09- O Seminário

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Abro a porta a minha frente e entro na minha casa, a sala estava vazia, mas podia ouvir meus pais na cozinha, eles conversavam de forma acalorada, não chegava a ser uma briga mas conseguia sentir a tensão envolvida, sigo na direção deles.

-Mas tão rápido?- questiona minha mãe- Quando enviaram o convite pensei que iria demorar pelo menos alguns meses.

-Não precisa se preocupar, os organizadores disseram que era apenas uma visita de reconhecimento, processo padrão.- diz meu pai tentando acalmá-la.

-De qualquer forma, é algo muito grande, pode dar errado e se...- nesse momento chego a cozinha e minha mãe fica muda.

-Oi.- digo os cumprimentando, meu pai se vira apressado, ele diferente de mim tinha uma postura séria e imponente, usava sua roupa social de praxe.

Era de costume do meu pai que ele se vestisse dessa forma mais apresentável, afinal muitas vezes pessoas vinham a sua procura fora de expediente pedindo conselhos para os assuntos mais diversos.

-Olá filho, estávamos aqui conversando sobre um... seminário que acontecerá esse fim de semana aqui em nossa igreja.

-Hum, não sabia de seminário nenhum.- digo estranhando a notícia.

-Pois é. Foi uma decisão de última hora, fomos convidados para participar de um grupo muito especial, que faz reuniões em vários lugares, onde discutimos problemas do cotidiano e tentamos encontrar soluções para eles.- explica ele apressado.

-Ah, legal.- digo um pouco desinteressado, enquanto sigo na direção da mesa do almoço, pelo que ouvia nos corredores parecia se tratar de algo tão mais incrível.

-O grupo se reunirá esse amanhã e no domingo na igreja e por isso estaremos ocupados, mas acho que você já está bem crescido pra se cuidar sozinho em casa, não é mesmo?- questiona meu pai.

-Claro.- digo pondo a mochila em minhas costas ao lado da minha cadeira, no fim o mais incrível era o fato de que não estavam tentando me arrastar junto para o tal seminário, e ficar em casa sozinho não era tão ruim assim.

Nesse momento minha mente traz de volta aquilo que vinha pensando desde a escola. No fim com um pouco de sorte aquele seminário podia ser útil.

-Então, eu estava pensando, já que vocês estarão ocupados no seminário e não vai haver nenhum outro compromisso na comunidade, teria algum problema se eu fosse para a festa das flores esse ano?- peço.

Meus pais se encaram, no fim das contas a festa acontecia na praça da cidade, o que era bem na frente da minha casa, porém eles não gostavam da idéia de que as pessoas vissem a filho deles, o filho do pastor, como uma pessoa festeira, o que as pessoas iriam pensar?

Finalmente meu pai assente para minha mãe, que me encara.

-Está bem filho, você pode ir, mas lembre-se das regras, nada de beber, não aceita coisas de estranhos, seja comportado e principalmente, nada de trazer moças aqui pra dentro de casa.

-Ok, prometo não fazer nada de errado.- digo sorrindo, em parte por estar feliz pela permissão mas também pela ironia da última regra. Mesmo que não soubessem e fosse obediente a eles, não me interessava em nada trazer uma menina para dentro de casa.

Depois disso almoçamos juntos como de costume, então subo para o meu quarto e me jogo na cama. Ainda que tivesse sido útil não conseguia parar de pensar o quão estranho era fazer um seminário no mesmo dia de uma festa, era no mínimo curioso.

Finalmente depois de alguns minutos decido deixar aquilo de lado, tinha trabalho a fazer se quisesse ter o fim de semana livre.

Sigo para a minha mochila e apanho meus cadernos, junto com eles está o livro de Heitor, eu já havia lido Jogos Vorazes antes e também sentia que seria falta de educação da minha parte ler algo dele, mas algo me faz levá-lo até a escrivaninha de estudos que ficava de frente para a janela.

Ali passo as próximas horas, fazendo exercícios escolares e vez ou outra admirando o mundo lá fora, a praça estava repleta de funcionários da prefeitura organizando tudo para a festa que se aproximava, alguns estandes para mostra e venda de flores já estavam quase prontos, do lado oposto da rua um grande palco estava sendo montado para apresentações de cantores regionais, nada muito incrível.

Quando a noite chega estou de volta a minha cama, deitado, com os fones nos ouvidos e o volume no máximo ouvindo "Na Sua Estante" da Pitty.

Sabia que tudo podia mudar no dia de amanhã, para melhor ou pra pior, e tudo com o que podia era a sorte, dou um longo bocejo, não havia por quê ficar acordado se tudo o que faria era pensar naquilo. Ponho o celular e os fones de lado e me viro na cama e com uma estranha certeza fecho os olhos, era hora de encontrar Heitor mais uma vez em meus sonhos.



Meu Demônio (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora