali e precisava ajudar nos afazeres, a mulher tenta ajudar, mas afirmo dar conta sozinho, por fim ela cede e se volta à outra tarefa, preparando um chá que rapidamente espalha seu cheiro de hortelã pela cozinha.

Quando um copo me é oferecido penso em recusar, não era um grande fã de chás, mas lembro das poções de Cassandra e percebo que já havia tomado coisas piores feitas por ela. Hum... Será que a mãe de Heitor conhecia uma poção 2.0 super ultra mega potente pra aguentar tudo aquilo? Não tinha coragem de perguntar algo do tipo e pra completar, se aquela bebida tinha um gosto ruim... Que gosto teria a versão definitiva? Queria provar pro Heitor que seu tamanho não importava mais e nada havia mudado, mas negar seu contato pareceria dizer do contrário.

Com a louça lavada e o chá pronto nos sentamos, os três no sofá, Heitor no meio e o restante nos cantos. Cassandra, portando o controle põe uma série para assistirmos, era um capítulo avulso falando sobre vampiros que haviam sido mortos e agora estavam vivos de novo, de repente Cassandra instaura o caos na sala.

-Esse Damon é um gatinho, não é?- comenta, se abanando com uma das mãos.

-Você só pode estar de brincadeira! O Stefan é muito mais bonito.- rebate Heitor, indignado.

-Filho! Você só pode estar louco,estou questionando seu gosto pra homens, não é nada pessoal Gabriel,- começa ela, se desculpando enquanto se prepara para o ataque.- Olha aquele pedaço de mau caminho, aqueles olhos... Ele tem charme, personalidade e astúcia, o Stefan é só um rostinho bonito com tanquinho.

-De onde você tirou isso? Ele é incrível! Me desculpe Gabriel, mas se eu estivesse solteiro pegaria muito!- defende o garoto, estou achando tudo muito engraçado até a dupla se virar em minha direção.

-Mas é você Gabriel, qual dos dois escolheria?- indaga Cassandra, estreitando os olhos de forma ameaçadora. O que fazer? Concordar com meu namorado ou minha sogra? A casa era dela, mas dormiria na mesma cama que ele, não sabia qual deles estava mais predisposto a ficar emburrado se perdesse aquela disputa, aos tropeços tomo a decisão mais segura.

-Bem, eu não reparei muito neles e sei lá, eles são só personagens imaginários, os atores parecem bem bonitos mas... Bem, vampiros, né? Acho que não é uma boa ideia namorar um cara com quem nem dá pra sair na luz do dia...- engasgo nas palavras quando vejo o olhar mortificado de Heitor, seu rosto toma uma expressão de decepção e antes que eu possa dizer qualquer coisa ele está subindo as escadas, sem exitar disparo atrás do rapaz. O que estava passando pela minha cabeça? Minha tentativa de diplomacia havia falhado miseravelmente, não tomar partido era uma atitude mesquinha que no fim havia me colocado numa situação ainda pior.

Quando chego ao quarto encontro Heitor sentado na cama, ele encarava o céu noturno através da janela e tinha os braços cruzados diante do peito, cuidadosamente me aproximo e sento ao seu lado, por alguns instantes apenas permaneço em silêncio, qualquer desculpa dita soaria superficial depois do que havia feito.

Vampiros não podiam sair à luz do dia, assim como Heitor, a verdade era que o garoto estava preso naquela casa como um pássaro engaiolado, um mundo com limites tão pequenos para alguém tão grande, tudo o que mais queria era encontrar uma forma de mudar a realidade sua realidade e devolver sua liberdade.

-Pelo menos os vampiros tem a noite pra eles saírem, acho que estão melhores do que eu.- afirma magoado, seu tom de voz é tristonho mas não irritado, seu comentário não é combativo, sua dor não vinha de mim, mas sim de sua situação.

-Eu...- começo, apenas para me conter em seguida, o que eu diria? "Eu sinto muito"?, "Nós vamos dar um jeito"? Que jeito? Me sentia um idiota pelo que tinha feito, Heitor passara anos sob a rédea curta de sua mãe, com medo de se cortar ou ferir, piorar aquilo que já estava ruim, sentia que tudo aquilo que havíamos conquistado voltara à estaca zero, aqui estava o garoto mais uma vez, preso em uma situação ainda pior, onde sair de casa não era mais uma opção. "Eu vou dar um jeito, custe o que custar" prometo a mim mesmo, porém aquela não era a hora de fazer promessas sem fundamento para Heitor, suspiro encostando minha cabeça em seu braço.- Eu vou estar aqui enquanto você precisar.

O garoto por fim descruza os braços e me puxa para perto de si, Heitor nada diz, apenas acaricia a lateral do meu corpo, podia lhe prometer o mundo e ao invés disso havia jurado algo que podia cumprir e para ele isso bastava.


Meu Demônio (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora