Dormir naquela noite foi uma tarefa quase impossível, a minha conversa com Heitor ecoava em minha mente, seus poderes não haviam funcionado em Damares, sendo assim tudo o que restava era um garoto ameaçando uma missionária altamente instável e repulsiva, a qual não sabíamos do que era capaz. De certa forma era surpreendente que a mulher não tivesse gritado em agonia para que lhe salvassem.
Algumas teorias podiam ser válidas, estávamos em uma igreja e talvez o local bloqueasse seus poderes, bem, eu me lembrava de quando eu e Cassandra havíamos pensado que o Heitor queimaria se colocasse os pés lá, algo que por sorte não ocorrera. Era possível também que a manipulação do garoto funcionasse apenas em humanos, coisa que aquela víbora claramente não era.
Por fim o sono vence e no que parece um minuto depois acordo sobressaltado com o som do despertador. Me arrumo apressadamente para sair de casa, furto uma maçã da geladeira e dali parto em direção a escola, sabia que a experiência de ontem havia abalado Heitor, ele tinha medo de ter se relevado para a pessoa errada, queria vê-lo e confortá-lo.
Subo apressado a colina da escola com pressa e como suspeitava encontro-o a minha espera, alguns poucos alunos mais adiantados já chegavam, era demais para um beijo mas não o suficiente para impedir um abraço. O garoto tinha um sorriso morno e tenso no rosto.
-Oi, aconteceu alguma coisa na sua casa ontem?- pergunta preocupado.
-Não, a Damares não disse nada, acho que ter ficado perplexa demais com a sua beleza e nem te ouviu falar nada.-digo tentando lhe acalmar, ele me observa franzindo as sobrancelhas mas logo percebe a piada e esboça um sorriso.
-Mas falando sério, ela não comentou nada?- pergunta aturdido, balanço a cabeça em negativa, fazendo-o relaxar um pouco, por fim se move desconfortável, tentando juntar forças para falar.- A mamãe está muito preocupada desde o domingo, acho que por conta do ataque na parada.
-Eu não entendo, ninguém mais sabe sobre a gente.- argumento, aquilo não fazia sentido.
-Gabriel, acho que...- o garoto começa mas logo seus olhos se perdem deslizando na direção da estrada, aonde um Corolla preto subia na direção do condomínio de Heitor, o motorista era magro e tinha cabelos grisalhos penteados para trás, vestia um terno preto e gravata vermelha.- Ah meu Deus.
-Heitor, o que foi?- pergunto preocupado, havia algo errado e certamente tinha a ver com o homem no carro.
-Nós precisamos ir pra minha casa.- diz ele segurando meu braço, ele me puxava com urgência na direção da ladeira, por fim desisto de lutar e apenas lhe sigo.
-O que está acontecendo?- pergunto enquanto corremos, se continuássemos estaríamos matando aula, o que naquele ponto já não parecia tão importante diante da situação que Heitor estava.
-Eu...eu conheço aquele homem, já vi ele antes, acho que tem alguma relação com o meu pai.- diz exasperado, surpreso com a notícia e incapaz de seguir correndo paro para retomar o fôlego.
-Como assim?
-Antes de vir pra cá, antes de mudar de casa ele sempre aparecia pra conversar com a minha mãe, toda vez.- explica tropeçando nas palavras.
Ao dizer isso a urgência de Heitor toma conta de mim, se aquele homem aparecia sempre quando o garoto se mudava... Com um arrepio na coluna voltamos a correr.
Cansados e sem fôlego chegamos à casa para encontrar o carro preto estacionado a sua frente, Heitor abre a porta para encontrar uma sala de estar vazia, da cozinha ouve-se uma conversa tensa e acalorada com a voz de Cassandra sendo narradora.
-... Pode ser qualquer lugar, no Brasil ou mesmo fora, eu não me importo.
-Entendo senhora, vou providenciar isso o mais rápido possível.
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Meu Demônio (Romance Gay)
RomantizmGabriel prometeu a si mesmo nunca se apaixonar, o que as pessoas diriam se descobrissem que o filho do pastor é gay? Apenas a idéia de prejudicar seu pai o fazia estremecer. O tímido rapaz passa seus dias focado, deixando sua vida de lado enquanto...