07- A Hora Da Verdade

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Logo depois de ser pego por Heitor o espiando, o professor de geografia chega, seu nome era Leandro.

Mesmo não sendo muito rigoroso sua aula costumava ser um tanto quanto maçante, basicamente tudo o que o homem de meia idade fazia era reclamar, contar histórias aleatórias sobre sua vida e sonhar com sua aposentadoria.

Sua aula que comumente era penosa naquele dia havia se tornado uma provação, estando decidido a seguir o plano de Abigail, toda minha atenção estava voltada a Heitor mas precisava lutar para não ficar o admirando.

Quando a aula finalmente acaba todos na sala comemoram, fosse pela partida de professor ou pela chegada da aula de educação.  Márcio, o responsável pela disciplina surge na porta e sem nem ao menos entrar na sala pede para que todos os alunos sigam para a quadra de esportes.

A maioria dos alunos dispara apressada, Heitor pelo contrário se levanta desanimado já levando consigo o livro que estava lendo anteriormente.

Assim que chego a quadra encontro minha turma já no centro do campo formando um círculo para o alongamento, corro até lá e um tanto sem jeito tomo meu lugar na roda, alguns dos alunos me encaram com certo estranhamento, não os culpava levando em conta que nunca participava da aula. Alguns minutos depois o alongamento termina.

-Muito bem, hoje iremos dar sequência ao trabalho de futsal.- informa, alguns alunos comemoram.- Vou começar com os meninos e depois teremos uma partida com as meninas, ok?

Todos assentem, as garotas correm na direção das arquibancadas e se sentam próximas a Heitor, apreciando ele e dando sorrisos bobos, vendo aquilo sinto algo queimando dentro de mim, não sabia explicar o que era.

-Certo, agora vamos formar dois times, Victor e Gustavo, vocês escolhem desta vez.- diz o professor apontando para os dois rapazes.

Um a um os garotos são selecionados até que apenas eu reste, não podia culpá-los por me excluírem, além de não participar muito eu era um péssimo jogador.

Fico calado, esperando ansioso pelo que aconteceria a seguir, por mais que o plano fosse tentar trazer o Heitor para o jogo não havia nada que pudesse fazer naquele momento. Márcio poderia simplesmente me pôr em um time com um jogador a mais ou me mandar sair.

Seu olhar simplesmente foca em mim ali sobrando.

-Vejam só, veio jogar Gabriel?- questiona, assinto com a cabeça.- Certo, vamos ver.

O nervosismo começava a tomar conta de mim. Os olhos do professor correm pela arquibancada até chegarem em Heitor.

-Ei, rapaz!- chama, Heitor levanta o olhar de seu livro.- Vem jogar, estamos precisando de mais um.

Talvez pudesse ser impressão minha, mas sinto um certo receio quando deixa seu livro e vem em nossa direção.

Seus olhos traziam uma expressão de desaprovação e dúvida, ele passa a mão sobre o curativo em sua bochecha alguns metros antes de chegar, como se conferisse se ainda estava no lugar certo.

Naquele momento todas as minhas expectativas escorriam ralo abaixo, por menos satisfeito que parecesse com a idéia, Heitor estava vindo para participar do jogo, como um hétero comum que não tem receio de ir para o chuveiro com outros homens. Eu estava errado.

Mas quando estamos a poucos passos de distância algo muda, Heitor se curva e põe a mão sobre o estômago como se estivesse sentindo algo.

-Professor, eu não estou me sentindo bem, acho que vou vomitar.

-Está esperando o quê? Corra pro banheiro!- ordena o professor e ele dispara pela quadra.

Naquele momento eu estava em choque, podia ser verdade, mas se não fosse Heitor havia acabado de usar meu plano de fuga, minha mente girava tentando entender se aquilo era real, nesse momento o professor põe a mão em meu ombro.

-Sinto muito, amigo. Acho que não vai ter jogo pra você hoje.- diz.

-Tudo bem, quem sabe na próxima.- digo tentando parecer decepcionado.- Professor, posso ir ver como o Heitor está?

-Ótima idéia, vai lá.- fala assentindo e eu sem perder tempo corro dali.

Mesmo que houvesse cinquenta por cento de chance de Heitor estar realmente passando mal meu coração não parava de palpitar.

Saio da quadro e sigo na direção dos banheiros a sua procura porém o encontro já indo pelo corredor que levava a nossa sala de aula, era quase impossível que ele tivesse passado mal e já havia se recuperado àquele ponto.

Adentro na sala e o encontro arrumando as coisas em sua mochila, ele percebe minha presença e se vira com o olhar espantado que em um movimento de sobrancelhas se feroz, engulo em seco.

-Oi.- digo, tentando quebrar o clima rígido que havia se formado.

-Oi.-responde áspero.

-Eu vim ver como você está.

-Estou bem o suficiente pra me cuidar.- diz.

-Por que está arrumando suas coisas?- questiono.

Heitor me lança um olhar furioso, então joga sua mochila nas costas e vem em minha direção. Só nesse momento percebo que tinha cometido um erro, se ele realmente era gay eu havia invadido seu espaço, antes devia estar acuado e agora estava pronto para atacar. 

Seus passos batem com força no chão como os de um cavalo indomado enquanto se aproxima, recuo assustado até dar de costas no quadro, não tinha saída. Quando pára estamos a centímetros de distância, ele põe sua mão contra a parede bloqueando o caminho da porta.

-E do que isso te interessa?- questiona ácido, sua respiração fervente me faz estremecer, com medo de encarar seus olhos foco em seu curativo.

-Me desculpe, é só que... Eu... Você... Queria saber... - Não conseguia sequer formar uma frase diante dele, não podia falar a verdade, estava a ponto de apanhar.- Quer ir à festa das flores comigo?

Heitor dá um passo para trás, surpreso, talvez tanto quanto  eu.

-O que disse?- questiona.

-Bem, eu perguntei se quer ir a festa das flores comigo, mas pode ser como amigos, é que... Ah, sei lá, você é novo e não conhece muita gente por aqui, então eu pensei que...

Ele abre um sorriso um pouco nervoso mas logo se controla fechando a cara e dá um leve pigarro.

-Não vou em festas...- então se vira e segue na direção da saída, então pára na linha da porta. - ...mas talvez eu dê uma passada.

E com isso ele se vai, me deixando ali, incapaz de me mover.

Meu Demônio (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora