67- O Ego Do Pastor

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Poderia soar contraditório, mas depois de receber a ameaça de que iria apanhar de Heitor sigo para minha casa sorrindo. O garoto havia me levado a sorveteria com o intuito de mudar o meu humor, me fazer esquecer pelo menos por algumas horas o acontecido com Abigail, o que me fizera muito bem.

Agora sozinho me questionava quanto ao meu posicionamento com relação aos fetiches de Heitor, não sabia se tinha estabilidade emocional para levar um tapa na cara sem chorar, talvez tivesse sido induzido pela excitação no momento, mas com sorte se fosse esse o caso pudesse ser levado por ele na hora de apanhar.

Estou a poucos passos da entrada de casa quando a porta se abre e dali meu pai surge, o homem de feições rígidas demora alguns segundos até perceber minha presença, segundos extremamente desconfortáveis, ao me ver seu rosto sério se suaviza a um tom mais amigável, lhe dou um breve aceno.

-Filho, já está voltando?- indaga curioso.

-Hum, pois é. Hoje tínhamos poucos exercícios para fazer e como é domingo não nos prolongamos demais, pra podermos aproveitar um pouco o dia, sabe?- digo apressado, um tanto nervoso com a sua presença, o homem assente com a cabeça, com a confirmação da primeira parte relaxo um pouco.- Na verdade inclusive saímos pra tomar um sorvete, eu não tinha dinheiro mas o Heitor pagou pra mim.

O rosto do homem imediatamente volta ao seu típico olhar tenso e acusador, me fitando desapontado.

-Trate de pagar esse sorvete ao garoto, meu filho sendo bancado por um varão, está parecendo um boiola.- afirma amargo, meu coração se acelera com sua frase, um misto de medo e raiva, estaria ele desconfiando de algo?

-Eu... Eu vou pagar, não precisa ficar assim, ele só pagou por uma questão de amizade e também por que não tinha levado dinheiro, meu plano era estudar e voltar pra casa, eu disse pra ele que não tinha dinheiro, aí o Heitor falou que estava tudo bem e que amanhã eu pagava por nós dois.

-Hum...- murmura o homem me observando,- devia começar a levar algum dinheiro junto quando sair então, você já é um homem Gabriel, precisa ser mais responsável.

-Não precisa achar que estou namorando com um homem só por que ele me pagou um sorvete.- afirmo calmamente enquanto dentro de mim, minha alma ria em plenos pulmões. O gesto de Heitor em me pagar o sorvete fôra genuíno, tanto quanto o meu namoro com ele e transa que havíamos tido antes, a única coisa que meu pai não sabia eram os lugares aonde havia colocado a boca.

-Tudo bem, me desculpe, acho que acabei me deixando levar pelo seu amigo ser filho daquela mulher.- diz ele quase cuspindo a última palavra.

-Pai, os filhos não são obrigados a pensar como os pais.- digo indignado, porém em seguida tento me retratar.- O Heitor por exemplo, foi no nosso culto.

-É verdade,- diz assimilando a idéia.- preciso me lembrar mais disso.

- Além disso, me proibiram de ir na casa do Heitor por conta da mãe dele, sendo que quando estamos lá passamos o tempo quase todo no quarto dele e quase nunca vemos ela.- digo, havia ganhado terreno e sabia que precisava ousar se quisesse voltar a frequentar a casa de Heitor sem mentir, e logo, sem gerar suspeitas.

-E aonde essa vag... mulher fica?- questiona visivelmente irritado por estarmos tocando no assunto.

-Na cozinha, ou no quintal, não sei ao certo.- respondo tentando manter a calma depois do que ele quase dissera.

-Hum, na cozinha... Pelo menos sabe o lugar dela.- diz ele rindo, respiro fundo tentando me controlar.

-Então, posso voltar a ir na casa do Heitor?- indago, ele parece pensar alguns segundos antes de abrir um maléfico sorriso.

-Pode, se me trouxer uma foto dela na cozinha, vou usá-la de troféu.- afirma repugnante e cheio de presunção, permaneço calado diante o seu pedido.- Isso seria muito bom, mas já me prolonguei demais, preciso ir.

-Aonde vai?- indago curioso, meu pai não costumava sair aos domingos.

-Vou até a delegacia.- começa, porém nervoso logo passa a se explicar.- Falar da palavra com alguns dos detentos.

Lhe encaro sério, estava irritado com o homem e tudo o que queria era acertá-lo de alguma forma, logo encontro algo estranho.

-Vai pregar sem a Bíblia?- indago erguendo a sobrancelha, o rosto do homem fica vermelho.

-Meu Deus, quase ia me esquecendo.- diz voltando para dentro de casa, entro logo atrás dele. O homem segue resmungando escada acima até seu quarto, enquanto isso vou para o meu.

Ali me deito na cama, encarando o teto até ouvir a notificação do meu celular, me arrasto pelo colchão até a lateral apanhando o aparelho.

A mensagem mais recente era de Heitor, porém antes dessa haviam outras, uma dúzia delas, todas de Abigail.

Abro a conversa sem ficar em seu conteúdo, apenas para bloquear a garota, não sabia se estava sendo duro demais, mas sabia que aquela não era a hora de discutir o assunto. Frustrado apenas fecho os olhos e tento afastar aquilo tudo da minha mente, aquele dia estava sendo uma grande montanha russa cheia de altos e baixos, tudo o que queria era que o dia de amanhã chegasse, torcendo para esse fosse melhor.

Meu Demônio (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora