Ainda um pouco desconfortável com a sensação vazia que sentia por ter transado com Heitor tomo o rumo de casa. Era realmente muito estranho ter tido algo tão massivo dentro de si, meu interior parecia sentir falta de algo.
Depois de alguns minutos de caminhada, já próximo ao centro da cidade recebo uma nova mensagem do meu pai exaltado cobrando por uma nova foto da trilha, porém ao avisar que estou retornando ele se aquieta.
As ruas da cidade próximas do meio-dia estavam como eram de costume para um sábado. Muitos turistas começavam a aparecer para desfrutar o clima serrano, passando pelo Tio Torra encontro quatro mesas ocupadas, o que era bem incomum para aquele lugar que costumava ser meu refúgio.
Fim de semana agitado, percebo que talvez tivesse me precipitado prometendo encontrar Heitor no dia seguinte, aonde encontraríamos paz afinal?
Chegando em casa encontro meu pai no sofá resmungando para a TV com o controle na mão, porém ao perceber minha chegada se vira.
-Gabriel, que bom que chegou. Fez uma boa trilha com seu amigo?- questiona aparentemente simpático.
-Hum, fiz sim. É uma atividade bem legal, estava pensando inclusive em fazer mais vezes, é um bom exercício.- digo sem jeito.
-Imagino, estava inclusive vendo as fotos que me mandou.- começa ele, nesse momento meu coração gela, teria ele percebido algo de errado?- A obra de Deus é perfeita, não é mesmo?
-Sim, senhor.- digo tenso, porém feliz pelo rumo que o homem havia seguido.
-Sabe, teve um momento em que você demorou a enviar a foto e cheguei a pensar que estivesse me enganando pra ir na casa daquela bruxa e tivesse pego as fotos na internet. Eu até fui até delas mas não encontrei.- diz ele revelando suas desconfianças, sorrio tentando não demonstrar minha tensão.
-Nossa, o que você acha que tem de tão especial naquela casa?- digo me arriscando para lhe despistar.
-Eu não sei, é você quem deveria me dizer.- começa com um tom serpenteante, lhe encaro sem reação.- Foi você quem ficou com a cara amarrada por uma semana por não poder ir lá.
Meu pai parecia tatear cego em um terreno desconhecido, muito próximo da verdade sem saber ao certo o que tocava. Bem, o que eu tinha na casa de Heitor? Liberdade para ser íntimo com meu homem e uma "sogra" que costumava me odiar quando não decidia gostar de mim, mas aquilo tudo não era uma opção para aquela conversa.
-Eu não fiquei bravo por onde podia ir ou não, fiquei daquele jeito por quase ter perdido um amigo com boa fé suficiente ao ponto enfrentar sua própria realidade pra manter contato.- afirmo sério, o homem sorri.
-E eu admirei sua atitude se quer saber, ele parece o tipo de pessoa que tenta fazer do mundo um lugar melhor, inclusive vejo muito de mim nele. O mundo é daqueles que estão dispostos a lutar pela justiça e pela verdade, é como a Bíblia diz, o justo viverá por fé.- afirma ele.
Estremeço com as palavras do pastor, eu jamais havia visto nada em Heitor que me lembrasse meu pai, eles eram tão opostos. Meu namorado sempre se mostrara tão flexível e gentil, enquanto isso ele parecia se tornar cada vez mais rígido em suas convicções. Percebo a verdade no fundo daquela conversa, meu pai não estava falando de qualquer outro, os elogios eram para ele. Apenas mais um ponto que afastava os dois homens.
-Hum, então tá.- digo desviando do assunto.- Acho que vou subir pra tomar um banho e descansar um pouco, estou com as pernas doendo de tanto andar.
O homem assente, então sigo na direção da escada sendo seguido por seu olhar, depois de uma rápida passada no quarto tomo o rumo do chuveiro, eu não estava exatamente sujo, afinal havia tomado um banho na casa de Heitor, porém qualquer motivo para fugir daquela conversa era bem-vindo, além do fato de que para eles seria estranho se não tivesse feito aquilo.
Um tanto curioso toco meu traseiro, meus dedos escorregam pela entrada sem resistência. Era estranho para mim tocar meu próprio corpo daquela forma, antes de Heitor aquilo era quase impensável, meu conhecimento corporal não ia muito além das habituais masturbações. Ali passo alguns minutos redescobrindo meu corpo antes de finalmente sair em direção ao quarto. Me deito na cama sorridente com o celular na mão, queria contar para Heitor da minha experiência, sobre como conhecia mais dos meus cantos mais escondidos, porém antes de começar a escrever tal mensagem me atenho.
Dentro de mim um interruptor se acende, precisava de um canto escondido para me encontrar com Heitor no dia seguinte, e sabia exatamente quem conhecia esse tipo de lugar, mudo de conversa no celular.
"Abigail, está ocupada?" Envio um tanto receoso, sabia que em um fim de semana como aquele minha amiga poderia já estar com alguém se divertindo.
"Pra você nunca, meu amor" responde ela quase imediatamente."O que manda?"
"Então, eu estava precisando de um favorzinho seu" começo sem jeito.
"Kkk, fale logo, só não me peça pra enterrar um corpo, não sou mulher de pegar em pá, mas se for pra matar alguém pode contar comigo por que aqui é Rihanna na veia ROMPOPOPOM MAN DOWN" responde a garota fazendo um sorriso brotar em meu rosto.
"Não tem a ver com isso não, na verdade eu queria algo um pouco mais íntimo, tipo, teria como me arranjar um lugar pra que eu e o Heitor nos encontrássemos amanhã?" Questiono um pouco envergonhado, a menina do outro lado da linha comemora com vários emojis antes de realmente responder.
"Não diga mas nada, tenho um lugar perfeito pra vocês dois, apenas me encontre amanhã de manhã na biblioteca, prometo que será fabuloso." Afirma ela, assinto, me viro na cama para encarar o teto, agora tudo o que tinha a fazer era deixar nas mãos de Abigail.
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Meu Demônio (Romance Gay)
RomanceGabriel prometeu a si mesmo nunca se apaixonar, o que as pessoas diriam se descobrissem que o filho do pastor é gay? Apenas a idéia de prejudicar seu pai o fazia estremecer. O tímido rapaz passa seus dias focado, deixando sua vida de lado enquanto...