41- Raios e Trovões

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As aulas daquele dia pareciam não importar tanto assim, me sentia mal por não poder dar aquele passo com Heitor, enquanto isso sua mãe que desconfiava de minhas intenções havia prometido dar um jeito, algo que até mesmo para ela parecia incabível, não imaginava uma desculpa que pudesse inventar ao ponto de fazer minha mãe mudar de idéia. Me via em um beco sem saída.

Heitor me encarava durante as aulas, parecia preocupado comigo, mas se atinha a isso, a escola não era um bom lugar para conversar. Assim que o sinal do fim das aulas soa todos disparam na direção da porta, porém ele continua sentado, apenas faço o mesmo até a sala estar vazia, longe dos outros nos levantamos e seguimos pelos corredores em silêncio. Do pátio subimos na direção da casa de Heitor, quando estamos a uma distância considerável da escola ele segura minha mão.

-O que foi?- indaga ele direto.

-Hum, nada.- digo, não queria colocar minha frustração sobre ele, mesmo com a raiva de sua mãe era inevitável ignorar o fato de que meu lado parecia atrasar nossa situação.

-Não minta pra mim, estou preocupado com você, está pensativo demais.- diz sério.

-Ok.- digo curvando os ombros.- Acho que estou nos atrasando, bem, na sua casa podemos ser nós mesmos e na minha, bem, nós nem existimos. Sua mãe pode me odiar, mas ela me conhece.

-Ei, você não está nos atrasando. Sei que é um ritmo diferente de outros casais, mas eu aprecio cada segundo dele, se fosse o caso, eu não me importaria em nunca mais transar com você, ter sua companhia já seria o bastante.- diz ele sorrindo.

-Eu também, mas ainda sim, eu queria poder ser livre para gostar de você lá em casa, assim como em qualquer outro lugar.- afirmo.

-Se essa for sua vontade podemos aproveitar esse jantar para contar para os seus pais, posso estar ao seu lado, talvez ter alguém junto te ajude, minha mãe também pode ser uma moderadora.- diz Heitor, por mais gentil que fosse sua oferta a idéia de me assumir parecia aterrorizante. Conhecia meus pais, mas talvez fosse aquela a melhor opção, suspiro enquanto penso por longos segundos.

-Eu...- travo, uma parte de mim permanecia relutante a aquela mudança, para um homem como meu pai, um pastor, a idéia de ter um filho gay poderia ser algo difícil, envolveria sua carreira. Por outro lado havia vivido toda a minha vida pensando na felicidade dos meus pais, talvez fosse justo pensar na minha pelo menos uma vez.- Eu quero fazer isso.

Assim que digo isso Heitor se aproxima e me beija, de uma forma enérgica e carinhosa.

-Estou orgulhoso de você.- diz com um largo sorriso, lhe devolvo um tímido olhar, com aquela idéia em mente era difícil não me preocupar.

Chegamos na casa de Heitor finalmente, assim que entramos pela porta somos recebidos por uma voz vinda da cozinha.

-Venham almoçar vocês dois, a noite vai ser longa.- diz a mãe de Heitor.

Sigo o garoto até lá, a mulher acabava os últimos toques da refeição.

-Mãe, eu já disse, nós não vamos dormir juntos essa noite, o Gabriel não tem permissão pra isso.- diz ele a repreendendo.

A senhora põe a mão sobre o peito debochadíssima enquanto encara seu filho.

-Querido, eu não perguntei se ele tem permissão, eu disse que iria dar meu jeito e vou dar. E além do mais, que tipo de mãe faz o filho sair com uma chuva dessas?- indaga.

-Mãe, não está chovendo.- retruca Heitor, começava a me preocupar com a saúde mental da mulher a minha frente. Ela simplesmente ignora o filho e põe o dedo próxima a orelha, indicando para que ouvíssemos, segundos depois a estrondo de um trovão explode em nossos ouvidos.

Incrédulo e agora duvidando da minha saúde mental me viro na direção da janela, tímidas gotas de água começam a cair sobre o vidro, logo começando a aumentar.

Seria possível aquilo? Teria eu ignorado o tempo para não perceber aquilo, minha mente em choque tentava explicar aquilo, Heitor não parecia muito diferente de mim.

-Vou repetir uma última vez, vamos almoçar, a noite vai ser longa para vocês.- afirma certa de si.

Faço meu prato tímido, naquele ponto já não era mais capaz de duvidar da mãe de Heitor, nada parecia ser capaz de parar o ódio de uma sogra. Não a via como alguém que soubesse a dança da chuva, era mais provável que ela tivesse ameaçado o sol, haviam muitas opções, porém nenhuma fazia sentido.

A mulher ao terminar primeiro segue para a janela e observa o tempo.

-Ah, a bruxaria.- brinca ela.

Enquanto comíamos a chuva do lado de fora da casa aumentava, depois do almoço seguimos para o quarto de Heitor.

-Sua mãe me dá medo às vezes.- confesso assim que Heitor fecha a porta, ele ri.

-Um dia você se acostuma, ela é uma mulher tempestuosa, só isso.- afirma, acabo rindo com o garoto.

Nesse momento meu telefone toca, Heitor me encara curioso, apanho o aparelho, era minha mãe.

-Alô, mãe?- atendo.

-Oi filho, o tempo está...- começa ela, a ligação estava muito ruim.-... demais... Melhorar... Dormir aí...

Um novo trovão corta o ar.

-Posso dormir aqui?- questiono tentando interpretar suas palavras entrecortadas, o rosto de Heitor se atende ouvindo aquilo, porém antes que consiga uma resposta a ligação cai, o sinal havia acabado.

-É sério isso?- questiona Heitor surpreso.

-Hum, acho que sim.- digo incerto com um um meio sorriso. O garoto vem até mim e me beija de uma forma intensa.

-Sabe o que isso significa?- indaga ele.

-Que a sua mãe me dá medo, é incrível, mas ainda sim me dá medo.

-Hum, também.- pondera ele,- Mas além disso, Gabriel, essa será a nossa noite.


Meu Demônio (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora