Instantes depois de nossa conversa o alarme da escola soa e juntos seguimos na direção da sala.
-Sabe, por um minuto pensei que fosse me chamar de namorado na frente do Jonas.- digo, por mais que agora aquilo fosse engraçado no momento havia ficado bem tenso.
-Vontade não faltou.- afirma estufando o peito, orgulhoso.
-Se fizesse isso podia ir se preparando pra explicar isso pro seu sogro, por que falar isso com ele seria como falar direto no ouvido do meu pai.- digo com um sorriso tenso, Heitor engole em seco.
-Bem, acho melhor deixarmos isso pra outro dia.-afirma encarando um ponto no vazio, porém em seguida sorri travesso.- Num dia em que puder contar todo o resto que já fiz com o filho dele.
Lhe encaro incrédulo enquanto sinto meu rosto queimar. O garoto só podia estar brincando, quem falaria esse tipo de coisa? E pior nem era isso.
-Se ele não morresse nos mataria, certeza.- afirmo quase suando frio com a idéia.
-Jura? Tinha quase de que o velho ficaria todo orgulhoso por saber tudo o que você aguenta.- afirma em um tom sarcástico e brincalhão.
-O velho?- indago rindo.- Isso provavelmente já seria um motivo pro meu pai se sentir ofendido.
-Hum, pelo visto seu pai tem um ego bem inflado.- comenta, relutante acabo assentindo, por mais que lhe considerasse por ser meu pai tinha que admitir, o homem tinha defeitos bem acentuados quando o assunto era seu ego. No fim das contas a mãe de Heitor podia ter alguns problemas também, mas não havia como negar, a única coisa que nos impedia de sermos nós mesmos eram os meus pais. Ao perceber desconforto o homem esbarra em meu ombro de leve.- Ei, não precisa ficar assim cabisbaixo, eu falei tudo isso brincado, não vou falar nada pros seus pais, não é um direito meu. Tudo no seu tempo, a única coisa que vou fazer é estar lá pra te apoiar e te defender se for preciso.
Nos encaramos e sorrimos, queria poder beijá-lo naquele momento, por mais que o lugar nos impedisse.
-Obrigado.- digo da forma mais sincera possível, o homem então afaga minha bochecha com o polegar, o que me deixa encabulado.
Porém nos aproximamos das salas e ali nos afastamos um pouco, tento evitar mas ao passar pela sala de Abigail espio pelas janelas, em seu lugar de costume a garota me encarava, apressado volto meu olhar para frente até finalmente adentrarmos em nossa turma.
Ali pelas duas próximas horas nos afastamos, bem, isso pelo menos fisicamente. Em todo momento possível trocamos olhares e sorrisos, tudo parece bem até o momento em que algo, a algumas cadeiras de distância mais alguém observava, Jonas mantinha os olhos fixos naquela movimentação silenciosa. Meu sangue congela, que conclusões estaria ele tirando? Quão capaz de perceber a verdade seria aquele garoto de coração apertado faço a única ao meu alcance naquele momento, me forço a ignorar o contato visual de Heitor.
Quando o sinal do recreio finalmente toca levanto e sigo na direção do pátio, Heitor sem perder tempo me segue, sabia que havia algo errado.
-O que foi?- quando me alcança já estou próximo da entrada da biblioteca, precisa de um lugar menos movimentado, indaga ele agarrando meu ombro, me viro e antes de começar de começar verifico a localização de Jonas, nem sinal dele.- Eu fiz alguma coisa errada que não gostou?
-Não!- digo apressado, porém antes de explicar encaro Heitor, não sabia se reagiria bem ao que diria, suspiro.- É o Jonas, ele estava nos encarando, estou com medo de que ele tenha percebido que somos... mais do que amigos.
O olhar preocupado de Heitor se torna vermelho e furioso, seus pulsos de apertam com força, sua respiração parecia prestes a ferver soltando fumaça.
-Eu vou acabar com a raça daquele bastardo!- exclama ele partindo na direção do refeitório, porém lhe agarro tentando lhe impedir.
-Não, por favor, não faz isso! Vamos achar outro jeito, se fizer isso vai ser quase uma confirmação e o Jonas só vai ficar com raiva de você.- imploro, minha força era absolutamente incapaz de impedir Heitor, porém o garoto pára e depois de um longo suspiro se volta a mim.
-Tudo bem, se quer assim irei te obedecer, mas se ele fizer algo eu juro que destruo a cara dele.- promete ainda inconformado, seus olhos permanecem queimando vermelhos enquanto deslizavam pelos arredores, estava claro que Heitor ainda procurava por Jonas. Em um breve momento afago os cabelos do garoto que me encara sorridente, o que faz seus olhos finalmente se apagarem.
Quando o sinal anuncia a volta as aulas percebo a tensão do meu parceiro ao voltarmos para a sala e passar pelo espião do meu pai.
Não demora muito para que ele volte a sua missão, porém nesse momento algo estranho acontece.Jonas encara meu namorado, o qual já lhe lançava um olhar furioso, e é ali que as coisas ficam confusas. Os olhos de Jonas brilham em um tom vermelho como os de Heitor haviam feito alguns minutos antes, logo depois eles se apagam e o garoto volta a encarar o quadro, sem se voltar a nós em nenhum outro momento durante o restante das aulas.
Minha cabeça doía tentando entender o que havia acontecido, como Jonas fizera aquilo? Nada se encaixava. Quando as aulas acabam me levanto e sigo até Heitor, enquanto isso o outro garoto apenas se levanta e parte.
-Estranho, ele parou de nos encarar.- digo quando estamos finalmente a sós, deixando de lado o fato de seus olhos vermelhos, não queria comparar os dois.
-Hum...- diz Heitor sutilmente desconfortável.- Talvez ele tenha criado vergonha na cara ou achou que não tínhamos nada e desencanou.
-Pode ser.-digo um pouco mais aliviado, talvez toda aquela preocupação tivesse sido apenas coisa da minha cabeça, mas de qualquer forma o importante era que estava livre de Jonas.
-Vamos então?- convida ele mudando de assunto, assinto aliviado pelo fim daquela manhã.
Dali seguimos pelos corredores até os portões da escola e finalmente o local aonde nos separamos.
-Então...- começo sem jeito, não era bom com despedidas, ainda mais sabendo o que viria logo mais.- Até mais tarde.
-Até.- diz ele com um sorriso travesso.- Vai pra casa e come bastante pra aguentar o pique da tarde e toma um banho que logo logo estarei lá pra te buscar.
-Está bem.- digo sorrindo.
-Vou te levar pra comer.- afirma diabólico.
-Mas é minha vez de pagar o milkshake.- digo brincando, sabia que no fim não haveria nenhum lanche.
-Eu sei, mas isso não muda o fato de que vou de levar pra comer. Vou de levar para o meu quarto...- começa ele safado, mesmo sabendo o que ele diria a seguir o suspensão me faz corar.-... e vou te comer a tarde toda.
E depois disso com uma piscadela e um aceno ele parte, eu fico ali por alguns instantes sem reação até finalmente voltar a mim, precisava ir para casa e preparar algo para Heitor comer... Eu.
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Meu Demônio (Romance Gay)
RomanceGabriel prometeu a si mesmo nunca se apaixonar, o que as pessoas diriam se descobrissem que o filho do pastor é gay? Apenas a idéia de prejudicar seu pai o fazia estremecer. O tímido rapaz passa seus dias focado, deixando sua vida de lado enquanto...