21- Demônios De Cauda Exposta - Parte I

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Passei o restante do meu domingo basicamente conversando com Abigail, confesso que secretamente esperava por uma mensagem de Heitor mas sabia que aquilo era quase impossível de acontecer.

Por mais que confiasse em Abigail não menciono o que havia ocorrido, pois não me sentiria a vontade mandando os prints que ela certamente iria pedir.

Me despeço dela antes do jantar e desço até a sala de jantar, dessa vez meus dois pais estavam a mesa. Apanho um prato e começo a me servir, feito isso o deixo de lado e faço uma breve oração.

Finalizando busco um garfo e me ponho a comer, de forma silenciosa, imaginava que meus pais estariam afim de conversar pela experiência do almoço, porém descubro estar errado no momento em que meu pai abre a boca.

-Gabriel, você sabe muito bem que eu não gosto de te ver andando por aí com aquela garota.- diz ele severo. Aquilo me acerta como uma flecha, eu sabia o que estava ouvindo, era mais do que uma advertência, vindo do meu pai aquilo era uma ordem.

-É uma pena.- disparo, imediatamente percebo o quão rude tal frase havia soado.

-Como é?- questiona me encarando, seus olhos se curvam irritados. Eu sabia que deveria recuar, porém minha mente não cede.

-Eu disse que é uma pena, ela é basicamente a única amiga que eu tenho aqui. As pessoas da minha idade não estão ansiosas para fazer amizade com o filho do pastor, com o filho do prefeito ou de alguém rico talvez, mas não comigo, assim como pessoas esperam coisas de mim e você espera coisas de mim por ser quem eu sou, existem aqueles que me julgam por isso, Abigail me aceita bem sem se importar de onde venho, me desculpe, mas não vou abrir mão da amizade dela.- finalizo assistindo meu pai boquiaberto, até mesmo eu estava surpreso com o que havia acabado de fazer, suas sobrancelhas aos poucos voltam ao seu lugar suavizando a expressão em seu rosto.

-Eu... Eu...- ele gagueja tentando formar um argumento.- Bem, sinto muito em saber que as pessoas te vejam dessa forma. Ao meu ver deveriam inclusive te tratar com certa distinção por saberem de sua origem, enfim, é um mundo perdido que precisa ser curado.

Ouvia cada palavra que saía de sua boca atentamente, esperando seu recuo.

-Eu não espero de ninguém um tratamento especial por isso, gostaria de ser tratado normalmente como qualquer outro, e acho que o mínimo a fazer é aproximar de mim quem faz isso.- avanço, meu pai suspira profundamente, enquanto isso minha mãe assiste a tudo quase segurando a respiração.

-Sendo assim irei lhe permitir manter sua amizade com essa garota, pelo menos por hora.- diz ele desconfortável, de qualquer forma suas palavras ainda pareciam estranhas aos meus ouvidos, permitir? Essa não era uma escolha dele.- Mas de qualquer forma, peço que tente fazer novas amizades, com garotos inclusive, isso compensaria um pouco o fato de estar andando com uma put... Uma jovem de reputação duvidosa. Pessoas podem pensar que vocês namoram, isso soaria muito mal para certos membros de nossa igreja.

Ele falava em me enturmar como se aquilo fosse fácil, sendo que havia acabado de falar da minha dificuldade em fazer amigos, um amigo homem... Bem, eu havia me aproximado de Heitor, não como amigo mas... Uma idéia surge em minha mente.

-Tudo bem pai, amanhã quando for pra escola vou tentar fazer um amigo, como o senhor quer.- por dentro algo em mim sorria, travesso. Eu tinha alguém em mente, a única coisa que meu pai não sabia era que aquele seria o tipo de amigo que beijaria, ou até mais.

-Muito bem.- assente ele. Meu pai talvez tivesse cometido sou pior erro, havia revelado seus demônios contra mim, deixado claro seus desejos mesquinhos e preconceituosos sobre minha amiga, talvez a única coisa com que ele não contasse fosse como aquilo poderia ser vantajoso para mim, no fundo tudo o que havia me dado era uma brecha para que eu, assim como ele, pudesse me relevar. Naquele momento éramos dois demônios com a causa exposta.

Depois daquela conversa tudo se torna silencioso, porém o clima já não era tão pesado, provavelmente por que todos os envolvidos havia saído se considerando vencedores. Assim que acabo o jantar, me despeço de meus pais e vou para a cama, me deito e deixo os pensamentos se esavaírem enquanto o sono me envolve, amanhã seria um novo e longo dia.

Meu Demônio (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora